Com quase 300 anos de diferença, conheça as cidades mais novas e mais antigas do Ceará
O Diário do Nordeste mostra em uma série de reportagens as mudanças no mapa cearense com a criação e extinção de municípios
Só no início da década de 1990, com a criação de seis cidades, o mapa cearense foi definido como o conhecemos hoje: dividido em 184 municípios. Há mais de 300 anos, contudo, eram apenas 16 cidades, que deram origem aos novos territórios por influência econômica, cultural e até por estratégias políticas.
Isso faz com que o Ceará tenha Aquiraz, de 323 anos, como a cidade mais velha e o trio Choró, Itaitinga e Fortim, de 30 anos, como o mais jovem. As informações são parte do livro “Formação do Território e Evolução Político-Administrativa do Ceará”, publicado pelo Instituto de Pesquisa e Estratégia Econômica do Ceará (Ipece).
Os períodos históricos, do Brasil Colônia, passando pela Ditadura Militar, até a Nova República, reformularam o desenho do mapa do Ceará com a divisão dos territórios para criar novas cidades.
Número de cidades criadas em cada período histórico
- Período colonial (até 1822): 16
- Império (1823 a 1889): 48
- República Velha (1890 a 1929): 23
- Era Vargas e República Populista (1930 a 1963): 54
- Ditadura Militar e Nova República (1964 a 1992): 43
Para entender essas mudanças no mapa, vamos voltar para 1699. Naquele ano, a ocupação no Estado começou na Vila de Aquiraz, como um território estratégico para a defesa do território, conforme a publicação. No início, o critério para a ocupação dos espaços também estava ligado à sobrevivência.
“A criação das cidades se dava muito relacionada à proximidade de fontes de água doce, que é uma marca interessante”, resume Carlos Farrapeira, doutor pelo Programa de Pós-Graduação em Geografia da Universidade Federal do Ceará (UFC).
As divisões territoriais eram muito marcadas pelo potencial econômico e identificação do ambiente com determinadas populações que lá viviam, como grupos indígenas. Esse municípios também eram reconhecidos pelo potencial ambiental
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Só em 1725 anos depois foi criada a Vila de Fortaleza - espaço que hoje dá lugar à capital cearense - também ocupada devido à posição litorânea. Mas como aconteceu a ocupação na área rural?
A criação de gado foi determinante para a permanência, movimentação da população e a urbanização desses espaços no período colonial. Em 1822 já havia uma concentração populacional de Vilas ao longo dos Rios Jaguaribe-Salgado, Acaraú e do Coreaú.
Cidades mais velhas do Ceará e ano de criação:
- Aquiraz (1699)
- Fortaleza (1725)
- Icó (1735)
- Aracati (1747)
- Viçosa do Ceará (1759)
- Caucaia (1759)
- Baturité (1762)
- Crato (1762)
- Sobral (1766)
- Granja (1776)
- Quixeramobim (1789)
- Guaraciaba do Norte (1791)
- Russas (1799)
- Tauá (1801)
- Jardim (1814)
- Lavras da Mangabeira (1816)
Aquiraz, como o primeiro município criado no Estado, pode ser definido como "porta principal pela qual terão de passar todos os cronistas que pesquisarem a história do Ceará", como resume a prefeitura da cidade, que foi a primeira vila da Capitania do Ceará, e depois primeira capital.
Um dos municípios cearenses mais importantes, povoados e visitados por turistas, Aquiraz guarda importantes equipamentos históricos. A Igreja Matriz, como reforça a própria gestão municipal, "é obra de rico valor histórico, pois datando a sua construção de 1769, ainda guarda nos seus altares as velhas imagens do Hospício dos Jesuítas".
Outro monumento histórico de Aquiraz, como cita o IBGE, é a Casa da Câmara, "construção sólida, cujas paredes têm 1 metro de espessura" e cujo mobiliário inclui "uma grande mesa, trabalhada em puro jacarandá e que serviu para despacho dos capitães-mores".
Mudanças atuais
No outro extremo da história do Estado, em dezembro de 1990, o Ceará ganhou duas cidades: Ararendá, originada de Nova Russas, e Catunda, que foi desmembrada de Santa Quitéria.
Já em março de 1991, surgiu a cidade conhecida pelas praias paradisíacas: Jijoca de Jericoacoara - antes um território de Cruz. Por fim, o Estado ganhou não uma, mas três filhas caçulas em 27 de março de 1992.
Naquele dia foram criadas as cidades de Choró, que antes era parte de Quixadá, além de Itaitinga (Pacatuba) e Fortim (Aracati). O trio completou 30 anos em 2022 e essas transformações no mapa acontecem num contexto diferente.
Os últimos 50 anos modificaram o processo de emancipação dos municípios que deixou de ter maior relação com a economia rural para estar atrelado à urbanização. A industrialização, por exemplo, tem um papel relevante.
A metropolização dos territórios veio como consequência da reestruturação produtiva e de abertura de mercado, em resposta à crise capitalista mundial, como considera o estudo do Ipece. A criação de industrias, então, mudou a forma de habitar e de percorrer as cidades de uma região metropolitana.
