‘UPA de tartarugas’: Centro de Emergência é inaugurado no Ceará e deve operar em fevereiro
Vivem nas águas do Ceará 5 espécies de tartarugas marinhas, que foram seriamente afetadas pelas manchas de óleo que contaminaram o litoral há 3 anos. Esse foi o motivo para criação do quarentenário
As tartarugas encalhadas no litoral cearense terão o primeiro espaço adequado no Centro de Atendimento Emergencial às Tartarugas Marinhas do Ceará, inaugurado em dezembro. A ‘UPA de tartarugas’, implantada no Eusébio, tem capacidade de receber 5 animais ao mesmo tempo a partir de fevereiro.
É possível cuidar de uma tartaruga adulta, 2 sub-adultas e 2 jovens no Centro Emergencial, que possui sala ambulatorial e laboratorial, cozinha e espaço de organização de materiais. Também há um setor de estabilização com 4 tanques e piscina.
A entrega acontece após um ano e meio de atraso devido à pandemia e ainda precisa das últimas licenças de operação, que devem ser emitidas em janeiro. Nesse período acontece o treinamento com a equipe e com os apoiadores distribuídos nas 20 cidades de praia.
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Isso porque o trabalho envolve o resgate, o transporte e o atendimento clínico dos animais marinhos. A estrutura faz parte do Centro de Estudos Ambientais Costeiros (Ceac) do Instituto de Ciências do Mar (Labomar) da Universidade Federal do Ceará (UFC).
Mas também participam a Secretaria do Meio Ambiente do Ceará (Sema), o Instituto Verdeluz, a Universidade Estadual do Ceará (Uece), a Superintendência Estadual do Meio Ambiente (Semace), o Batalhão de Polícia do Meio Ambiente (BPMA) e o Corpo de Bombeiros.
Vivem nas águas do Ceará 5 espécies de tartarugas marinhas, que foram seriamente afetadas pelas manchas de óleo que contaminaram o litoral nordestino há 3 anos. Esse fato, inclusive, está relacionado à criação do Centro de Emergência.
“O que motivou a decisão de ter um quarentenário foi justamente as tartarugas manchadas, a gente percebeu que o Poder Público tinha que agir. O problema já existia, as manchas de óleo trouxeram uma gravidade maior e aí tomamos a decisão”, contou o secretário de Meio Ambiente, à época, Artur Bruno.
Espécies de tartarugas do Ceará:
- Tartaruga verde
- Tartaruga de pente
- Tartaruga oliva
- Tartaruga cabeçuda
- Tartaruga de couro
Os animais marinhos são prejudicados por ingestão de lixo, acidentes com embarcações e até com materiais usados para pesca. Quando encalham com vida no território cearense, são encaminhados para o Rio Grande do Norte. No percurso de mais de 300 km, parte das tartarugas pode não sobreviver.
Mas é lá onde fica o Centro de Reabilitação de Animais Silvestres Cetáceos da Costa Branca, com capacidade de atender casos complexos. Em 2021, por exemplo, 8 tartarugas foram levadas ao Centro de Reabilitação. Naquele ano, aconteceu o encalhe de 139 animais mortos no Ceará.
Foram descobertos 39 ninhos na Sabiaguaba e Praia do Futuro, além de um ninho em Aquiraz, e 2.565 filhotes lançados ao mar. As informações são da Secretaria do Meio Ambiente.
O novo espaço funciona de forma semelhante a uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA), como associa Caroline Feitosa, professora do Labomar e coordenadora científica da estrutura.
"Se o animal encalha vivo, está debilitado e desnutrido, recebe um primeiro atendimento. É estabilizado, recebe soro e se for algo simples pode ser tratado no próprio Centro. Caso contrário, vai ser transferido para o Cetáceos", completa
Todas as espécies estão com as populações reduzidas e se enquadram em algum critério de ameaça, seja criticamente ou vulnerável, então à partir do momento em que a gente consegue resgatar e fazer com que o animal sobreviva tem uma relevância ambiental extrema
Até então, ambientes improvisados, normalmente feitos por voluntários ambientalistas, são usados para atender as tartarugas marinhas. Isso muda com a implantação da estrutura.
Profissionais, estudantes de graduação e pós-graduação da biologia, engenharia de pesca, oceanografia e veterinária devem atuar em conjunto para atender as tartarugas no Centro de Emergência.
Proteção às tartarugas
As ameaças à sobrevivência desses animais acontecem quando há degradação do ambiente marinho, como explica Alice Frota, bióloga e doutoranda em Ciências Marinhas Tropicais, ao Diário do Nordeste.
“As tartarugas são espécies chamadas ‘guarda-chuvas’, pois uma vez que protegemos os espaços que elas habitam, se alimentam e desovam, protegeremos toda fauna e flora do local em conjunto”, destacou a também voluntária no Instituto Verdeluz.
Aqui na Praia do Futuro e Sabiaguaba temos importantes áreas de desova da Tartaruga-de-pente, a espécie com maior risco de extinção. Por isso, precisamos criar áreas protegidas, como o Refúgio da Vida Silvestre das Tartarugas Marinhas na Praia do Futuro
Ela defendeu a criação da Unidade de Conservação para garantir a preservação daquele espaço. "Irá proteger a área de desova das tartarugas de pente na Praia do Futuro e, por consequência, toda a vida natural que ainda existe nessa praia", frisa.