Casal de Amazonas e Pernambuco vende pratinhos em Fortaleza: 'Tiramos nosso sustento daqui'

Juntos há mais de 30 anos, Andréa e Francisco se dedicam à comercialização de comidas típicas

Escrito por Luciano Rodrigues , luciano.rodrigues@svm.com.br
Casal amazonense que vende pratinho
Legenda: Amazonense e pernambucano, Andréa Fortuna e Francisco Câmara estão juntos há 30 anos e vendem pratinhos em Fortaleza
Foto: Ismael Soares

Em 1993, Andréa Fortuna veio de Manaus, no Amazonas, para Fortaleza e conheceu Francisco Câmara, natural de Igarassu, na Região Metropolitana de Recife (PE). Começava ali um casamento que dura mais de 30 anos, e hoje os dois tiram o sustento com a venda do tradicional pratinho cearense na rua Monsenhor Salazar, no São João do Tauape.

Ao longo desses anos, o casal já fez de tudo um pouco para sobreviver, e desde o fim de 2022 investe no segmento de pratinhos. O negócio funciona de forma familiar: Francisco prepara as comidas e ajuda nas vendas ao lado de Andréa. Também colaboram netos, filhos, genros, noras e demais parentes.

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"Montar a barraca na frente de casa é muita praticidade e comodidade, e devido também para alugar um espaço são muitos encargos. A gente optou por fazer aqui porque é mais simples, e é tudo muito bem feito. Tiramos nosso sustento só daqui", explica Andréa.

O negócio inclui os pratinhos tradicionais juninos, com vatapá de camarão, frango, creme de galinha, arroz e baião, mas também contemplam a versão gourmet. Isso inclui preparos que não são necessariamente típicos de São João, como bife à parmegiana, peixe à delícia e lasanha à bolonhesa.

"O bom de tudo é que os clientes viraram amigos, aí começam a vir, tivemos que botar mesinhas e melhorou muito a nossa vida", resume Andréa Fortuna.

Aberto a partir das 18 horas todos os dias, a média de pratinhos vendidos diariamente é de 70 unidades, mas o número aumenta consideravelmente no fim de semana. Os preços variam de R$ 13 (uma proteína) a R$ 15 (duas proteínas). Também são comercializados doces e outras iguarias, como salgados, pizzas e esfirras.

A expectativa é de que as vendas melhorem ainda mais no período junino, e novas mudanças no cardápio não são descartadas conforme a demanda for surgindo. Com mesas instaladas na frente de casa e com o apoio da família, Andréa considera que o negócio da família Fortuna deve prosperar ainda mais.

O pratinho nos oferece a oportunidade de diversificar a comida. Penso em uma coisa, vou lá e faço, testo, faço experiências, e é a vida, temos que nos virar.
Andréa Fortuna
Proprietária da Pizzaria e Esfiharia Fortuna

No auge há 25 anos

O segmento de pratinhos se consolidou em Fortaleza pela praticidade da comida de rua tipicamente cearense. Um dos pioneiros no negócio foi o casal Eva e Gerson Araújo, que se instalaram na Cidade 2000 desde 1999 e cresceram o negócio ao redor da praça.

Com uma barraca do Eva Comidas Típicas instalada no meio da praça, reconhecida pela diversidade de alimentos, como yakisobas e hambúrgueres, Gerson hoje toca o empreendimento iniciado pela esposa.

Eva Comidas Típicas na Cidade 2000
Legenda: Eva Comidas Típicas, na Cidade 2000, é ponto tradicional para consumir o pratinho em Fortaleza
Foto: Ismael Soares

"Somos um dos pioneiros a vender pratinho em Fortaleza. Quem ficava era a minha esposa (Eva). O sustento da família vem daqui. Toda a Cidade 2000 tem pratinho, de comida de rua, que é um dos mais conhecidos em Fortaleza".

Em um dia de menor movimento, Gerson não para. Os clientes chegam a todo instante em busca do pratinho, que inclui como opções arroz, baião, calabresa, carne do sol, paçoca, vatapás de camarão e frango, creme de frango, legumes, estrogonofe e frango xadrez à moda cearense e lasanha à bolonhesa.

