‘Parece que tem algo comendo sua pele’: cearense com monkeypox descreve sintomas e recuperação

Aos 30 anos, ele é um dos pacientes que testaram positivo para a doença na Região Metropolitana de Fortaleza

Escrito por Theyse Viana , theyse.viana@svm.com.br
Homem com monkeypox
Legenda: Cearense de 30 anos é um dos mais de 60 casos de monkeypox do Estado
Foto: Shutterstock

Quando as dores nas pernas, abaixo da barriga e na cabeça começaram, tudo indicava uma gripe, virose ou mesmo Covid. Caio* (nome fictício), de 30 anos, teve até uma febre leve, e “viveu a rotina normalmente” por 4 dias – até que apareceu uma lesão na região genital. Monkeypox, a varíola dos macacos.

Em entrevista ao Diário do Nordeste, o homem, que terá a identidade preservada devido aos estigmas relacionados à doença, falou sobre as dores causadas pela infecção, o período de isolamento e também sobre o preconceito. 

O diagnóstico clínico, na primeira consulta, veio no 5º dia após o surgimento dos primeiros sintomas, quando o cearense se juntou – mesmo “sem saber nada sobre a doença” – aos mais de 300 casos suspeitos da monkeypox no Estado, segundo a Secretaria da Saúde (Sesa).

Eu imaginava que era uma gripe, virose, pensei até em Covid, porque senti uma dor de cabeça muito forte. Poderia imaginar que era qualquer outra coisa, menos isso. Era algo novo pra mim, não desconfiei.
Caio*
30 anos

Por desconhecimento sobre a circulação da monkeypox, Caio teve contato com toda a família e até com dois amigos, nos 4 dias de sintomas antes do aparecimento das lesões de pele. “Um dos meus amigos pegou”, lamenta o cearense. 

“Não desejo essa dor a ninguém”

De todos os sintomas que teve durante o isolamento de 7 dias, Caio elege facilmente o pior: a dor e o prurido agudos na lesão da região genital, primeira das 12 bolhas que surgiram depois nas mãos, nos braços e no peito.

“É uma doença que não desejo ao meu pior inimigo: chega um momento em que as lesões doem muito. Parece que tem algo comendo a sua pele, latejando. Quando senti isso, pensei: ‘vou ter muito mais cuidado comigo mesmo’, agora”, relata.

Um dos piores momentos são os primeiros dias. É uma sensação de cansaço, de esgotamento do umbigo pra baixo, que você mal consegue andar.
Caio*
30 anos

Apesar dos efeitos fortes da monkeypox sobre o corpo, Caio opina que teve uma “versão leve” da doença. Os únicos medicamentos que tomou foram para dor e febre, já que o antiviral contra a monkeypox só foi aprovado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) no último dia 25.

As lesões da pele, então, já estão saradas – mas o estigma em relação à doença permanece como sequela na vida do cearense, motivo pelo qual não foi identificado nesta reportagem.

“Prefiro que ninguém saiba, porque é uma doença nova, gera muito preconceito. Teve um amigo que teve medo de me ver, mesmo depois da recuperação. Mas entendo, é algo novo”, finaliza.

Quais os sintomas da monkeypox?

Dentre os casos notificados no Ceará, segundo a Sesa, os sintomas mais apresentados pelos pacientes foram lesões de pele, febre e ínguas (adenomegalia).

Os sinais e sintomas da monkeypox duram de 2 a 4 semanas, conforme a Organização Mundial da Saúde (OMS), e desaparecem por conta própria, geralmente sem complicações. 

O período de incubação do vírus monkeypox é “tipicamente de 6 a 16 dias”, mas pode chegar a 21 dias, como explica o Ministério da Saúde. Ou seja, esse é o período que o paciente pode manter sem sintomas após ter contraído o vírus.

Como ocorre a transmissão da monkeypox?

Entre humanos, o vírus é transmitido por contato pessoal com secreções respiratórias, lesões de pele de infectados, fluidos corporais ou objetos recentemente contaminados. 

“Quando a crosta desaparece e há reepitelização, a pessoa deixa de infectar outras e, na maioria dos casos, os sinais e sintomas desaparecem em poucas semanas”, aponta a Sesa.

De acordo com o Ministério da Saúde, a monkeypox “é uma doença que exige contato muito próximo e prolongado para transmissão de pessoa a pessoa, não sendo característica a rápida disseminação”. Apesar disso, o vírus tem potencial epidêmico.

Como prevenir a varíola dos macacos?

  • Evitar contato com pacientes suspeitos ou infectados;
  • Higienizar as mãos com frequência, com água e sabão ou álcool;
  • Usar máscaras de proteção.

As medidas também valem para roupas, roupas de cama, talheres, objetos e superfícies utilizadas por pessoas com suspeita ou confirmação da doença. Esses itens devem ser limpos da forma adequada.

O que fazer se tiver sintomas da monkeypox?

As autoridades de saúde recomendam que o paciente que apresentar sintomas da varíola dos macacos procure uma unidade de saúde, para atendimento médico. E não entre em contato com outras pessoas.

Qual é o tratamento da monkeypox?

O tratamento dos casos suspeitos de varíola dos macacos tem se baseado, conforme boletim da Secretaria da Saúde, “no manejo da dor e do prurido, cuidados de higiene na área afetada e manutenção do balanço hidroeletrolítico”.

A maioria dos casos, observam as autoridades de saúde, apresenta sintomas leves e moderados. “Na presença de infecções bacterianas secundárias às lesões de pele, deve-se considerar antibioticoterapia”, acrescenta a Sesa.

Até o momento, não há medicamento aprovado especificamente para monkeypox, embora alguns antivirais tenham demonstrado alguma atividade contra o MPXV.

Os destaques das últimas 24h resumidos em até 8 minutos de leitura.
Assuntos Relacionados