Após ataques no Ceará, 5 provedores de internet encerram operações e outros 10 estão em processo para fechar

Cenário traz impacto ao setor da banda larga nacional e pode aumentar custos para clientes

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Redação producaodiario@svm.com.br
(Atualizado às 11:08, em 22 de Março de 2025)
Veículos de empresas provedoras de internet foram incendiados, em Fortaleza e Caucaia, nos meses de fevereiro e março deste ano
Legenda: Veículos de empresas provedoras de internet foram incendiados, em Fortaleza e Caucaia, nos meses de fevereiro e março deste ano
Foto: Reprodução

Pelo menos cinco provedoras de internet no Ceará precisaram encerrar suas operações devido aos ataques realizados por grupos criminosos às empresas. A informação é da Associação dos Provedores Do Ceará (Uniproce). Os nomes não foram divulgados por questões de segurança, segundo a entidade.

Ao Diário do Nordeste, em nota, a Brisanet reforçou que segue com as operações ativas em toda a região Nordeste. A empresa afirma que a circulação da imagem de um carro da marca atingido tem "gerado interpretações equivocadas". "Reconhecemos os desafios de segurança enfrentados pelo setor de telecomunicações na Grande Fortaleza, mas reforçamos nosso compromisso com a continuidade dos serviços e com a segurança das nossas equipes e clientes", diz a Brisanet em nota de esclarecimento.

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Quem se manifestou publicamente também foi a GPX Telecom, que atuava há nove anos em Caucaia, na Região Metropolitana de Fortaleza. Segundo publicado nas redes sociais oficiais da GPX, as estruturas da empresa foram destruídas.

“Infelizmente, em menos de 20 minutos, atos de vandalismo devastaram tudo o que construímos com tanto esforço e comprometimento, levando-nos a tomar a difícil decisão de encerrar nossas operações”, disse.

A GPX Telecom afirmou ainda que preza pela legalidade e qualidade dos serviços. “Esperamos por justiça diante dessa situação alarmante que afeta a todos nós”, aponta a nota.

O Diário do Nordeste procurou a GPX Telecom para obter mais detalhes sobre o fechamento, mas não obteve retorno. 

Outras dez empresas prestadoras de serviços de internet e telefonia estão em processo de fechamento, segundo a Uniproce. Os ataques de grupos criminosos começaram desde pelo menos fevereiro.

Entre os episódios, está a queima de carros e lojas das prestadoras e ameaça a funcionários. A Polícia Federal foi acionada para apoiar as investigações. 

A Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) informou que não recebeu formalmente denúncias sobre este problema nem petições relacionadas ao tema. A agência ressaltou que o problema se trata de uma questão de segurança pública e não regulatória.

O Ceará tem 1116 prestadores de banda larga autorizados. 596 destes têm menos de cinco mil assinantes e utilizam fibra. 

CONTROLE DO SERVIÇO DE TELECOMUNICAÇÕES

O objetivo das facções é controlar o serviço de telecomunicações em algumas regiões. Para isso, eles ameaçam provedores de internet e cobram até 60% do faturamento das empresas para não interromper as operações.

Membros do Comando Vermelho chegam a prometer aos empresários que, se um acordo for fechado, a facção pode ordenar que determinada região contrate apenas aquela empresa para fornecer internet.

IMPACTO NACIONAL AO SETOR DE TELECOMUNICAÇÕES

O fechamento de pequenas provedoras tem um impacto nacional para o setor, já que 60% da banda larga fixa no Brasil é operacionalizada por prestadores de pequeno porte, segundo Cristiane Sanches, Conselheira da Associação Brasileira de Provedores de Internet e Telecomunicações (Abrint).

A associação tem registro de seis empresas impactadas diretamente pelos ataques no Ceará, entre elas a GPX. Em Caucaia e São Gonçalo do Amarante, prestadoras precisaram interromper serviços em bairros que foram 'completamente tomados' pelos grupos criminosos. 

“Há um impacto nacional. Muitas empesas que operam em várias cidades e localidades estão presentes em algum lugar que pode estar relacionado a facções. Há uma sensação de insegurança muito grande”, aponta Cristiane Sanches.

Para as que foram vítimas de atos criminosos, a perda de equipamentos e o não retorno de investimentos pode ser insustentável financeiramente. 

“Aquelas que estão em localidades tomadas pelas facções tem uma chance de reabrirem as portas muito difícil. Exceto se houver uma reação muito energética do poder público e das forças de segurança”, avalia a conselheira da Abrint.

A situação também vitimiza os clientes das regiões em que as prestadoras são atacadas, já que há limitação ou suspensão dos serviços e até coerção para contratação de determinada empresa.

Segundo Thiago Ayub, pesquisador da área de tecnologia da informação, a situação limita a competição do mercado, aumentando os custos e diminuindo a qualidade dos serviços para os clientes.

O especialista comenta que o Brasil é o país com mais provedores de internet do mundo, o que garante uma qualidade superior a de país como Reino Unido, Alemanha e Finlândia.

“Esse mercado até então próspero criou algo que os brasileiros não estão acostumados: deflação. Não só há anos o valor médio da internet fixa não muda (em torno de R$ 100 mensais) como anualmente os provedores oferecem planos maiores pelo mesmo preço. Internet é uma das poucas contas fixas que não sofre inflação”, aponta.

 

 

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