O pratinho começou e levantou o comércio nos arredores. As pessoas procuram nossos pratinhos porque já faz muito tempo e somos conhecidos.
Gerson Araújo
Proprietário do Eva Comidas Típicas

O local abre todos os dias pouco antes das 18 horas, e é reconhecido pela qualidade do serviço. Uma das consumidoras é a nutricionista cearense Nágila Teixeira. No dia da entrevista, na última terça-feira (11), ela havia acabado de chegar de São Paulo, onde mora, e foi direto para a Cidade 2000 comer o pratinho. 

"O pratinho é uma coisa totalmente cearense, e cresci sempre tendo essa cultura, principalmente no mês junino, vai pegando as nossas origens e tradições. A paçoca que é uma coisa muito nossa, porque a paçoca para eles é doce. Quando digo que paçoca é salgada, eles acham estranho. A questão do pratinho é uma questão muito afetiva também. Quando consigo encontrar essa iguaria que é tão nossa, que é tão cearense, me traz muito aconchego", expõe.

No Eva Comidas Típicas, os preços variam entre R$ 12 (pequeno) e R$ 18 (grande) o pratinho. Gerson afirma que vende diariamente entre 80 e 100 unidades. O consumidor escolhe entre o arroz ou baião e ainda pode incluir outras quatro opções. Para Nágila, além do valor justo pela diversidade e qualidade, a comida típica ainda traz uma importância culinária que movimenta a economia.

Nágila Teixeira nutricionista cearense
Legenda: Nágila Teixeira, nutricionista cearense, chegou no aeroporto e foi direto para a Cidade 2000 comer pratinho
Foto: Ismael Saores

"Onde se colocar vai ter mercado, são tipos de pratos muito fáceis de encontrar e fazer, mas sempre tem um que faz destaque, tem um tempero a mais. Você pode ter o melhor tempero, mas se você não souber chamar a clientela, você não tem muito mercado. O cearense tem esse destaque, sabe cativar e conquistar. O preço está muito justo e acessível, é um mercado que não quebra. Se você colocar, independente do bairro chique ou do bairro menos favorecido, vai ter mercado", define.

Em destaque na periferia

Nas margens da linha férrea do VLT Parangaba-Mucuripe, no bairro Pio XII, o tradicional Pratinho da Castanhola já é ponto obrigatório para consumir a comida típica. Há 15 anos, o estabelecimento é reconhecido pela variedade e pelo preço altamente acessível.

Quem prepara as comidas é a mãe de Geiciane Rodrigues, que administra o negócio atualmente. O cliente pode escolher duas opções de proteínas, que variam entre vatapás de frango e camarão, além de creme de galinha, panqueca de carne, lasanha à bolonhesa, frango xadrez, carne assada e cozida, entre outras.

"Começamos só com o normal: arroz, creme, vatapá e estrogonofe. Foi crescendo bastante até chegar nas opções que têm hoje. Os preços variam entre R$ 11 (pequeno) e R$ 14 (grande)", destaca a proprietária do negócio.

Geiciane Rodrigues Pratinho da Castanhola
Legenda: Geiciane Rodrigues, dona do Pratinho da Castanhola, vende a comida típica há 15 anos
Foto: Ismael Soares

Geiciane afirma que, em média, a venda diária de pratinhos chega a 400 unidades em dias de movimento mais tranquilo, podendo chegar a 700 em época de maior movimento, como "fins de semana e final de mês, é melhor, porque as pessoas recebem dinheiro".

"É muito bom ter isso. Todo mundo que mora por ali vai e compra. Vendemos também canja, bolo, brownie, sucos", completa.

Moradora do bairro, a auxiliar de serviços gerais Germana Pereira é cliente frequente do Pratinho da Castanhola. Ela elogia que Geiciane e a mãe se esforçam para tratar bem os fregueses e produzirem pratinhos de qualidade.

"Tem variedade de opções, de misturas, a comida é muito boa e o preço excelente. Sempre que posso, estou comprando pratinho com ela. Ter emprego está difícil, e uma renda extra é muito bom. Faz muito tempo que está por aqui e é sempre muito lotado", pondera.

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