Professores do CE ganham medalha de ouro na Olimpíada Brasileira de Matemática do Ensino Médio
Três docentes da rede pública receberam uma viagem de intercâmbio para Xangai, na China.
Três professores de Matemática da rede pública de ensino do Ceará conquistaram medalha de ouro na 2ª edição da Olimpíada Brasileira de Professores de Matemática do Ensino Médio (OPMBr). Breno Ricardo Oliveira Marques e Renato Oliveira Targino, ambos de Fortaleza, e Rodolfo Soares Teixeira, de Ipu, na Serra da Ibiapaba, foram premiados no último sábado, 8 de novembro.
Os vencedores participarão de um intercâmbio técnico e cultural de 15 dias em Xangai, na China. A viagem para o país asiático deve acontecer em maio de 2026 e os docentes premiados com o ouro conhecerão o Centro de Educação para Professores da Unesco (TEC Unesco) na Universidade Normal da China. A cerimônia de entrega será no dia 10 de dezembro, no Ministério da Educação, em Brasília.
Mais de 1,2 mil professores de todo o Brasil participaram da edição deste ano e 122 deles foram premiados. Foram 20 medalhistas de ouro, 19 de prata, 42 de bronze, além de 41 candidatos reconhecidos com menção honrosa. O Ceará também conquistou quatro medalhas de prata e quatro de bronze.
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Da tabuada em casa ao quadro branco
Com 15 anos de carreira, o professor Rodolfo Soares Teixeira resolveu se desafiar na olimpíada nacional após ser premiado na Olimpíada Cearense de Matemática para professores. Ele leciona na Escola Estadual de Educação Profissional EEEP Antônio Tarcísio Aragão, da cidade de Ipu, na região da Serra da Ibiapaba.
Para Rodolfo, a conquista da medalha de ouro representa um misto de emoções e um reconhecimento do trabalho realizado na docência. “É um reflexo também do perfil dos meus alunos, que compram as minhas ideias e atuam no próprio protagonismo, colaborando muito para que eu possa alcançar esse resultado”, afirma.
Os alunos demonstraram o orgulho pela vitória recebendo o professor com alegria e com um corredor de aplausos na escola.
O início da história de Rodolfo com a matemática se deu na infância, quando a mãe só o deixava jogar bola se soubesse a tabuada. Apesar de parecer um castigo, foi um incentivo para ele gostar da matéria.
Depois, Rodolfo passou a auxiliar o pai que trabalhava com transporte alternativo e começou a aplicar a matemática no dia a dia, contando os passageiros, conferindo o valor arrecadado e o lucro obtido.
“Meus pais tiveram pouco estudo e mal sabiam eles que essas situações, na verdade, estavam me estimulando muito a gostar de matemática. No colégio, tive uma professora que incentivava a gente ir ao quadro mostrar nossas habilidades. Eu adorava porque sabia que, para um professor, o quadro é um lugar sagrado”
O professor do interior do Ceará utiliza o ensino de forma criativa e colaborativa, promovendo o protagonismo dos alunos por meio de celebrações como o Dia do Pi (14 de março) e o Dia da Matemática (6 de maio), com paródias e competições. Além disso, ele incentiva e prepara os jovens para a Olimpíada Brasileira de Matemática das Escolas Públicas (OBMEP).
Matemática facilitada
Essa ação de tornar a matemática mais fácil e compreensível por meio de atividades práticas e simples é um dos motes de Renato Oliveira Targino, professor do Ensino Médio e coordenador da Licenciatura em Matemática no Instituto Federal do Ceará, Campus Fortaleza.
“Para mim, é cansativo ter que me repetir, então eu tenho que trazer algo novo e, por isso, estou constantemente aprendendo”, afirma. A ideia de participar da OPMBr, pela segunda vez, é ver isso como um desafio para estar em constante aprendizado e trazer algo novo para a sala de aula.
Na olimpíada, ele pode mostrar como apresentar os conteúdos de forma que o aluno possa visualizar facilmente. Por exemplo, o uso de uma folha A4 para trabalhar frações, áreas e divisões, mudando o papel do aluno de espectador para participante ativo.
“Nós, professores de Matemática, estamos acostumados a aulas expositivas enquanto os alunos são os espectadores. A atividade prática muda esse jogo”, reitera. Essa prática também incentiva que os estudantes saiam do celular e movimentem a aula.
Além disso, estar na coordenação de um curso do ensino superior foi outra motivação para participar da competição. “Matemática é um curso difícil, eu não vou pintar um quadro diferente do que é. Temos alta desistência e quero mudar isso. Aos poucos, essa desistência diminuiu”, diz.
No entanto, Renato reforça que a baixa proficiência dos estudantes em Matemática é um desafio maior. “É difícil você ensinar matemática sem o nível de proficiência [...] Não dá para ensinar multiplicação sem aprender somar”, afirma.
Na docência desde 2011, a inspiração veio de dois professores: um que o auxiliou pacientemente quando sentiu dificuldade na escola privada e outro que trouxe desafios de olimpíadas, antes mesmo da OBMEP, para dentro de sala de aula no ensino médio.
O impacto da docência
Concursado estadual há 21 anos, o professor Breno Ricardo Oliveira Marques atualmente está na direção da Escola de Ensino Médio EEM Dragão do Mar, no bairro Mucuripe, em Fortaleza. Essa também foi a segunda participação dele na olimpíada. No ano passado, ele já havia conquistado a medalha de bronze.
