De depressão a tentativas de suicídio, Fortaleza tem média de 700 internações psiquiátricas por mês
Casos são atendidos em hospitais das redes pública, privada e da conveniada ao SUS
Uma saúde mental desequilibrada, tanto quanto a física, pode debilitar o corpo e exigir hospitalização. Em Fortaleza, cerca de 700 pacientes, em média, são internados por transtornos psiquiátricos em hospitais públicos e privados todos os meses.
De janeiro a junho deste ano, mais de 4 mil internações foram registradas no Hospital de Saúde Mental de Messejana (HSM) e nas 3 unidades que possuem leitos de retaguarda: Instituição Espírita Nosso Lar, Hospital Psiquiátrico São Vicente de Paulo e Sopai.
A quantidade de hospitalizações, aliás, supera o número de leitos existentes – que é o mesmo nas instituições conveniadas há pelo menos 3 anos (desde 2019), de acordo com informações da Secretaria Estadual da Saúde (Sesa):
- Sopai: 25 leitos;
- Hospital Psiquiátrico São Vicente de Paulo: 130 leitos;
- Instituição Espírita Nosso Lar: 160 leitos.
Já o Hospital de Saúde Mental de Messejana informou apenas a quantidade atual de vagas para pacientes com transtornos psiquiátricos: são 33 leitos emergenciais e 180 de internação.
pacientes passaram mais de 24 horas aguardando um leito no HSM, em julho. No mês anterior, 258 amargaram essa espera.
Quando um transtorno mental leva à internação?
Hospitalizar um paciente com transtorno mental é, hoje, uma “medida de exceção”, como explica o psiquiatra Helder Gomes, diretor clínico do HSM. “Ele deve estar integrado à sociedade, mas quando causa risco a si e a terceiros, a internação é indicada”, destaca.
O médico descreve que quando o transtorno leva a agressividade e agitação intensa ou quando há tentativa de suicidio, pode ser momento de hospitalar o paciente até que seja estabilizado.
Os transtornos mentais devem ser tratados o mais precocemente possível: quanto antes, mais tranquila será a solução. Mas há um estigma da população: a pessoa sente as queixas, percebe, e muitas vezes deixa pra lá. Quando procura auxílio, já agravou.
Helder pontua que os casos que mais levam à internação são de esquizofrenia, transtorno bipolar, dependência química e depressão. “O paciente recebe atendimento multidisciplinar, para que seja estabilizado e retorne ao convívio familiar e social, que é o objetivo”, cita.
Rede insuficiente
O HSM e os hospitais de retaguarda têm, em geral, mais internações do que leitos abertos. O diretor ressalta que essa situação se reflete no Brasil e no mundo, uma vez que “a pandemia aumentou os transtornos mentais na população e, por efeito, a demanda”.
“Foi um período inédito na vida de todos nós, de adoecimento, pessoas que perderam entes queridos, luto. O uso de substâncias também cresceu, e ele muitas vezes é um fator de risco pra que internações aconteçam”, destaca Helder.
Uma das saídas, destaca o psiquiatra, é fortalecer a prevenção. “Devemos investir cada vez mais nos CAPS, no atendimento ambulatorial, pra que a pessoa não precise chegar à internação. E trabalhar esse estigma que a população tem”, avalia.
“Quando estamos com diabetes, fazemos exames e tratamos. Na psiquiatria, não, há um preconceito. A maior parte dos pacientes internados já passou por atendimento antes, mas não fez o tratamento recomendado. E isso interfere.”
Internações na rede privada
A reportagem contatou também duas das principais operadoras de planos de saúde do Ceará para saber sobre a evolução da demanda de internações psiquiátricas nos hospitais privados, mas recebeu retorno apenas da Unimed Fortaleza.
No Hospital Regional da Unimed (HRU), foram registradas, até julho, 194 internações de pacientes com transtornos mentais, uma média superior a 20 por mês (janeiro, 18; fevereiro, 21; março, 22; abril, 24; maio, mês líder, 37; junho, 28; e julho, 23 pessoas hospitalizadas).
Tentativas de suicídio, ideação suicida e autolesão são as principais causas de internação. Os pacientes ficam, em média, de 5 a 8 dias hospitalizados.
Em nota, a empresa explicou que esses casos “passaram pelo hospital para primeiro atendimento e parecer psicológico e psiquiátrico; para internação ou para direcionamento às instituições especializadas e referências nessa assistência”.
O médico Jurandir Marques, diretor clínico do HRU, observa que a demanda “aumentou bastante” após a chegada da pandemia, o que, de certo modo, já era “esperado” como consequência do isolamento social.
Nós sabíamos que o resultado seria esse, depois de um momento tenso como a pandemia, com todo mundo isolado, tendo que modificar drasticamente as suas rotinas – que é uma das coisas que mais provocam depressão.
O gestor aponta que o hospital não possui ala psiquiátrica, já que “quanto menor a quantidade de pacientes em leitos psiquiátricos específicos, melhor”, mas que dispõe de leitos adaptados para o perfil de pacientes, caso seja necessário.
“Há muitas tentativas de suicídio, pacientes com autolesão e os que estão em processo de depressão e chegam dizendo que estão com ideação suicida. É importante que busquem atendimento, porque, geralmente, em menos de 48h a ideação evolui para tentativa”, alerta.
Caso você esteja se sentindo sozinho, triste, angustiado, ansioso ou tendo sinais e sentimentos relacionados a suicídio, procure ajuda especializada em sua cidade. É possível encontrar apoio em instituições como o Centro de Valorização da Vida (CVV), os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS). O CVV funciona 24 horas pelo telefone 188 e também atende por e-mail e chat (acesse www.cvv.org.br). Os Caps oferecem ajuda profissional. No Ceará, procure os Caps (veja a relação completa das unidades de Fortaleza) e o Hospital de Saúde Mental, telefone: (85) 3101.4348.
ONDE BUSCAR AJUDA?
Centro de Valorização da Vida (CVV)
Atendimento 24h
Fone: 188
Corpo de Bombeiros Militar do Ceará
Núcleo de Busca e Salvamento
Av. Presidente Castelo Branco, 1000, Moura Brasil, Fortaleza.
Fone: 193