Saiba quem foi Padre Cícero Romão Batista, o 'Padim Ciço'

O padre morreu aos 90 anos, em julho de 1934. O cearense pode virar santo

Escrito por Redação ,
Fiel visita o tumulo do Padre Cícero
Legenda: Padre Cícero, ícone católico cearense, teve o processo de beatificação autorizado pelo Papa Francisco
Foto: Antonio Rodrigues / SVM

Após mais de duas décadas de espera dos fiéis, o Vaticano iniciou, neste sábado (20), o processo de canonização do Padre Cícero (1844-1934). O passo simboliza a concretização da reconciliação entre a Igreja Católica o sacerdote. Mas, para compreender esse aspecto histórico, é necessário conhecer o “Padim”. 

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Formação de Padre Cícero 

Cícero Romão Batista nasceu 24 de março de 1844, no Crato, no Interior do Ceará. Não era de família “abastada”, como define o mestre em Teologia e diretor acadêmico da Faculdade Católica de Fortaleza, padre Thiago Oliveira Gomes. 

Desde criança, Cícero, filho de um comerciante e de uma dona de casa muito religiosa, tem a vida marcada pela crença. Já aos 12 anos fizera um voto de castidade por influência da trajetória de São Francisco de Assis.

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Em 1865, vai estudar em Fortaleza. Foi um dos 60 alunos da segunda turma do Seminário da Prainha, onde estudou por cinco anos os cursos de filosofia e teologia. De acordo com registros históricos, foi um estudante de destaque. 

Estátua
Legenda: Em Juazeiro do Norte, estátua do 'Padim' é um ponto turístico recebe. O local recebe, em média, 2,5 milhões de visitantes por ano
Foto: Kid Jr / SVM

“Naquela época, os alunos tinham 30 dias de férias e moravam os outros 11 meses no seminário. Por isso, as famílias pagavam para que os seminaristas pudessem estudar. Mas Padre Cícero não vinha de família muito abastada e, para complementar a renda, dava aula de reforço de latim no seminário maior”, conta o padre Thiago Oliveira

Cinco anos depois, foi ordenado padre, em 30 de novembro de 1870, na Catedral velha de Fortaleza, pelo primeiro Bispo da Diocese do Ceará, Dom Luís Antônio dos Santos.


Trajetória religiosa e política 

Estátua
Foto: Gustavo Pellizzon / SVM

Em 1871, Padre Cícero volta para o Crato. Visita a então Vila de Juazeiro, onde um ano depois passaria a ser o vigário da capela. Lá, ficou muito próximo do povo sertanejo. Fazia visita a casas dos fiéis e conseguia dialogar com a população, sendo reconhecido pelo carisma e simplicidade. 

“Cícero ia para as paróquias e para as práticas da vida, como plantar, depois fazia a pregação da palavra”, destaca o padre Thiago Oliveira Gomes. Depois, "Padim Ciço" entrou na política, lutando pela emancipação de Juazeiro do Norte em relação ao Crato.

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Em julho de 1911, tornou-se prefeito da cidade agora emancipada. “A realidade política era a de república, de democracia. Cícero se aproximava dos coronéis e das autoridades, mas nada que os outros padres não faziam”, explica.

Fiéis
Legenda: Fiéis se reuniram para celebrar aprovação do pedido de beatificação
Foto: Rosélia Costa/ Vcrepórter

A chamada República Velha, iniciada após o declínio da monarquia no Brasil, iniciou em 1889. Diferentemente de outros líderes, Padre Cícero aderiu rapidamente ao republicanismo. Nesse contexto de popularidade e de posicionamentos políticos, passou a incomodar e dividir opiniões. 

“Cícero era um homem do seu tempo. Lidava com autoridades e com o povo. O objetivo do bispo Dom Luiz Antônio era formar um clero, naquela época, que saísse bem informado intelectual e moralmente para atende às demandas da igreja, mas um clero obediente”, pondera. 

Thiago Oliveira observa que o Padre Cícero foi formado dentro desses parâmetros ultramontanistas (corrente da Igreja Católica que combatia ideias modernas).

“Só que, na prática pastoral, ele acabou se distanciando do ultramontanismo e se aproximou da religiosidade popular, alguém próximo do povo. Posteriormente, é visto com um padre desobediente”, completa. 

“Atualmente, a história lança outro olhar sobre isso. Ele foi alguém inserido na vida do povo, aproximando-se da sua realidade. Muito do que o Papa Francisco hoje fala: que os pastores devem estar juntos do rebanho”, enfatiza. 
Thiago Oliveira Gomes
mestre em Teologia e diretor Acadêmico da Faculdade Católica de Fortaleza

Durante a trajetória, a Igreja Católica  excomungou o Padre Cícero por não reconhecer seus supostos milagres. “Padim” morreu, aos 90 anos, em julho de 1934, sem poder celebrar missas.

Como explica o colunista do Diário do Nordeste, Paulo Henrique Rodrigues, desde então, “a luta pelo reconhecimento do 'Padim' envolveu diversos religiosos, historiadores e outros profissionais que se mobilizam há anos para reparar o que consideram uma injustiça histórica: o fato de o ser humano reverenciado por milhões no maior país católico do mundo ainda estar impossibilitado de ser exposto nos altares da Igreja”.

Essa busca pelo reconhecimento atravessou três papados: São João Paulo II, o hoje Papa Emérito Bento XVI e agora o Papa Francisco. Hoje, essa página da história do religioso foi virada. 

Curiosidades sobre Padre Cícero:

  • Em 1º de março de 1889, ao dar a comunhão à beata Maria de Araújo, a hóstia teria se transformado em sangue, popularizando a fama de santo do Padre Cícero;
  • Em março de 1926, Lampião visitou Juazeiro do Norte, e Padre Cícero tenta convencê-lo a se arrepender pelos crimes. 
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