Casarões centenários em Barbalha formam ‘sítio histórico’ e são tombados; veja imagens

Maioria das construções fica na rua da Igreja Matriz, repleta de sobrados que recontam passado da cidade

Escrito por
Theyse Viana theyse.viana@svm.com.br
Legenda: Casas e sobrados estão na lista de 22 imóveis protegidos por lei como patrimônios de Barbalha e do Ceará
Foto: Reprodução/Google Maps

Olhar para traços arquitetônicos antigos e ser transportado no tempo é sensação comum para quem percorre a Rua da Matriz, no Centro de Barbalha, na Região do Cariri do Ceará. Vários casarões dos séculos XVIII e XIX são testemunhas da história – e foram tombados provisoriamente pelo Governo do Estado.

O aviso de tombamento foi publicado na última quarta-feira (1º) no Diário Oficial do Estado (DOE). No total, 22 imóveis receberam a proteção conjunta, conferida pela Secretaria da Cultura do Ceará (Secult), por formarem a poligonal do “Sítio Histórico de Barbalha”

Legenda: Na Rua da Matriz, número 3, está um sobrado agora protegido por lei, onde já chegou a funcionar um Centro de Educação de Jovens e Adultos (CEJA)
Foto: Reprodução/Google Maps

Veja também

Entre as construções estão palacetes, sobrados e casas, que funcionam hoje como residências, comércios, serviços e até equipamentos culturais. Agora, os bens integram o patrimônio do Estado, e ficam protegidos de intervenções não autorizadas até que haja o tombamento definitivo.

Dos 22 imóveis tombados, 19 ficam na Rua da Matriz, onde está fincada, imponente, a Igreja Matriz de Santo Antônio de Pádua. É uma das vias principais do evento religioso mais tradicional da cidade: a Festa do Pau da Bandeira.

Legenda: Traços arquitetônicos transportam no tempo
Foto: Reprodução/Google Maps

Os outros três prédios tombados ficam no mesmo quadrilátero, nas Ruas Neroly Filgueira e Totonho Filgueira.

Preservação histórica

Legenda: Lateral de casarão histórico no número 102 da Rua da Matriz, em Barbalha
Foto: Reprodução/Google Maps

O tombamento das estruturas centenárias vem quando muitas “já tiveram as características alteradas”, como observa Josier Ferreira, historiador, geógrafo, professor da Universidade Regional do Cariri (URCA) e, sobretudo, barbalhense de berço, testemunha das mudanças sofridas pelas construções.

“A função dessas edificações mudou ao longo do tempo. Mas o importante é que mesmo mudando as funções de serviço, os prédios preservem as formas históricas e arquitetônicas”, frisa o docente.

Josier destaca que “Barbalha é um dos únicos municípios que ainda concentram a maior parte das edificações dos séculos XVIII e XIX”, conjunto arquitetônico em parte “preservado não por políticas públicas, mas porque os donos resolveram manter”.

De economia inicialmente canavieira, Barbalha assistiu ao avanço do comércio sobre as construções históricas, muitas demolidas nesse processo, como recorda o historiador. A vontade de conservar a própria história fez “a sociedade passar a buscar alternativas”, detalha Josier.

Legenda: Casarão Solar Maria Olímpia é um dos imóveis tombados provisoriamente pela Secult em Barbalha
Foto: Reprodução/Google Maps

“No início dos anos 2000, se iniciou a mobilização entre historiadores e autoridades locais em reuniões pra reivindicar esse tombamento. O Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, Iphan, fez um inventário, mas não avançou. O processo foi paralisado”, contextualiza.

Duas décadas depois, “algumas edificações já haviam sido demolidas e foi preciso novo estudo”. O processo chegou a um resultado, ainda que provisório, no dia 25 de setembro deste ano, com o tombamento das provas-vivas da formação da sociedade barbalhense.

Legenda: Residências tombadas preservam, por iniciativa de proprietários, características arquitetônicas de séculos passados
Foto: Reprodução/Google Maps

O professor da Urca alerta, porém, que outras construções centenárias não foram inseridas na lista de tombadas provisoriamente por não formarem uma “poligonal”, ou seja, não estarem dentro do Sítio Histórico da Rua da Matriz. Josier reforça a importância de atentar a elas.

“É necessária a inserção de outras edificações que necessitam ser preservadas, como o Palácio dos Alencar, da família de Bárbara de Alencar. É necessária uma ampliação da poligonal, ou, se não for possível, que essas outras edificações sejam tombadas de forma individual”, sugere o historiador.

De qualquer forma, ele é categórico: “é preciso um trabalho continuado para fortalecer uma consciência patrimonial. Encontrar estratégias de mobilização e inserção da comunidade, de quem faz uso desses espaços, para que vejam a história dos seus antepassados refletida na materialidade da cidade”.

Newsletter

Escolha suas newsletters favoritas e mantenha-se informado
Este conteúdo é útil para você?