Na edição deste ano, a segunda fase exigia a elaboração de um vídeo que mostrasse o impacto do trabalha enquanto professor na comunidade escolar. Para Breno, essa etapa foi uma forma de relembrar o papel do docente na vida de crianças e adolescentes.
“No dia a dia da gente, acabamos não percebendo as ações que fazemos e o quanto impactamos um aluno na comunidade. A olimpíada me fez revisitar as práticas e as ações que foram feitas. Foi bem gratificante ouvir os depoimentos de gestores, colegas e ex-alunos”, diz.
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A inspiração para seguir o caminho da Matemática veio do avô de Breno, que também lecionava a matéria. “Eu ia para a casa dele depois da aula e só saia de lá quando eu fizesse 50 questões de matemática. Não foi muito uma questão de aptidão, mas uma repetição porque a matemática é muito isso”, comenta.
Esse exercício de casa fez com que ele se destacasse na sala de aula e também ajudasse os colegas, sua primeira experiência como professor de matemática. Hoje, embora não esteja lecionando, Breno afirma que continua estudando e buscando estratégias para aumentar a proficiência dos alunos.
“Vejo que isso impacta outros gestores que também são professores, mas que, às vezes, esquecem sua área e focam nas partes administrativas da escola. Nós, diretores e gestores, temos um poder muito grande de incentivar os docentes a participarem mais. Às vezes eles não se sentem capazes de participar de uma olimpíada, acham que é difícil”
Expectativas para a viagem
Os três docentes falam sobre a ansiedade e a expectativa em participar do intercâmbio cultural e profissional que será realizado na Universidade Normal da China. Para além de uma recompensa, a viagem será uma oportunidade de imersão na cultura asiática e aprendizado, afirmam.
“Se o prêmio fosse só o intercâmbio de ideias com esses 19 professores medalhistas de ouro, eu já estava muito feliz. Porque já são 19 práticas excelentes que estão sendo feitas no país e que posso trazer para a nossa escola e para nossa rede. As expectativas são muito grandes para poder ajudar e tornar a matemática mais acessível e legal, para que as pessoas gostem da matéria como nós professores”, diz Breno.
A expectativa de Rodolfo também é para a troca de experiências entre os brasileiros e os chineses. “Nós vamos apresentar uma aula para eles, então aprenderam um pouco da nossa cultura também, de como a gente trabalha a matemática e nossa realidade enquanto país tão grande e diferente”, afirma. “Quero poder coletar lá o máximo possível de coisas para poder agregar ao meu trabalho”, completa.
Já Renato espera que o intercâmbio em Xangai traga lições sobre a valorização do professor e o uso de tecnologia para ligar a matemática ao mundo prático. “Acompanhei os ganhadores do ano passado e eles contaram como a cultura do aluno de lá é diferente, que a aula é valorizada. É o que eu tento trazer para os meus alunos”, conclui.
Após o intercâmbio, os professores selecionados vão ministrar workshops de Matemática para outros docentes, de cidades definidas em parceria com o Ministério da Educação.
Medalhas do Ceará
Ouro
Breno Ricardo Oliveira Marques, EEM Dragão do Mar, Fortaleza
Renato Oliveira Targino, IFCE - Campus Fortaleza, Fortaleza
Rodolfo Soares Teixeira, EEEP Antonio Tarcísio Aragão, Ipu
Bronze
Cleuber Eduardo do Nascimento Silva, Colégio Militar de Fortaleza
Pedro Paulo Ferreira Trindade, EEFM Dona Luiza Távora Pio XII, Fortaleza
Raphael Gomes Vale, EEEP Marwin, Fortaleza
Thiago do Carmo Lima, EEFM Estado de Alagoas, Fortaleza
Prata
Carlos Antônio Marques de Sousa, EEFM Poeta Patativa do Assaré, Fortaleza
Francisco Antonio dos Santos Junior, CEJA João da Silva Ramos, Camocim
Hedilandio Vidal Araujo, EEFM José Maria Pontes da Rocha, Caucaia
Roberio Bacelar da Silva, Colégio Santa Cecília, Fortaleza
O que é a OPMBr?
A olimpíada foi idealizada por ex-alunos da turma de 1989 do Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA) ao perceberem que o Brasil ocupa a 65ª posição no ranking que avalia o ensino da Matemática em 81 países do mundo, conforme o Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (PISA).
Essa posição contrastava com outro dado: o mesmo país que ensina e aprende mal a Matemática no dia a dia das salas de aula do País é parte da elite da Matemática mundial (nível 5 da Internacional Mathematical Union – IMU), com pesquisadores e professores reconhecidos mundialmente. Partindo disso, esses ex-alunos criaram a Olimpíada Brasileira de Professores de Matemática do Ensino Médio.
Em sua segunda edição, a competição pretende reconhecer e valorizar aqueles que fazem a diferença ao ensinar Matemática pelo país afora. O projeto tem apoio da Sociedade Brasileira de Matemática e tem patrocínio do Instituto Aegea, da Lenovo Foundation e do Itaú Social.
O processo de avaliação é composto por três etapas: uma prova online com 20 perguntas, uma apresentação em vídeo ilustrando o trabalho desenvolvido em sala de aula e uma entrevista. Entre os avaliadores da última fase está o professor Cristovam Buarque, é membro do Conselho Acadêmico da OPMBr.