O que dizem especialistas sobre medidas contra a crise dos ônibus em Fortaleza?

Nesta semana, justificando a falta de recursos financeiros, o Sindiônibus chegou a suspender 25 linhas e reduzir a circulação de outras 29, em Fortaleza

Escrito por
Matheus Facundo matheus.facundo@svm.com.br
Pessoas se aglomerando para subir em ônibus em terminal de Fortaleza.
Legenda: Cerca de 10 mil passageiros foram afetados nos dois dias de suspensão e redução de linhas.
Foto: Kid Júnior.

Especialistas da área da engenharia de transporte e da mobilidade acreditam que a crise no transporte público de Fortaleza, evidenciada pela suspensão e redução de mais de 50 linhas de ônibus nesta semana, é reflexo não só do déficit financeiro, mas de um sistema que sofre com a 'fuga' de passageiros pela insatisfação, desconforto e transportes de aplicativo. A partir desta quarta-feira (1º), as linhas afetadas retornaram às ruas, segundo anunciou o prefeito Evandro Leitão, mas ainda há um longo caminho a percorrer para melhorar a experiência dos passageiros. 

Antes de anunciar o retorno, a Prefeitura chegou a cogitar substituir as linhas por vans e topics, uma solução que segundo a arquiteta e urbanista e professora da Unifor, Camila Bandeira, poderia atender os 10,4 mil passageiros afetados, mas não resolveria a sustentabilidade de um modal já frágil. "Não resolve o financiamento e como o sistema está estruturado atualmente, e se ele atende ao que os passageiros necessitam diante das novas ofertas de transporte. É uma solução que devia passar também pelo debate do Plano Diretor, da questão do solo...", pontuou. 

Para ela, se fosse ocorrer, essa seria uma solução muito simplista para um problema bastante complexo. "Talvez atenda ao passageiro que ficou sem a linha, mas não resolve pontos como o atendimento e o financeiro, porque a população está procurando Uber e Uber Moto. São questões que não podem ser resolvidas no calor do momento", avalia. 

Para a professora, a discussão sobre como incrementar o transporte público de Fortaleza já é antiga e sensível, e é necessário "coragem para enfrentar". "O usuário que precisa ele acaba sendo refém, cativo do sistema, porque ele não tem muita alternativa, e as alternativas que têm pode não ser muito seguras", assinala. 

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Política pública precisa ser reavaliada 

O professor chefe do Departamento de Engenharia de Transportes da Universidade Federal do Ceará (UFC), Ademar Gondim, avalia que Fortaleza "precisa passar por uma avaliação profunda da política pública de transporte". 

Apesar de já constar no Plano Plurianual de 2026 a 2029, a ampliação do acesso e a melhora da experiência dos usuários se faz mais urgente, após o Sindicato das Empresas de Transporte de Passageiros do Estado do Ceará (Sindiônibus) resolver suspender 25 linhas e reduzir 29, por conta do desequilíbrio de contas. 

Ademar frisa que o desequilíbrio econômico é um dos maiores vilões e que afeta diretamente não só as empresas, mas a vida dos passageiros das linhas suspensas e reduzidas.

O especialista em transporte e mobilidade urbana também cita que "chegou o momento" de uma virada de chave para passageiros, empresas e Prefeitura: "A frota envelheceu, as pessoas estão insatisfeitas. É preciso de reavaliação e equilíbrio nessa hora, pois o sistema de transporte envolve veículos, vias e passageiros, e a quantidade de viagens feitas hoje em dia em Fortaleza é muito grande". 

Imbróglio financeiro e negociações 

Atualmente em R$ 4,50, a tarifa de ônibus em Fortaleza é uma das menores do Nordeste e também entre as capitais brasileiras, mas ela não é suficiente para abarcar todos os custos, de acordo com o Sindiônibus. A instituição lembra que a passagem deveria ter R$ 7,27 (a chamada tarifa técnica) para que as contas fossem equilibradas. 

Esse déficit entre tarifas é pago pela Prefeitura, mas não tem sido suficiente, segundo o presidente do Sindiônibus, Dimas Barreira, com subsídio mensal de R$ 14,5 milhões. Também nesta terça, o prefeito Evandro Leitão informou que discute com o Governo do Ceará uma ampliação na ajuda que ele dá para que a gestão consiga pagar mais subsídio. 

Nesta terça, a Empresa de Transporte Urbano de Fortaleza (Etufor) informou que segue "em diálogo com as empresas operadoras para garantir o pleno restabelecimento do serviço, priorizando o atendimento à população e a regularidade da operação". 

Já o Sindiônibus, indicou que a decisão das empresas de retornarem a normalidade das linhas foi um “esforço coletivo”, e que não houve verba extra e nem avanço na negociação. Ao Diário do Nordeste, Dimas Barreira relata que o retorno é fruto de um esforço para "melhorar o ambiente" de tratativas do déficit financeiro.

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