De famosos a rifas: campanha busca pagar tratamento para menina de 12 anos com câncer raro

Técnica para ajudar Letícia Neves custa R$2,5 milhões e tem parte do processo realizada nos Estados Unidos

Escrito por Nícolas Paulino , nicolas.paulino@svm.com.br
Legenda: Letícia foi diagnosticada com câncer agressivo em janeiro, após uma bateria de exames.
Foto: Arquivo pessoal

“Foi de repente”. Assim foi descoberto o câncer raro da potiguar Letícia Maria Neves, 12, que se mudou com a família para Fortaleza, no início do ano, a fim de tratar a doença. A menina é alvo de uma vaquinha de financiamento coletivo que busca arrecadar R$ 2,5 milhões para custear um novo tratamento, aprovado recentemente no Brasil.

A família de Letícia é natural de São Miguel, no interior do Rio Grande do Norte. Foi lá onde, em janeiro, a garota recebeu o diagnóstico de Linfoma de Burkitt, após passar mal comendo uma pizza no mês anterior. Até então, ela não demonstrava sinais clínicos de nenhuma doença, segundo a irmã, Luara Neves.

De lá para cá, são 10 meses “morando” em hospitais. Primeiro, no Estado natal. Depois, veio um semestre em Fortaleza, para onde se mudou para fazer quimioterapia em um hospital particular. Sem efeito, foi transferida para Curitiba há dois meses, onde aguardava um transplante pediátrico de medula óssea. 

Porém, o procedimento não foi realizado porque o linfoma não regrediu mesmo após oito sessões de quimioterapia. “A gente entrou em desespero”, confessa a irmã.

A “última esperança” da família é um tratamento específico aprovado há três semanas no Brasil, dentro da tecnologia de Car-T Cell (utilizando células geneticamente modificadas), cujo valor é de 400 mil dólares - cerca de R$ 2,5 milhões. Parte dele é feita nos Estados Unidos. 

Por isso, a família abriu uma campanha nas redes sociais para auxiliar na arrecadação do valor. Desde a última quinta-feira (20), a vaquinha já reuniu 33% do valor total. A corrida agora é contra o tempo.

“Nós conversamos com outras mães de crianças que precisaram desse tratamento e que tiveram que sair do país para conseguir. Elas falaram que tentaram a judicialização, mas não obtiveram sucesso, então nos encorajaram a fazer a vaquinha”, conta Luara.

Legenda: Natural do Rio Grande do Norte, Letícia realizou parte do tratamento em Fortaleza.
Foto: Arquivo pessoal

Mobilização dentro e fora das redes

Com a urgência do tratamento, a família se reuniu com amigos para promover a campanha o máximo possível no ambiente digital. Um grupo de troca de mensagens funciona como “quartel-general” para organizar o disparo das peças, em horários pré-determinados, a fim de aumentar o alcance.

4 milhões
de visualizações já foram atingidas no principal vídeo da campanha.

Segundo Luara, de compartilhamento em compartilhamento, a divulgação busca o apoio de famosos e influenciadores digitais. Recentemente, o cantor Wesley Safadão e a influenciadora Juju Teófilo gravaram vídeos sugerindo ajuda a Letícia Neves.

A gente está tentando contato com todo mundo, pessoas que conhecem pessoas que conhecem influencers. Procuramos pessoas que possam levar essa história. Claro que a gente fica muito feliz com pessoas que podem ajudar com mais, mas também é bem-vindo quem ajuda com o pouco que tem.
Luara Neves

Legenda: Aos 12 anos, Letícia é fã de livros de fantasia.
Foto: Arquivo pessoal

Contudo, a mobilização também segue fora das redes. Segundo Luara, em São Miguel, até rifas estão sendo organizadas para contribuir. A cidade de pouco mais de 23 mil habitantes se articula pelo boca a boca e por canais práticos, como redes sociais e rádios.

Em paralelo, segue uma campanha tão importante quanto: a de orações pela saúde de Letícia, para que a menina fique bem durante todo o tratamento. “Oração faz a força, faz a diferença, numa corrente também muito grande. É uma onda do bem”.

“Ela não perde a fé”

Luara descreve a irmã como uma “criança de muita fé”, bondosa, boa aluna e apaixonada por livros, especialmente os de fantasia. Só neste ano, foram cerca de 50 exemplares lidos.

Além disso, tão jovem, se transformou em exemplo de determinação para a própria família.

É um momento muito delicado e bem difícil pra ela, mas em nenhum momento afetou a fé dela. A Letícia não é uma criança que questiona, não é uma pessoa que se pergunta o porquê com ela. A fé dela tem movido a gente e faz com que a gente não desista, porque a força que ela tem é surreal.

A irmã revela que, mesmo quando está com dor, Letícia tenta sorrir.

“Ela tem muita garra, muita vontade de vencer, e eu sei que a gente vai vencer. Estamos nos dedicando o máximo para que ela consiga o tratamento e, se Deus quiser, vai dar tudo certo”.

Veja também

O que é Car-T Cell?

De acordo com a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), essa tecnologia reprograma geneticamente células do sistema de defesa do próprio indivíduo para reconhecer e combater seu tumor.

Ela é utilizada em pacientes com linfomas de células B (produtoras de anticorpos), em casos de reaparecimento da doença ou de resistência ao tratamento padrão.

No processo, as células T do paciente são coletadas e enviadas para um centro de fabricação (no caso de Letícia, nos Estados Unidos), onde são geneticamente modificadas, recebendo um novo gene que codifica uma proteína específica.

Essa proteína direciona as células T para matar células do câncer que apresentem um antígeno específico em sua superfície. Depois de modificadas no laboratório, as células são cultivadas e formuladas em suspensão farmacêutica para compor o produto que será aplicado no paciente.  

O que é linfoma de Burkitt?

De acordo com o Instituto Nacional de Câncer (Inca), o Linfoma de Burkitt (LB) é um linfoma de células B maduras que ocorre em todas as idades, mas é mais comum na infância. A doença apresenta crescimento rápido e agressivo.

O linfoma de Burkitt clássico é endêmico na África Central. Já na forma esporádica (não africana), predomina a doença abdominal, podendo causar obstrução intestinal.

O diagnóstico precoce é fundamental para o tratamento desse tipo de linfoma. Na maioria dos casos, o tratamento é realizado com quimioterapia.

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