Cidade cearense ocupa o 1º lugar do Brasil em empregos na economia criativa; veja ranking
Levantamento mostra janela de oportunidade no setor, mas ainda há muitos desafios.
O município de Eusébio, na Região Metropolitana de Fortaleza, alcançou o primeiro lugar no ranking nacional de geração de empregos na economia criativa, com nota 100, segundo o Ranking de Competitividade dos Municípios, elaborado pelo Centro de Liderança Pública (CLP).
A Capital cearense também aparece entre as 10 primeiras colocadas, na décima posição, com nota 44,34. O estudo analisou 418 cidades brasileiras com mais de 80 mil habitantes, responsáveis por 60% da população nacional.
O levantamento considerou o número de trabalhadores formais empregados em dezembro nos estabelecimentos do setor criativo.
dos trabalhadores do Eusébio estão alocados em empresas do setor criativo. Fortaleza tem 5,96%.
A economia criativa inclui atividades que usam a criatividade e o talento artístico para mover áreas como design, moda, publicidade, artes, tecnologia, games e audiovisual.
Veja o ranking:
- Eusébio - 100
- Barueri - 82,92
- São Leopoldo - 55,95
- Passo Fundo - 54,9
- Florianópolis - 51,52
- Santana de Parnaíba - 50,86
- Blumenau - 49,87
- São Cristóvão - 46,16
- Campinas - 45,01
- Fortaleza - 44,34
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O que faz o Eusébio se destacar?
Utilizando 65 indicadores distribuídos em 13 pilares temáticos, o ranking avalia, entre outros aspectos, inovação, dinamismo econômico, capital humano e infraestrutura de telecomunicações no contexto da economia criativa.
Segundo o estudo, Eusébio alcançou o primeiro lugar por implementar políticas voltadas para a economia criativa.
Para Pedro Trippi, coordenador de Inteligência Técnica do CLP, é importante que outras localidades do Estado vejam o município de Eusébio como um case de sucesso nessa área, principalmente na busca por referências nas políticas públicas desenvolvidas pelo município.
O coordenador ressalta, porém, que é a primeira vez que o município aparece no ranking, o que impede comparações históricas com edições anteriores.
Setor ainda enfrenta muitos desafios no Ceará
Apesar dos resultados positivos, ainda há o desafio de expandir essa realidade para mais municípios. Para fontes especializadas, o Ceará precisa de um ritmo de crescimento mais consistente nesse segmento, impulsionado pelo fortalecimento da cadeia produtiva e por políticas públicas específicas.
“De modo geral, quando olhamos a performance dos municípios do Ceará nesse indicador, vemos basicamente que Eusébio e Fortaleza se destacam nesse indicador, assim como Quixadá também. Quixadá tem 3% dos seus trabalhadores formais inseridos na economia criativa”, avalia Trippi.
“Se você olhar a mediana, vê que a própria mediana do Ceará nesse indicador, dos municípios do Estado do Ceará, está em 0,94%, enquanto a mediana Brasil está em 1,05%. Então, os municípios do Ceará não estão performando acima da média mediana do Brasil”, completa.
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A Capital cearense tem performado bem na série histórica do levantamento feito pelo CLP. Em retrospecto, o ranking mostrou, em 2022, a cidade na 11ª posição desse indicador, e, nos últimos dois anos, Fortaleza manteve o 10º lugar.
Entretanto, Pedro afirma que, no cenário atual, ainda não há evidências suficientes de que o Ceará esteja se consolidando como um polo de economia criativa.
“Eu não vejo um cenário do Ceará se consolidando como um polo de economia criativa. O que eu vejo aí [no levantamento] são três cidades especiais do Estado performando muito bem”, analisa.
O que pode ser feito para o Ceará avançar
Para o pesquisador do Centro de Estudos para Desenvolvimento do Nordeste da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Christiano Penna, quatro eixos principais devem liderar o crescimento do Estado na economia criativa: moda e design, impulsionados pela forte cadeia têxtil local (especialmente o beachwear), audiovisual e mídia, e expressões culturais.
Mas ele ressalta que o caminho mais eficiente para consolidar resultados é ampliar os efeitos indiretos do setor sobre outras áreas da economia.
“Sempre que esse encadeamento produtivo estiver ficando mais forte, mais presença a economia criativa vai ter na região, e mais duradouro será seu impacto no crescimento econômico. Não basta focar só na economia criativa. Também é preciso permitir e potencializar que o seu desenvolvimento transborde para os demais setores”, observa.
Ceará tem ambiente favorável para economia criativa
O setor tem crescido nos últimos anos no Brasil e já representa 3,59% do Produto Interno Bruto (PIB), somando R$ 393,3 bilhões, segundo estudo da Firjan divulgado neste ano com base em dados de 2023.
Segundo Renato Furtado, professor de Administração, Economia, Negócios Digitais e Gestão de TI na UFC, o Ceará tem localização estratégica que facilita o desenvolvimento desse potencial econômico.
“Hoje a gente tem uma infraestrutura interessante, portuária, aeroviária, e temos pessoas capacitadas, o que é fundamental para que qualquer negócio possa existir, qualquer negócio de economia criativa”, diz o professor.
Para ele, questões logísticas que antes travavam o setor, como ausência de mão de obra qualificada e dificuldades estruturais, começaram a ser superadas graças a investimentos públicos e privados.
Assim, a expansão da economia criativa, aliada às melhores práticas de gestão e inovação, pode consolidar uma janela de oportunidades para que outros municípios cearenses aproveitem esse movimento.
O que diz o Eusébio sobre o resultado
Em nota, o município do Eusébio afirma que a economia criativa se tornou o principal pilar do seu desenvolvimento, resultado de uma política contínua de planejamento econômico adotada ao longo das últimas duas décadas.
Segundo a gestão municipal, programas de incentivo à inovação, investimentos em infraestrutura cultural e mecanismos de apoio ao empreendedorismo têm consolidado um ambiente favorável para a atração de negócios e a geração de empregos.
A administração destaca ainda que iniciativas como o Inova Eusébio e a implantação de novos empreendimentos, incluindo o futuro Centro Gastronômico, ampliam a capacidade do município de se posicionar na economia do conhecimento, com efeitos multiplicadores previstos para os próximos anos.