Ciclovia arborizada na Avenida Dom Luís terá projeto alterado; veja mudanças

Prefeitura de Fortaleza explica ajuste técnico foi avaliado por secretarias e não será regra para as próximas estruturas cicloviárias

Escrito por
Clarice Nascimento clarice.nascimento@svm.com.br
Ciclista de boné e mochila branca pedalando sobre uma faixa de pedestres em uma rua urbana movimentada. Carro preto estacionado à esquerda e prédios ao fundo.
Legenda: Estruturas das ciclovias haviam sido construídas, mas foram retiradas após incidentes com carros
Foto: Thiago Gadelha

O projeto de infraestrutura cicloviária da Avenida Dom Luís, no bairro Meireles, em Fortaleza, passou por um ajuste técnico que modifica os canteiros localizados próximos às esquinas e às entrada e saída de estabelecimentos. A separação, que inicialmente seria física, será substituída por elementos de sinalização — como pintura e alargamento das calçadas — e tachões no asfalto.

As estruturas de concreto haviam sido construídas durante as obras que se iniciaram em 22 de setembro deste ano, mas foram retiradas após incidentes com automóveis. No momento, os locais foram recapeados e devem receber as pinturas nos próximos dias.

Em entrevista ao Diário do Nordeste, Victor Macedo, coordenador de mobilidade urbana da Secretaria Municipal da Conservação e Serviços Públicos (SCSP), explica que foi realizada uma ação conjunta com a Autarquia Municipal de Trânsito e Cidadania (AMC), Secretaria de Infraestrutura (Seinf) e outros órgãos para chegar até essa mudança. 

“Foi uma análise de várias secretarias em conjunto em que se optou por modificar como seria essa infraestrutura da esquina, especificamente. Em vez de um canteiro central, ela vai ser feita com elementos de sinalização e tachões. Vai continuar tendo lá essa proteção, só não vai ser agora física de concreto”, explica. 

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Nas últimas semanas, grupos de ciclistas se posicionaram nas redes sociais e realizaram uma intervenção na avenida contra a mudança. Segundo a comunidade, os canteiros são os principais responsáveis por melhorar a percepção de segurança viária porque reduzem a velocidade dos veículos no momento da conversão. 

Esses espaços são uma solução adotada em várias cidades pelo mundo e até mesmo recomendadas pelos manuais de desenho viário. Em nota, a Pasta reforça que a segurança dos ciclistas, pedestres e motoristas não será comprometida e que “técnicos da SCSP avaliam a instalação de novos elementos de sinalização nas esquinas, conforme as melhores práticas internacionais de mobilidade urbana”. 

Ciclista de capacete e mochila pedalando em uma faixa segregada delimitada por linhas vermelhas. Trânsito de carros à direita e paisagem urbana com prédios altos ao fundo.
Legenda: Ciclistas defendem que estruturas seriam positivas porque ajudam a reduzir a velocidade dos veículos no momento da conversão.
Foto: Thiago Gadelha

“A segurança viária é o principal elemento desse projeto e eu diria que é até mais importante que a arborização. Isso é avaliado e por isso que a gente simplesmente não retirou os canteiros. Estamos avaliando outras soluções com sinalização viária para que possa compatibilizar os dois tipos de estrutura e de proteção”, ressalta Macedo. 

O que foi alterado?

A decisão do ajuste foi tomada após alguns incidentes com veículos que colidiram o pneu nas estruturas. Logo, a solução foi pensada pela necessidade de compatibilizar a proteção e evitar impactos negativos, considerando também o risco em esquinas para ciclistas e pedestres. “É um pouco semelhante ao que nós já temos nas esquinas seguras, em que são pintados de verde o prolongamento da calçada, uma região em que o carro não pode estacionar”, diz. 

Cena de rua mostrando um “alargamento de calçada exclusivo para pedestre” pintado de verde-claro com sinalização. Motociclista e pedestre em primeiro plano, com trânsito e árvores ao fundo.
Legenda: Nas esquinas seguras, as calçadas são alargadas para permitir a passagem de pedestres e evitar que motoristas estacionem
Foto: Helene Santos/SVM

Ele exemplifica que essa solução vai manter a proteção das esquinas, mas não de forma física “justamente para evitar incidentes”. Essa mudança, segundo a gestão, é um ajuste no projeto referente à obra na Av. Dom Luís, não sendo uma regra a ser aplicada nas futuras ciclovias. Cada via será avaliada caso a caso, considerando fatores como volume de pedestres e ciclistas e a presença de conversão de ônibus.

