Mara Hope: navio encalhado em Fortaleza há 37 anos perdeu 70% do tamanho original; veja fotos

Petroleiro só atuou por 16 anos até sofrer um incêndio e se tornar inoperável

Escrito por Nícolas Paulino , nicolas.paulino@svm.com.br
Legenda: Encalhe ocorreu próximo à Praia de Iracema, na Capital cearense.
Foto: Cid Barbosa/SVM

Setenta mil toneladas distribuídas em 245 metros de comprimento. A certidão de construção do navio Mara Hope, encalhado no litoral de Fortaleza há 37 anos, contrasta bastante com a situação atual da carcaça da embarcação, estimada em apenas 30% da grandiosidade de décadas atrás.

Originalmente construído no estaleiro espanhol Astilleros de Cádiz, em 1967, o transportador de petróleo foi batizado de Juan de Austria, em homenagem a um líder militar e filho ilegítimo do rei Carlos I da Espanha. 

Prestando serviços para vários donos, mudando de nome para Asian Glory em 1979 e finalmente para Mara Hope, em 1983, ele sofreu diversos percalços nos anos finais de atividade até o encalhe em Fortaleza, em 1985.

Atualmente, a estrutura sustentada pelo banco de areia onde parou representa cerca de 30% do original, na análise de Marcus Davis Braga, mergulhador profissional da operadora Mar do Ceará e mestre em Ciências Marinhas Tropicais.

Dos passeios com o pai à orla na infância até começar a nadar até o Mara Hope nos anos 2000, Marcus vivenciou a maior redução do comprimento porque a estrutura foi desmontada para “aproveitarem o que podiam”. 

“Por volta de 2010, a gente até organizou passeios de barco para lá, ajeitamos a escada para subirmos em segurança. Mas de lá pra cá, caiu uma fatia dele, arriou uma ponta, forçando as estruturas por causa da maresia. O mar vai abrindo o navio”, conta.

Permanência incerta

Embora hoje faça parte da paisagem marítima da capital cearense, o Mara Hope não deve ficar à vista para sempre. 

Em 1987, o então comandante da Capitania dos Portos do Ceará (CPCE), João Alberto Sampaio, estimou ao Diário do Nordeste que “talvez” o Mara Hope levasse 50 anos para afundar - assim sendo, o prazo se encerra em 2037.

O mergulhador Marcus Davis concorda, atualmente, que ainda haja mais “10, 15 anos” para visualizar a embarcação. 

Legenda: Desgastes se tornaram mais intensos na última década, segundo mergulhador.
Foto: Thiago Gadelha

Propriedade da União e representado na Carta Náutica 710 da Costa Brasileira, para a garantia da segurança da navegação, o casco do navio está a aproximadamente 700 metros da Ponte Metálica. 

“A Capitania dos Portos do Ceará realiza atividades rotineiras de inspeção naval que contemplam o local”, informou o órgão.

Mesmo deteriorado, o Mara Hope funciona como “moradia” para seres marinhos, como esponjas e corais, segundo Marcus Davis Braga. Para o mergulhador, o navio não representa nenhum risco ambiental.

“Além disso, ele já faz parte da história da cidade, é um marco para a vida de vários fortalezenses”, reconhece.

Legenda: Estrutura faz parte de monitoramento da Capitania dos Portos do Ceará.
Foto: Thiago Gadelha

Do incêndio ao naufrágio

A história do Mara Hope é marcada por dois incêndios importantes. O primeiro atingiu sua casa de máquinas em novembro de 1983, num porto do Texas, nos Estados Unidos. A intensidade do sinistro o impediu de continuar operando. Em novembro de 1984, começou a ser rebocado rumo a Taiwan, para então ser desmontado e vendido como sucata.

Em 6 de março de 1985, o rebocador do Mara Hope, Progress II, teve problemas mecânicos em águas brasileiras e foi obrigado a ancorar no estaleiro da Indústria Naval do Ceará (Inace). 

Uma quinzena depois, em 21 de março, com a maré alta durante uma tempestade, à noite, as amarras do Mara Hope se romperam e a embarcação ficou à deriva até encalhar em um banco de areia nas proximidades da Praia de Iracema.

Legenda: Vista do navio a partir da orla, na década de 1980.
Foto: Eduardo Queiroz/SVM

Os arquivos do Diário do Nordeste mostram que, à época, a Capitania dos Portos negou o encalhe, declarando que o navio estava apenas esperando o conserto de seu rebocador para continuar viagem.

Nas semanas seguintes, ocorreram várias tentativas de recuperação e reflutuação do navio, mas nenhuma teve êxito, principalmente por causa dos danos no casco. 

O desmonte e a memória

Os meses e anos seguintes foram de batalhas judiciais para decidir quem seria responsável por remover a embarcação do local. Com a demora, o navio ficou à mercê de vândalos e ladrões que roubavam peças (como motores, lastros, leme, hélice, parte elétrica e instrumentos de navegação) para venda.

Foi numa dessas investidas que, em maio de 1987, mais um incêndio irrompeu no Mara Hope, resultado da serragem de peças de metal. A luz do fogo e a fumaça puderam ser vistos da orla de Fortaleza:

Legenda: Incêndio no navio ocorrido já em Fortaleza, em maio 1987.
Foto: Ana Aragão/SVM

Em abril de 1989, uma empresa que adquiriu o navio encalhado iniciou uma operação-desmonte para cortar os pedaços com maçaricos e transportá-los para terra, onde seriam novamente cortados e vendidos para siderúrgicas. O serviço foi estimado para durar seis meses, mas, em 1991, ainda continuava.

Legenda: Mara Hope por dentro, em 1987.
Foto: Líbia Ximenes/SVM

Em julho de 2015, seu 30º aniversário de naufrágio, o Mara Hope recebeu uma intervenção artística do projeto “Para ver o mar” e ganhou tons coloridos com 300 litros de tinta para contrastar com a ferrugem.

Em 2021, o navio voltou aos holofotes porque o influenciador digital Diego Nicodemos decidiu passar uma noite dentro dele e registrou a “aventura” em postagens nas redes sociais.
 

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