Nova onda de Covid: o que são subvariantes e qual o risco das mutações da Ômicron no Ceará?

Mudanças genéticas se tornam mais transmissíveis e especialistas alertam medidas necessárias em meio ao aumento de casos

Escrito por Lucas Falconery , lucas.falconery@svm.com.br
Subvariantes
Legenda: Transformações no coronavírus o deixam mais transmissível e com potencial de superar a proteção das vacinas
Foto: Shutterstok

Você está cansado dos impactos da pandemia, todos estão, exceto o próprio coronavírus, que encontra formas de continuar se propagando por meio de mudanças genéticas. Daí, não bastassem as variantes, temos subvariantes como BA.1, responsável pela onda de infecções no início de 2022. Agora, o alerta dispara com a BA.4 e a BA.5.

Esses conjuntos de letras e números são todos originados da variante Ômicron e monitorados pela Rede Genômica da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), que indica a predominância da BA.1 no Ceará. No País, já existe a presença das subvariantes BA.4 e BA.5.

Isso preocupa, porque ambas estão associadas ao aumento expressivo de casos nos Estados Unidos, e em países da África e da Europa. As duas podem substituir a BA.2, já confirmada no Ceará, que veio depois da BA.1, causadora da 3ª onda da Covid.

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A inserção dessas subvariantes acontece nesta sequência de trocas e o movimento está próximo do Estado. Na vizinhaça, Pernambuco detectou a BA.4 nesta semana, como contextualiza Fernando Dias, doutor em Ciências da Saúde e membro da Rede Genômica da Fiocruz Ceará. 

“A gente viu uma queda bem considerável do número de casos, mas agora está começando a subir de novo. Se a gente ver a média móvel, há 20 dias, estava 15 mil novos casos e agora está em torno de 40 mil no Brasil”, observa sobre o quadro geral da doença.

No Ceará ainda não há confirmação da BA.4 ou BA.5, mas isso pode ser porque o coronavírus está mais escondido. Com pouca testagem e a falta de notificação dos autotestes, o monitoramento está prejudicado.

“Uma coisa que, na verdade, tem enfraquecido muito a vigilância genômica é esse aumento assim explosivo de autoteste, porque a amostra positiva acaba não sendo encaminhada para serviço de vigilância estadual”, frisa Fernando.

Grande parcela da população já está vacinada e a infecção, às vezes, é pouco sintomática ou assintomática. Então, podem não saber e não fazer o teste
Fernando Dias
Membro da Rede Genômica da Fiocruz Ceará

Se a infecção pode passar despercebida em alguns pacientes, qual o risco das subvariantes? Primeiro, o vírus se torna altamente transmissível, ainda mais do que a forma original da Ômicron.

Mudanças no vírus
Legenda: Mudanças no vírus podem causar escape vacinal. Isso significa novas chances de infecção em curto espaço de tempo mesmo com a vacinação.
Foto: Shutterstok

Depois, essas mudanças ameaçam a proteção que as vacinas aplicadas oferecem ao corpo e também podem ter sequelas ainda desconhecidas, como enfatizou a epidemiologista Lígia Kerr em entrevista ao Diário do Nordeste.

“Estas variantes passam pela nossa imunidade causada pela vacina ou pela própria doença, ou seja, você pode ter a doença novamente, e não sabemos, ainda, quais os efeitos que esta doença possa ter em nosso organismo”, completa.

Mesmo sem uma testagem intensa, os cientistas já começam a perceber a circulação do vírus com as novas roupagens.

“Por não estarmos testando muito, não sabemos, ao certo, que variantes estão circulando. Estudo do Instituto Todos pela Saúde entre laboratórios particulares, mostra que, provavelmente, a variável BA.2, BA.4 e BA.5 são as mais prováveis”, aponta Lígia.

O estudo citado pela especialista, publicado no dia 10 deste mês, mostra o aumento na proporção de casos prováveis das subvariantes BA.4 e BA.5 da Ômicron, de 10,4% a 44% em 4 semanas. Foram analisados dados de 123.829 testes.

O infectologista Keny Colares frisa dois perigos desse movimento: “Com essas mudanças, ganha uma capacidade maior de se transmitir e de driblar nossa proteção do sistema imune, causando mais casos. Tanto aumenta a pressão no sistema de saúde como o número de casos graves proporcionalmente”, conclui.

As subvariantes do coronavírus são mais graves?

As subvariantes do coronavírus se tornam, progressivamente, mais transmissíveis. Isso não significa que a gravidade da doença causada por essas novas formas sejam mais fortes, mas não deixa de ser um perigo. Pelo contrário.

“Alguns cientistas acreditam que essas mutações no genoma do vírus, definindo essas linhagens, é mais transmissível, pode estar relacionado com a questão do escape vacinal”, completa Fernando Dias.

Um desses cientistas é Keny Colares, porque esse potencial é criado no processo de mudança genética do vírus e exige uma atualização da proteção, como explica.

Testagem
Legenda: Testagem continua como ferramenta relevante para o controle da doença
Foto: Thiago Gadelha

“A própria Omicron, na medida em que vai se multiplicando, tem pequenas mudanças e acaba formando a BA.2, BA.3, BA.5. Claro que a diferença da Alpha para a Ômicron é muito maior do que entre a BA.1 e BA.2, porque são parentes próximas”, completa.

Aparentemente, essas diferenças são suficientes para fazer com que esse vírus consiga infectar melhor e driblar um pouco a proteção que a pessoa tenha de infecções que ela já teve no passado vacinas que ela já recebeu no passado
Keny Colares
Infectologista

Com isso, há maior chance de uma pessoa ser infectada mais uma vez em um curto espaço de tempo. Além disso, quando vários pacientes são contaminados, o sistema de saúde pode ser sobrecarregado.

Cuidados para evitar o contágio por subvariantes:

  • Manter a vacina com doses de reforço em dia
  • Usar adequada de máscaras
  • Testar a presença de sintomas gripais
  • Evitar aglomerações durante aumentos de casos

As mudanças no vírus acontecem, principalmente, no fragmento conhecido como Proteína S do microorganismo. Por isso, cientistas buscam vencer, mais uma vez, a doença por meio de novas vacinas.

“Já estão sendo feitos alguns estudos na tentativa de desenvolver vacinas para as novas variantes que vem surgindo, com destaque aí para Omicron, ou vacinas com grande capacidade de pegar uma parte do vírus que não muda tanto”, completa Keny.

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