Cidade cearense ocupa o 1º lugar do Brasil em empregos na economia criativa; veja ranking

Levantamento mostra janela de oportunidade no setor, mas ainda há muitos desafios.

Escrito por
Lucas Monteiro lucas.morais@svm.com.br
Imagem aérea do município do Eusébio.
Legenda: O estudo analisou 418 cidades brasileiras com mais de 80 mil habitantes, responsáveis por 60% da população nacional.
Foto: Davi Rocha.

O município de Eusébio, na Região Metropolitana de Fortaleza, alcançou o primeiro lugar no ranking nacional de geração de empregos na economia criativa, com nota 100, segundo o Ranking de Competitividade dos Municípios, elaborado pelo Centro de Liderança Pública (CLP).

A Capital cearense também aparece entre as 10 primeiras colocadas, na décima posição, com nota 44,34. O estudo analisou 418 cidades brasileiras com mais de 80 mil habitantes, responsáveis por 60% da população nacional. 

O levantamento considerou o número de trabalhadores formais empregados em dezembro nos estabelecimentos do setor criativo.

13,42%
dos trabalhadores do Eusébio estão alocados em empresas do setor criativo. Fortaleza tem 5,96%.

A economia criativa inclui atividades que usam a criatividade e o talento artístico para mover áreas como design, moda, publicidade, artes, tecnologia, games e audiovisual.

Veja o ranking:

  1. Eusébio - 100
  2. Barueri - 82,92
  3. São Leopoldo - 55,95
  4. Passo Fundo - 54,9
  5. Florianópolis - 51,52
  6. Santana de Parnaíba - 50,86
  7. Blumenau - 49,87
  8. São Cristóvão - 46,16
  9. Campinas - 45,01
  10. Fortaleza - 44,34

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O que faz o Eusébio se destacar?

Utilizando 65 indicadores distribuídos em 13 pilares temáticos, o ranking avalia, entre outros aspectos, inovação, dinamismo econômico, capital humano e infraestrutura de telecomunicações no contexto da economia criativa.

Segundo o estudo, Eusébio alcançou o primeiro lugar por implementar políticas voltadas para a economia criativa.

Para Pedro Trippi, coordenador de Inteligência Técnica do CLP, é importante que outras localidades do Estado vejam o município de Eusébio como um case de sucesso nessa área, principalmente na busca por referências nas políticas públicas desenvolvidas pelo município.

O coordenador ressalta, porém, que é a primeira vez que o município aparece no ranking, o que impede comparações históricas com edições anteriores.

Setor ainda enfrenta muitos desafios no Ceará

Apesar dos resultados positivos, ainda há o desafio de expandir essa realidade para mais municípios. Para fontes especializadas, o Ceará precisa de um ritmo de crescimento mais consistente nesse segmento, impulsionado pelo fortalecimento da cadeia produtiva e por políticas públicas específicas.

“De modo geral, quando olhamos a performance dos municípios do Ceará nesse indicador, vemos basicamente que Eusébio e Fortaleza se destacam nesse indicador, assim como Quixadá também. Quixadá tem 3% dos seus trabalhadores formais inseridos na economia criativa”, avalia Trippi.

“Se você olhar a mediana, vê que a própria mediana do Ceará nesse indicador, dos municípios do Estado do Ceará, está em 0,94%, enquanto a mediana Brasil está em 1,05%. Então, os municípios do Ceará não estão performando acima da média mediana do Brasil”, completa.

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A Capital cearense tem performado bem na série histórica do levantamento feito pelo CLP. Em retrospecto, o ranking mostrou, em 2022, a cidade na 11ª posição desse indicador, e, nos últimos dois anos, Fortaleza manteve o 10º lugar.

Entretanto, Pedro afirma que, no cenário atual, ainda não há evidências suficientes de que o Ceará esteja se consolidando como um polo de economia criativa.

“Eu não vejo um cenário do Ceará se consolidando como um polo de economia criativa. O que eu vejo aí [no levantamento] são três cidades especiais do Estado performando muito bem”, analisa.

Imagem aérea de Fortaleza.
Legenda: Fortaleza aparece no ranking desde 2022 e vem mandento a décima posição há dois anos.
Foto: Fabiane de Paula.

O que pode ser feito para o Ceará avançar 

Para o pesquisador do Centro de Estudos para Desenvolvimento do Nordeste da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Christiano Penna, quatro eixos principais devem liderar o crescimento do Estado na economia criativa: moda e design, impulsionados pela forte cadeia têxtil local (especialmente o beachwear), audiovisual e mídia, e expressões culturais.

Mas ele ressalta que o caminho mais eficiente para consolidar resultados é ampliar os efeitos indiretos do setor sobre outras áreas da economia.

“Sempre que esse encadeamento produtivo estiver ficando mais forte, mais presença a economia criativa vai ter na região, e mais duradouro será seu impacto no crescimento econômico. Não basta focar só na economia criativa. Também é preciso permitir e potencializar que o seu desenvolvimento transborde para os demais setores”, observa.

Imagem aérea do município do Eusébio.
Legenda: Segundo o estudo, Eusébio avançou ao implementar políticas voltadas para a economia criativa e, por isso, ocupa o primeiro lugar a nível nacional.
Foto: Davi Rocha.

Ceará tem ambiente favorável para economia criativa

O setor tem crescido nos últimos anos no Brasil e já representa 3,59% do Produto Interno Bruto (PIB), somando R$ 393,3 bilhões, segundo estudo da Firjan divulgado neste ano com base em dados de 2023.

Imagem de um infográfico com dados dos últimos anos.
Legenda: A Indústria Criativa no Brasil representa 3,59% do Produto Interno Bruto (PIB) nacional, totalizando R$ 393,3 bilhões em 2023.
Foto: Reprodução Firjan / Mapeamento da Indústria Criativa 2025.

Segundo Renato Furtado, professor de Administração, Economia, Negócios Digitais e Gestão de TI na UFC, o Ceará tem localização estratégica que facilita o desenvolvimento desse potencial econômico.

“Hoje a gente tem uma infraestrutura interessante, portuária, aeroviária, e temos pessoas capacitadas, o que é fundamental para que qualquer negócio possa existir, qualquer negócio de economia criativa”, diz o professor.

Para ele, questões logísticas que antes travavam o setor, como ausência de mão de obra qualificada e dificuldades estruturais, começaram a ser superadas graças a investimentos públicos e privados.

Assim, a expansão da economia criativa, aliada às melhores práticas de gestão e inovação, pode consolidar uma janela de oportunidades para que outros municípios cearenses aproveitem esse movimento.

O que diz o Eusébio sobre o resultado

Em nota, o município do Eusébio afirma que a economia criativa se tornou o principal pilar do seu desenvolvimento, resultado de uma política contínua de planejamento econômico adotada ao longo das últimas duas décadas.

Segundo a gestão municipal, programas de incentivo à inovação, investimentos em infraestrutura cultural e mecanismos de apoio ao empreendedorismo têm consolidado um ambiente favorável para a atração de negócios e a geração de empregos.

A administração destaca ainda que iniciativas como o Inova Eusébio e a implantação de novos empreendimentos, incluindo o futuro Centro Gastronômico, ampliam a capacidade do município de se posicionar na economia do conhecimento, com efeitos multiplicadores previstos para os próximos anos.

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