Barbalha tem em dois meses de 2022 quatro vezes mais casos de Chikungunya que 2021 inteiro
Já há um registro oficial de morte neste ano no Município, outros três óbitos estão em investigação
Em apenas dois meses de 2022, o número de casos confirmados de Chikungunya na cidade de Barbalha, na região do Cariri cearense, já representa quatro vezes o total contabilizado em todo o ano passado. Em 2021, foram registrados 64 casos e, entre janeiro e fevereiro deste ano, o número de confirmações já chega a 273.
Os números foram levantados, à pedido do Diário do Nordeste, pela Secretaria Municipal da Saúde e representam um salto de 325% em comparação a todo o ano passado.
Diante desta crescente, a titular da pasta, Sheyla Martins, reconhece que Barbalha vive, atualmente, um surto da doença. Conforme avalia, dois fatores ajudam a explicar o súbito aumento dos casos. O primeiro deles, é a chegada da quadra chuvosa.
"Nesses meses iniciais do ano, quando ocorre o aumento das chuvas, sempre esperamos um salto nos casos de arboviroses, é natural", destaca. Outro ponto que, segundo ela, maximou esse quadro de casos confirmados da Chikungunya, foi a pandemia. Diante das restrições sanitárias impostas, os agentes de saúde, ainda segundo Sheyla, não conseguiram "efetivar suas funções" totalmente.
Casos e notificações ano a ano:
- 2020: 36 casos notificados / 9 casos positivos;
- 2021: 154 casos notificados / 64 casos positivos;
- 2022 (jan/fev): 552 casos notificados / 273 casos positivos / 1 morte confirmada
"Uma das principais ações contra as arboviroses é entrar nos domicílios para fazer todo o processo preventivo e checar a existência de focos. Na pandemia, esse trabalho não fosse possível, então isso traz forte impacto e acaba contribuindo para o aumento dos casos", destaca a secretária da Saúde de Barbalha.
Impactos da doença
A médica Jácia Maria Neves Coelho, diretora clínica da pediatria do Hospital e Maternidade São Vicente de Paulo, alerta que a doença atinge diretamente as articulações, podendo deixar dores crônicas por vários anos. Ela ressalta a necessidade de um diagnóstico clínico assertivo e acompanhamento médico para dirimir as chances de sequelas.
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Jácia Neves corrobora com a visão da secretária da Saúde do Município sobre a relação do aumento das chuvas ao salto dos casos confirmados da doença e lembra que, na grande maioria dos pontos de reprodução dos mosquitos Aedes Aegypti e Aedes albopictus - que são os vetores dessa e de outras doenças, como Zika e dengue -, estão dentro das casas.
"É preciso que as pessoas cuidem de suas casas", pontuou. A especialista adverte ainda que a Chikungunya, assim como outras doenças infecciosas, tem um grupo de risco, onde há maior potencial de agravamento de sintomas e sequelas. Esse grupo é composto por idosos, com mais de 65 anos, e crianças menores de 2 anos.
Recém-nascidos acometidos
Com tantos casos em profusão, nenhuma faixa etária está livre da doença, no entanto, alguns grupos têm sido mais afetados. A médica pediatra Luana Barbosa expõe que, "todos os dias, atende entre 10 a 20 crianças com a doença". Conforme explica, os principais sintomas são febre, dor de cabeça, dor intensa nas articulações, manchinhas avermelhadas pelo corpo (exantema) e fadiga.
"Pode também haver sintomas gastrointestinais, como náuseas e vômitos, e, em recém nascidos e lactentes, estamos atendendo casos de Chikungunya bolhosa, onde além desses sintomas principais há o surgeonfish de bolhas, que se assemelham a queimaduras na pele", detalha.
A profissional explica ainda que a Chikungunya pode deixar sequelas nos pacientes desde dores crônicas nas articulações até algumas deformidades esqueléticas, "podendo desencadear artrite reumatoide".
Também há possibilidades de sequelas neurológicas. Já foi descrito o aparecimento de depressão, doença de Parkinson e síndrome de Guillain-Barré após infecção por Chikungunya. Nos recém-nascidos, devido à própria imaturidade do sistema imunológico a doença pode se agravar inclusive levando ao óbito.
Já na forma bolhosa, há a possibilidade de infecção secundárias dessas lesões que se comportam como uma queimadura. Diante de tantas complicações possíveis, Luana Barbosa alerta para a importância do combate aos mosquitos e ressalta que a "Chikungunya pode sim, nos casos graves, levar à morte por alteração na circulação sanguínea levando a choque e falência dos órgãos vitais".
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De acordo com a Secretaria da Saúde de Barbalha, em 2022 há o registro de uma morte confirmada por decorrência da doença e outros três óbitos estão em investigação. Nos anos de 2020 e 2021 não há registro de óbitos no Município.
Ações de enfrentamento
Para o enfrentamento a esse cenário, Sheyla Martins aponta algumas ações já em curso no Município, como a ampliação da sorologia "para identificar qual a doença o paciente foi acometido, se dengue, Chikungunya, ou Zika, e dar um pronto atendimento". Ela também destaca que os bairros de maior incidência estão sendo mapeados para serem monitorados pelas equipes de endemias.
"Além disso, fomos o primeiro Município da região do Cariri a disponibilizar o carro fumacê; temos realizado bloqueio nos quarteirões com bombas costais; e estamos realizando forte trabalho educativa, para que a população de Barbalha possa nos ajudar, pois sabemos que a maioria dos focos estão dentro das casas", conclui.
Como prevenir
A melhor e mais efetiva forma de prevenção é agir contra o vetor, nestes casos, os mosquitos Aedes. Desta forma, é recomendado realizar, periodicamente, vistoria em casa em busca de eliminar possíveis locais de reprodução do mosquito.
Observar se a caixa d’água está vedada e se as calhas não estão acumulando água e realizar a limpeza correta de tanques de armazenamento de água e bandejas de geladeira são outras ações que podem eliminar as possíveis áreas de foco de reprodução do mosquito.
Além disso, recomenda-se a limpeza correta de ralos e vasos sanitários, principalmente em locais que estão sem uso e evitar deixar objetos que acumulem água ao redor da casa, como pneu, garrafas, copos de iogurtes, sacos plásticos e entre outros.