Cidades mais jovens do Ceará e ano de criação:
- Ararendá (1990)
- Catunda (1990)
- Jijoca de Jericoacoara (1991)
- Choró (1992)
- Itaitinga (1992)
- Fortim (1992)
Antônia Alves da Silva, de 56 anos, sempre viveu no lugar conhecido como Choró - antes território de Quixadá -, mas que só se tornou cidade quando ela tinha 26 anos. Em 1993, Antônia se tornou agente de saúde e passou a percorrer o território onde sempre viveu de uma nova forma.
"Hoje a gente tem mais acesso às coisas, facilitou (os serviços) para os idosos, mas o mercado é que ainda é muito lento. Poucas pessoas ficam no próprio município, quando é dia de pagamento vão todos para Quixadá", pondera. No convívio com a cidade, ela percorre os distritos de Boqueirão, Barreiras Brancas e Riacho Verde cotidianamente.
Entre as principais vantagens da mudança, a administração do território ajuda a população a enfrentar momentos de maior dificuldade, como seca.
"Para nós foi um motivo de muita alegria, não foi muito fácil, mas teve uma grande parceria de uma comissão planejada para governar. Todo mundo ficou satisfeito, porque facilitou muito a vida dos choroenses, quando se tornou cidade e hoje já tem 30 anos", completa.
Rigidez nos critérios
Os seis municípios mais jovens do Ceará são os únicos que surgiram após reformulação nos critérios para a criação de cidades estabelecidos na Constituição de 1988. Antes disso, o processo era mais flexível e houve a chamada “farra dos municípios” quando vários distritos se tornaram cidades.
Para se ter uma ideia de como o mapa de um estado pode ser moldável, vale observar os exemplos de Ararendá e Catunda. As duas foram criadas em 1963, mas extintas pela Lei Nº. 8.339 de 1965.
Ou seja, quase três décadas depois voltaram a ganhar o título de município e permanecem com esse status. Outro exemplo da dinâmica de mudanças na classificação dos territórios fez com que 130 cidades deixassem de existir por volta da década de 1960.
Então, o que explica a criação e a extinção de cidades no Ceará? A economia responde muito sobre essa questão. Por exemplo, após a década de 1950, diversos distritos fortaleceram o comércio e ganharam porte para a independência.
Também há uma questão política, porque algumas cidades já nasceram para homenagear personalidades ou devido ao interesse em verbas públicas repassadas aos municípios, como explica Rafaela Martins, gerente de Estatística, Geografia e Informações do Ipece.
“A vantagem política, no que diz respeito a criação de um município, é grande - alguns estudos falam que essa criação implica num quantitativo enorme de surgimento de cargos, desde o prefeito até o assessor e terceirizados”, dimensiona.
Além disso, os moradores de um mesmo lugar compartilham histórias entre e com a terra, como analisa Rafaela.
“Existem questões sociais, identitárias, culturais, porque alguns municípios se destacam - financeiramente e culturalmente - e gera na população a vontade de ter sua independência”, explica.
Municípios que completam 30 anos em 2022
- Choró
Primeiro um povoado, depois algumas fazendas, vila, distrito e hoje município. Esse foi o percurso da cidade de Choró, a cerca de 180 km de Fortaleza, segundo informações do IBGE.
O antigo distrito se originou no contexto da seca vivenciada pelo sertão cearense, quando foi necessário construir um açude. A construção do corpo d'água, então, atraiu gente em busca de trabalho.
"Muitos resolveram ficar, construíram famílias, criaram laços e aos poucos ia surgindo o Choró de hoje", narra publicação no site da prefeitura. Em 2022, a cidade completa 30 anos.
- Itaitinga
A cidade cujo nome significa "Riacho das pedras" nasceu a partir do distrito de Cajazeiras, sendo elevada ao posto de município em março de 1992. Hoje, é parte da Região Metropolitana de Fortaleza.
As terras às margens do Rio Coaçu, como lembra o IBGE, eram habitadas por etnias indígenas como os Pitaguary e Jenipapo-canindés; e teve os rumos modificados com a construção da BR-116, nos anos 1930 - quando foi construída residência para os engenheiros da obra.
Entre as décadas de 1960 e 70, a estrada que liga Itaitinga e Pacatuba teve parte do percurso inundada pelos açudes que abasteceriam Fortaleza.
"Das tribos indígenas, da residência do atual Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT), do extrativismo, da construção dos Açude Gavião e Açude Pacoti/Riachão, surgiu Itaitinga", aponta a prefeitura.
- Fortim
Diz-se na História que os primeiros pés não-indígenas que habitaram Fortim foram os do explorador português Pero Coelho de Souza, que acampou no território onde hoje fica o município.
Ele fundou lá - ou apenas nomeou - o Forte São Lourenço de Forte Nova Lisboa, que viria, depois, a ser chamado de "Fortinho". Hoje, Fortim, composto por 6 distritos: Fortim, Barra, Campestre, Guajiru, Maceió e Viçosa, conforme o IBGE.