Um filhote de tubarão lixa apareceu por dois dias seguidos na praia e virou celebridade na cidade. Quem também já viu uma baleia Jubarte no Mucuripe ou a tartaruga da Ponte Velha?
Um novo personagem de Fortaleza viralizou na semana passada: o tubarão do Náutico. Visto pela primeira vez numa quinta-feira de sol e mar verde cristalino, foi facilmente captado pelas câmeras curiosas dos fortalezenses. As imagens logo se espalharam pelas redes sociais e grupos de whatsapp. E isso foi suficiente para que virasse um dos principais assuntos da cidade.
Ele nem fazia nada demais para merecer tanta mídia. Nadava tranquilamente pertinho das pedras do espigão, como dezenas de seres como eu - claramente não aquáticos - fazem cotidianamente sem correr o risco de virar notícia de jornal. Mas o tubarãozinho, um filhote, saiu até na televisão.
Nesta história toda, fiquei pensando como nos surpreendemos com coisas óbvias da natureza, como um tubarão no mar, uma espécie que não é incomum nas águas cearenses. Lembro de quando nadei até o famoso navio naufragado Mara Hope. “Será que aqui tem tubarão?”, perguntei a um colega da natação. “Não, aqui não aparece isso não”, ele me disse. Ao que respondi: “Também não era pra ter baleia jubarte e uma vez apareceu uma perdida do caminho da Bahia.”
Faz um ano que isso aconteceu. Logo depois do almoço, em um sábado, a jubarte apareceu nadando pelas águas do Mucuripe. Era uma baleia jovem que provavelmente realizava sua primeira migração, disseram cientistas. Essas baleias costumam partir da Antártida em busca de águas quentes para se acasalar. A jubarte do Mucuripe provavelmente se perdeu e errou a rota que a levaria para Abrolhos, onde eu mesma já as vi numa expedição jornalística. Semana passada, aliás, outra baleia jubarte encalhou numa praia de Itarema, litoral oeste do Ceará.
Também fiquei pensando em tantos outros personagens cativos do mar de Fortaleza. Vocês já viram os golfinhos da Praia de Iracema? E a tartaruga que está sempre levantando a cabeça para fora da água ali pertinho da Ponte Velha? São personagens da cidade que mereciam ter direito de ficar longe dos holofotes (e de turistas), não fosse nosso espanto com as coisas óbvias da natureza.
Seria melhor deixá-los em paz, mas a curiosidade não deixa. Alguém lembra quando uma água viva exótica passou dias circulando perto do Náutico? Australiana, manchada. Também foi fotografada, mas causou menos frisson e medo que o Tubarão do Náutico. Afinal, como ele pôde nadar tão perto dos banhistas? Ora, mas o mar não é a casa dele?
Diretamente de Brasília, minha irmã logo me marcou nas postagens do Instagram, como se quisesse me mostrar o perigo que eu corria por dar braçadas naquele mar. “Não fui nadar hoje, perdi essa companhia”, lhe respondi. “Graças a Deus, né?”, ela rebateu.
No grupo da natação, que justamente se chama Sharks, alguém enviou o vídeo “para quem gosta de nadar no Náutico”. A esta altura os jornais já traziam cientistas dizendo que o caçãozinho era um filhote de tubarão lixa e inofensivo a humanos que não mexessem com ele. Nada com que se preocupar, mas a internet não parecia muito certa disso. “Se tem um filhote, os pais podem estar por perto”, disse uma moça incrédula no Instagram.
No dia seguinte, sexta-feira, o tubarão do Náutico voltou. Nadava cada vez mais perto da faixa de areia, onde encalhou algumas vezes. Especialistas avaliaram que poderia haver algo errado com ele, e uma ONG levou o mais recente famoso da cidade para readaptação. Foi aí que descobrimos que era uma fêmea. Um dia, espera-se, ela voltará pro mar.