“Na Dom Luís, tem algumas ruas com conversão de ônibus, então isso foi levado em consideração. A próxima via que vai receber a obra é a Coronel Carvalho e lá é outro contexto”, diz o coordenador. 

Na avenida que cruza o bairro Vila Velha, a ciclovia ficará no canteiro central e, provavelmente, não terá esse impacto nas esquinas. O intuito da Prefeitura é que 50 km da malha cicloviária seja transformada em ciclovias arborizadas. 

Victor também explica que os canteiros receberam ondulações do lado de fora, uma estratégia para construir jardins de chuva. “Isso vai possibilitar que, quando chover, a água ague as plantas diretamente. Nos canteiros tradicionais, às vezes ficam empoçados do lado de fora e a planta seca dentro. Essas aberturas vão possibilitar justamente que a água entre, no que a gente chama de solução baseada na natureza”, reitera. 

Andamento da obra é de 30%

O coordenador ressalta que essa alteração no projeto não impactou no andamento das obras. “Não houve paralisação, só mudamos o fluxo”, pontua. Até o momento, o status é de aproximadamente 30% e o prazo final segue mantido para 30 de novembro. 

O trabalho começou na Rua 8 de Setembro e já alcançou a Avenida Virgílio Távora. Já foram implantados os postes de iluminação mais baixa — que visam melhorar a visibilidade dos ciclistas — e o plantio de árvores no trecho inicial será iniciado em breve, seguido pelo recapeamento asfáltico e sinalização.

A gestão informou que, após a finalização do trecho até a Virgílio Távora, a obra continuará no trecho seguinte.

Esquema da Av. Dom Luís durante as obras da ciclovia, mostrando faixas de tráfego, áreas interditadas, saídas de estacionamento e a faixa usada na intervenção.
Legenda: A Prefeitura de Fortaleza pretende realizar as obras em etapas, com bloqueio de uma faixa por trecho de três quarteirões. As interdições vão durar entre 10 e 15 dias.
Foto: Reprodução/SCSP

Projeto de arborização deve alcançar 50 km da malha

Projeto de ciclovia arborizada na Avenida Dom Luís, em Fortaleza, separada da via com carros e ônibus por um canteiro central com árvores floridas de copa rosa.
Legenda: Projeto das ciclovias prevê o plantio de árvores nos canteiros centrais, oferecendo conforto térmico aos ciclistas
Foto: Reprodução/SCSP

Anunciada no fim do mês de setembro pela Prefeitura de Fortaleza, o projeto prevê a construção de ciclovias com canteiros centrais compostos por árvores de médio e grande porte, que irão separar fisicamente as bicicletas de outros veículos. O intuito é que essa medida proporcione o conforto térmico dos ciclista e a segurança de quem pedala.

A avenida Dom Luís, um dos corredores comerciais mais tradicionais da Cidade, é a primeira a entrar no projeto. Atualmente, a via já possui uma ciclofaixa que delimita a área destinada aos ciclistas somente pela pintura no chão e outras sinalizações.

Com a intervenção, o trecho de 1,9 km de extensão — sendo 1,4 km unidirecional e 0,5 km bidirecional — será separado fisicamente com canteiros centrais com árvores, rampas de acesso, paisagismo e iluminação. O investimento para a realização é de R$ 1 milhão por meio do programa Bloomberg Initiative for Cycling Infrastructure (Bici). 

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Dois critérios foram adotados para determinar as vias aptas a receberem a nova infraestrutura: a quantidade de ciclistas que utiliza as ciclofaixas e a existência de espaço físico na via para receber o canteiro central, sem reduzir as faixas para outros veículos. A proposta tem como intuito da medida é estimular o uso desse modal e ampliar o perfil de quem se desloca de bicicleta na cidade. 

Ao Diário do Nordeste, Victor Macedo já havia detalhado que a maioria dos ciclistas de Fortaleza é composta por pessoas de baixa renda e que se deslocam para o trabalho. Esse público é, majoritariamente, de adultos e homens e somente cerca de 20% são mulheres. 

Por meio de um estudo com câmera térmica realizado pela SCSP, observou-se a diferença de temperatura nas áreas arborizadas e sem arborização na avenida Dom Luís. Enquanto a temperatura do asfalto chega a 51 °C em trechos sem árvores, foi percebido que ela cai para 30 °C em locais arborizados, como próximo à Praça Portugal.

Logo, os impactos do novo modelo poderão ser sentidos pela população a curto prazo, em relação à proteção, e a médio prazo, quanto ao conforto térmico. 

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