Livro de memórias do compositor Evaldo Gouveia será lançado nesta quarta-feira (28)

Fã do compositor cearense, Ulysses Gaspar lança a publicação sobre Evaldo, na Livraria Leitura do Shopping RioMar. Hoje aos 91 anos, o artista ganhou relevo na voz de Altemar Dutra, dentre outros intérpretes

Escrito por Felipe Gurgel , felipe.gurgel@diariodonordeste.com.br
Legenda: O artista emplacou a composição "O mundo melhor de Pixinguinha" como samba-enredo da Portela, em 1974
Foto: Foto: Thiago Gaspar

Para quem não viveu a era do rádio no Brasil, com seu auge nas décadas de 1940 e 1950, talvez seja difícil compreender o tamanho do cearense Evaldo Gouveia para a música brasileira. Ele é autor de "Sentimental Demais", dentre outras canções que ganharam força na voz de intérpretes como Altemar Dutra, Nelson Gonçalves, Alaíde Costa e Maysa Monjardim. O artista tornou-se um ícone do tempo em que os radialistas faziam questão de mencionar o nome dos compositores das músicas, a cada execução radiofônica.

A projeção dos artistas mudou e, na velocidade do esquecimento típico da contemporaneidade, a história de Evaldo Gouveia, hoje aos 91 anos de idade, traz pontos confusos. Um deles é sobre o local de nascimento do compositor: Evaldo nasceu em Orós/CE, dia 8 de agosto de 1928, e não em Iguatu/CE, ideia que se tornou senso comum.

A família dele se mudou para Iguatu quando o artista tinha apenas três meses de idade. Esse registro e o desdobramento de toda a vida e obra do compositor estão, agora, no livro de memórias "O que me contou Evaldo Gouveia", de autoria do produtor cultural e comunicador Ulysses Gaspar. A publicação será lançada nesta quarta (28), às 19h30, na Livraria Leitura do Shopping RioMar (Papicu). O acesso é gratuito.

Na ocasião, o cantor Marcos Lessa interpretará canções compostas por Evaldo Gouveia. O compositor estará presente, mas não deve se apresentar. Ulysses admite que o livro não se trata de uma "biografia", exatamente. Fã de Evaldo desde a década de 1970, e amigo do compositor há 10 anos, o autor quis editar, na publicação, uma síntese de mais de 200 horas de conversas gravadas.

"Como a biografia é uma escrita da vida, e todos nós temos passagens boas e ruins, eu não queria fazer uma exposição de defeitos do meu ídolo. Por isso, o livro tem no título 'O que me contou'", situa Ulysses Gaspar.

Movido por um "amor filial" pelo compositor (a diferença de idade entre Evaldo e Ulysses é de 39 anos), o autor conta que cinco escritores já tinham tentado biografar Evaldo Gouveia, mas não concluíram o projeto. Para registrar as memórias do cearense de Orós, Ulysses gravava conversas que duravam de 19h até 2h da manhã, na Praia de Iracema.

"Outro período estive no Rio de Janeiro e gravei depoimentos dele também. Evaldo Gouveia tem uma memória formidável. De todas as fases da vida, desde quando o pai dele abandonou a família e foi soldado da borracha no Acre", situa.

Ulysses conta a história do livro com detalhes. Fala com precisão de datas, inclusive nomes das ruas pelas quais ocorrem os fatos da vida de Evaldo. Dentre as histórias, esmiúça os caminhos do compositor até a formação do lendário Trio Nagô, ao lado de Mário Alves e Epaminondas Souza. "Toda vida que dou entrevista sobre o livro, eu releio. Minha memória não é tão boa assim não (risos)", revela o autor, bem- humorado.

Legenda: Com Evaldo Gouveia, o Trio Nagô chegou a se apresentar até em presídios

Surpresas

Apesar de evitar uma abordagem espinhosa sobre a trajetória de Evaldo Gouveia, Ulysses Gaspar não deixou "ponto sem nó" em relação à história do compositor com o pai, José Augusto. Depois de agredir a mãe de Evaldo, Maria Gouveia, e ser ameaçado de morte pelo avô materno de Evaldo, o Sargento Gouveia, Zé abandonou a família e fugiu para o Acre.

O autor antecipa que, no miolo do livro, o leitor encontrará o desdobramento dessa história. Em resumo, Evaldo Gouveia reencontrou o pai dois anos antes de José Augusto falecer. "Fazendo sucesso já, tocando na Rádio Nacional/RJ, Evaldo recebeu um recado sobre o pai, de que ele estava vivo no Acre. Foi bater lá, pegando um (avião) DC3, passou dois dias viajando. Teve uma recepção esplendorosa, mas, apesar de ter recurso, o pai dele já vinha mal cuidado de saúde", detalha Ulysses Gaspar.

Estouro

Ao contar a trajetória de Evaldo Gouveia, o autor marca alguns acontecimentos históricos da indústria artística no Brasil, como o fato de que a Rádio Nacional, na era do rádio, foi forte como a TV Globo tornou-se na era da imagem, por exemplo. "Todos os rincões do Brasil eram atingidos pela Rádio Nacional, levando música e notícia", reforça.

Legenda: Ulysses Gaspar editou o livro a partir de mais de 200 horas de conversa com Evaldo Gouveia
Foto: Foto: Fabiane de Paula

O estouro de um artista poderia acontecer depois de uma apresentação no programa do radialista César de Alencar (1917-1990), por exemplo, uma espécie de "Faustão" do rádio. No auge da carreira, Evaldo Gouveia tinha estourado na voz de vários intérpretes e passou a se unir à União Brasileira de Compositores (UBC) para arrecadar recursos em cima de seus direitos autorais.

"Nesse tempo, Evaldo Gouveia conheceu o Altemar Dutra, levou o Altemar para as boates de Copacabana e, com o sucesso do cantor (interpretando o repertório do cearense), também houve o ápice da carreira dele", destaca Ulysses Gaspar. O autor acrescenta que, para realizar uma obra com este fôlego, o trabalho foi árduo, porém gratificante.

Serviço
O que me contou Evaldo Gouveia

Lançamento do livro, escrito por Ulysses Gaspar, nesta quarta (28), às 19h30, na Livraria Leitura do 2º Piso do Shopping RioMar Fortaleza (Rua Desembargador Lauro Nogueira, 1500, Papicu). Na ocasião, haverá pocket show com Marcos Lessa.

(Livro)

O que me contou Evaldo Gouveia
Ulysses Gaspar

Editora Expressão Gráfica
2017, 240 páginas
R$ 50

 

 

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