Com Europa em retração e boom da América do Sul, qual o cenário do turismo internacional no Ceará?
Estado tem recebido mais chilenos e argentinos do que de norte-americanos e europeus
O Ceará vive um momento de contrastes no turismo internacional. Enquanto o número de visitantes norte-americanos e europeus recuou, o fluxo de sul-americanos registrou forte crescimento.
As chegadas do Chile avançaram 50,6% e as da Argentina, 37,6%. O Uruguai também apresentou um aumento de 24,8%. Em contrapartida, houve queda entre os principais emissores europeus: Estados Unidos (-8,6%), Alemanha (-3,1%), Reino Unido (-5,6%) e Espanha (-2,1%).
Os dados constam no Plano Brasis, apresentado nessa sexta-feira (24) pela Agência Brasileira de Promoção Internacional do Turismo (Embratur), em parceria com o Sebrae, durante a Brazil Travel Market (BTM), realizada no Centro de Eventos do Ceará, em Fortaleza.
Ao todo, em 2024, o Ceará registrou 96.882 entradas de turistas internacionais, um volume próximo, mas ainda inferior ao período pré-pandêmico de 2019. Até setembro de 2025, o Estado já havia recebido quase 80 mil visitantes do Exterior.
O número representa um crescimento de 28,3% em relação ao mesmo período do ano anterior, segundo dados da Polícia Federal e da Embratur.
O que explica o crescimento de sul-americanos
A Argentina, em particular, já havia apresentado um crescimento expressivo em 2024, com variação de 234,46% nas chegadas em relação ao ano anterior.
Vale lembrar que tanto o Chile quanto a Argentina possuem voos diretos para o Ceará, e o Uruguai teve rota anunciada recentemente para 2026.
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Conforme o diretor de Marketing Internacional, Negócios e Sustentabilidade da Embratur, Bruno Reis, o aumento do público da América do Sul se deve, em parte, à posição geográfica.
Ele também destaca uma nova estratégia, que envolve não apenas a ampliação de voos, mas também o desenvolvimento de produtos que antes eram mais consumidos em outros destinos fora do Brasil, como os resorts.
Reis conta que, recentemente, durante a feira FIT Argentina, a Embratur lançou uma campanha focada em resorts all inclusive, na qual o Nordeste e o Ceará foram contemplados.
“Fizemos isso com o objetivo de competir com destinos caribenhos. Hoje, muitos turistas argentinos, chilenos, paraguaios e uruguaios costumam comprar pacotes de resorts na República Dominicana, no Caribe, e não no Nordeste. Nossa estratégia foi apresentar o Nordeste também como uma opção de resorts”, explica.
O especialista destaca ainda que, embora esses quatro países sul-americanos já estejam consolidados no Plano Brasil para o Ceará, ele enxerga grande potencial, principalmente no mercado chileno, para expansão.
Buscando atrair mais europeus e norte-americanos
Durante o evento, não foram detalhadas as razões para a queda no número de visitantes vindos da Europa e da América do Norte. A Embratur, contudo, reforçou que esses mercados seguem considerados estratégicos, dada a relevância econômica dos turistas dessas regiões para o Brasil.
Segundo representantes da entidade, o Ceará tem buscado mitigar essa retração por meio de novas investidas em conectividade aérea. Atualmente, o Estado mantém voos regulares a partir de sete países: Portugal, França, Itália, Estados Unidos, Argentina e Chile.
Nesse contexto, a Embratur desenvolveu um plano com quatro níveis de estratégia voltado para diferentes mercados: consolidados, essenciais, de crescimento e de oportunidades. A seguir, veja a lista de países identificados para o Ceará em cada um desses níveis.
- Mercados consolidados: Uruguai, Paraguai, Argentina e Chile
- Mercados essenciais: Estados Unidos, Reino Unido, França, Espanha, Portugal e Alemanha
- Mercados de crescimento: Canadá, Colômbia, México, Itália, Suíça e Países Baixos
- Mercados de oportunidades: China, Austrália e Bélgica.
Espanha é país-alvo para o turismo local
O voo para Madri (Espanha), operado pela Ibéria, é considerado estratégico por ampliar o alcance do Ceará no mercado europeu, facilitando conexões com outros países do continente.
Segundo Bruno Reis, diretor de Marketing Internacional, Negócios e Sustentabilidade da Embratur, a nova rota pode impulsionar o fluxo de turistas de diferentes nacionalidades.
“Estamos otimistas porque o voo não traz apenas o passageiro espanhol, mas também viajantes de países como Holanda e Alemanha, que podem utilizar Madri como ponto de conexão para chegar com mais facilidade”, afirmou.
Durante a apresentação, Reis também detalhou o plano de ação da Embratur para a promoção internacional do Ceará. O foco, segundo ele, é tornar as estratégias de marketing mais direcionadas, levando em conta as particularidades e desafios regionais.
A proposta é que o Estado avance além da divulgação genérica e busque inserir seus produtos turísticos de forma estruturada nas plataformas comerciais de operadores internacionais.
“Não podemos esperar as feiras acontecerem para apresentar o produto. Sem relações comerciais estabelecidas e sem colocar o destino nas prateleiras de venda, não veremos o número de turistas crescer”, avaliou.
Ele ressaltou ainda a necessidade de identificar nichos específicos e demandas reprimidas em mercados estratégicos. No caso da Espanha, que passa a ganhar destaque com os voos da Ibéria, o diretor defendeu maior articulação entre o trade turístico local e os agentes internacionais.
“Sabemos que o turista busca informações sobre o Cumbuco, por exemplo, mas muitas vezes não encontra ofertas de pacotes disponíveis. Esse mapeamento precisa ser feito e trabalhado com os agentes de venda. Apenas conversar em feiras não é suficiente, é preciso garantir que o destino esteja disponível para compra”, concluiu.