Construção da usina de dessalinização exigirá conjunto de ações, incluindo remoção de 120 famílias
Empreendimento foi alterado de lugar pela proximidade com estruturas de cabos submarinos
A mudança de local da Dessal do Ceará, usina de dessalinização a ser construída na Praia do Futuro, em Fortaleza, exigirá alterações no terreno. Conforme o novo projeto, o empreendimento será construído às margens do mar e exigirá a remoção de 120 famílias que atualmente moram onde será o futuro equipamento. A informação sobre a nova área de construção foi divulgada em primeira mão pelo Diário do Nordeste e confirmada por fontes do setor de telecomunicações.
Veja também
O Diário do Nordeste também apurou com exclusividade os detalhes da reunião na tarde desta sexta-feira (14). A proposta foi apresentada no Palácio do Planalto, em Brasília, com a presença do governador do Ceará, Elmano de Freitas (PT), do presidente da Companhia de Água e Esgoto do Ceará (Cagece), Neuri Freitas, do conselheiro da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), Vicente Aquino e representantes do setor de telecomunicações, além de outras autoridades.
O novo local escolhido para a usina tem oito hectares e ficará ao lado de uma das sedes da Petrobras Transporte S.A. (Transpetro) e do gasoduto da Petrobras que chega até ao equipamento petrolífero.
No perímetro do novo local da Dessal, há ainda 120 imóveis ocupados por famílias. A Areninha Praia do Futuro I também está localizada dentro da área do projeto atualizado da dessalinizadora.
A apresentação foi feita por Neuri Freitas, com participação do governador Elmano de Freitas durante a fala. O novo projeto fica a 1 km de distância do antigo terreno onde seria construída a Dessal do Ceará, que agora dará lugar a um Centro Tecnológico.
Nas chamadas "ações necessárias" para a instalação da usina, o presidente da Cagece elencou, conforme informações a que o Diário do Nordeste teve acesso:
- Cessão da área pela Superintendência do Patrimônio da União no Ceará (SPU/CE);
- Manifestação da Procuradoria da República no Estado do Ceará (MPF/CE);
- Reassentamento de cerca de 120 famílias;
- Realocação e revitalização da areninha;
- Autorização da Marinha do Brasil;
- Adequação da Licença Prévia (LP) e da Licença de Instalação (LI);
- Quatro meses para a instalação dos projetos, tais como geotecnia, topografia, plantas e layout.
Obras devem começar até o início de 2025, diz Elmano
De acordo com o governador Elmano de Freitas, em entrevista após a reunião, o novo local da Dessal do Ceará será em frente onde já ficariam instaladas as estruturas de captação da água do mar, que foi mantida no mesmo lugar: entre o gasoduto da Petrobras e os cabos de fibra óptica.
"A Dessal será em frente onde será o ponto de captação da água. Continua a captação da água, mas tirou qualquer dúvida que poderia ter impacto nos cabos de fibra óptica", explica o mandatário cearense.
Ainda segundo Elmano de Freitas, a reunião em Brasília teve um intuito mais conciliador entre as empresas de telecomunicações instaladas no Hub Tecnológico com o Governo do Estado. A expectativa é de que as obras sejam iniciadas entre o fim de 2024 e o começo de 2025.
Encontramos um acordo que concilia termos a construção da usina de dessalinização na Praia do Futuro ao mesmo tempo com o investimento das empresas que vão continuar no Ceará das empresas que têm cabos de fibra óptica. Vamos buscar ter uma parceria com as empresas das áreas de tecnologia. Saímos muito animados e temos um entendimento preliminar de que vamos ter a manutenção de todos os investimentos das empresas de tecnologia da informação.
Em outubro de 2023, quando o debate para a transferência de local da usina estava mais intenso, Neuri Freitas chegou a afirmar que a mudança de lugar poderia impactar em cifras bilionárias para os cofres do Governo do Estado.
O investimento total do projeto, segundo o presidente da Cagece, é de R$ 518,6 milhões. Não foram revelados valores atualizados quanto à mudança de local da Dessal do Ceará, nem quando a obra será concluída.
A reportagem questionou o Governo do Ceará sobre questões relativas ao novo projeto da usina de dessalinização. Quando houver retorno, esse texto será atualizado.
O presidente-executivo da Conexis Brasil Digital, Marcos Ferrari, comemorou a mudança de local da Dessal do Ceará. Para ele, a solução encontrada foi "equilibrada" e considera os interesses das empresas de telecomunicação e a segurança hídrica de Fortaleza.
"Vai atender tanto ao Governo quanto à população do Ceará e às empresas de telefonia. Estamos felizes com esse resultado, e esperamos que tenhamos nos próximos dias o andamento desse novo projeto que possa garantir internet para todos e água para a população de Fortaleza", expõe.
Luiz Henrique Barbosa, presidente-executivo da TelComp, empresa que representa companhias de telecomunicações instaladas no Hub Tecnológico de Fortaleza, chamou de "decisão sábia" do governador o novo espaço para a dessalinizadora, e ressaltou que os 17 cabos submarinos devem captar ainda mais investimentos.
"A gente está satisfeito com o que foi apresentado. Conseguimos achar um termo no qual o interesse do povo do Ceará sai atendido no sentido de ter, em um futuro próximo, a segurança hídrica, que é tão sonhada no Estado, e a proteção da infraestrutura de telecomunicações que existe hoje na Praia do Futuro, que é robusta", comenta.
Tem tudo para ter novos investimentos, já que a gente está passando por uma transformação importante, que tem a ver com datas centers para inteligência artificial. O Ceará está muito bem posicionado por ter energia eólica, solar e hidrogênio verde. Esse acordo leva um benefício importante para todo o povo cearense e do Brasil.
Entenda a mudança
Até o desfecho atual, o início do projeto da Dessal do Ceará foi marcado por polêmicas. A usina ficaria em uma área da Praia do Futuro localizada a poucos metros dos cabos submarinos que compõem o Hub Tecnológico de Fortaleza, que transformaram a Capital na segunda mais conectada do mundo por meio das estruturas de fibra óptica, responsável, segundo a Anatel, por mais de 90% do processamento de dados de toda a América do Sul.
Segundo as empresas de telefonia, a captação da água do mar seria realizada muito perto dos cabos no projeto anterior, o que seria um risco para a transmissão de dados. Além disso, o empreendimento causaria desequilíbrio ambiental com a devolução do líquido excedente da dessalinização para o mar, altamente concentrado em sal.
A Cagece então fez uma alteração no projeto inicial para atender à solicitação das operadoras e deixar a captação da água para dessalinização a 500 metros dos cabeamentos. Contudo, as teles não ficaram satisfeitas com a mudança.
Agora, a nova tubulação que vai captar água do mar para dessalinizar e converter em água própria para consumo humano ficará a 567 metros das estruturas dos cabos submarinos e a própria estrutura do equipamento também estará mais distante, o que é considerado seguro por fontes do mercado de tecnologia de fibra óptica para que não haja interferência nos dados. O novo local fica próximo do gasoduto da Petrobras.