Aldeota é o bairro de Fortaleza com mais infectados pela Covid em 2022; veja mapa da cidade

Dados da Secretaria Municipal de Saúde indicam que Messejana é localidade com maior número de óbitos pela doença

Escrito por Theyse Viana e Thatiany Nascimento , ceara@svm.com.br
Passageiros caminham em plataforma de terminal de ônibus de Fortaleza
Legenda: Aglomeração em ônibus, associada a uso de máscaras inadequadas, formam cenário "vilão" para transmissão da variante Ômicron, segundo epidemiologista
Foto: Thiago Gadelha

A alta velocidade de transmissão da variante Ômicron da Covid em Fortaleza tem se expressado principalmente nos dois bairros mais ricos da cidade: Aldeota e Meireles são as localidades com mais casos novos da doença em 2022.

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A Aldeota somava, até essa segunda-feira (7), 8.856 pacientes confirmados com Covid, desde o início da pandemia. Do total, 2.586 foram diagnosticados somente em 2022. Os dados são de boletins epidemiológicos da Secretaria Municipal de Saúde (SMS).

Em segundo lugar, aparece o Meireles, que tem mais testes positivos (9.187), se considerada a pandemia toda, mas teve menos pessoas infectadas neste ano: foram 2.425 casos registrados pela SMS.

Veja cenário no seu bairro:

Completando a lista de 5 bairros com maior número de novos casos em 2022, aparecem três periféricos: Mondubim (2.010), Barra do Ceará (1.850) e Jangurussu (1.800). Por outro lado, Praia do Futuro I (57), Moura Brasil (68) e Guajeru (89) tiveram os menores incrementos.

Em quantidade de pacientes que morreram por complicações da Covid, é Messejana o bairro da cidade com maior acumulado: desde janeiro deste ano, 13 pessoas perderam a vida para o coronavírus. Aldeota (11), Meireles (11), Antônio Bezerra (10) e Conjunto Ceará (10) completam os 5 primeiros.

Acesso à testagem

O epidemiologista e gerente da Célula de Vigilância Epidemiológica da Secretaria Municipal de Saúde (SMS), Antonio Lima, enfatiza que na análise do atual cenário da pandemia é preciso ponderar que o registro de muitos casos em determinadas áreas pode estar relacionado ao acesso mais fácil a testes.

Esse aglomerado de casos nos bairros de alto IDH é muito em virtude do maior acesso a testes. A Ômicron foi introduzida em dezembro e a grande explosão de casos aconteceu em janeiro. Em 3 semanas, a cidade tava praticamente tomada. Então, é muito provável que esse mapa reflita mais o acesso ao teste do que propriamente a dispersão da variante.
Antonio Lima
Epidemiologista

O especialista reitera, ainda, que a dispersão dos casos em janeiro deve ter sido muito maior do que os dados conseguem refletir. Em relação às mortes, Antônio eplica que a mortalidade ainda é pulverizada.

"Tem um aglomerado na transição do Joaquim Távora, indo um pouco para Regional III. Aglomerados muito pontuais no José Walter, no Planalto Ayrton Senna, no Demócrito Rocha, Pici, eles refletem pulverização. Demonstram que foi muito rápido e disperso", analisa.

Um dos diferenciais da 3ª onda para as demais da pandemia é a rapidez com que os casos atingiram o pico. "Em um mês, entre o dia 20 de dezembro de 2021 e o dia 19 de janeiro de 2022, a gente atingiu o pico", frisa o epidemiologista.

Histórico da disseminação em Fortaleza

O padrão de alta transmissão da Covid em bairros de classes média e alta de Fortaleza foi constatado desde o 1º mês da pandemia na cidade, por meio de estudo de pesquisadores do Programa de Pós-Graduação em Geografia da Universidade Federal do Ceará (UFC) em parceria com órgãos do Governo do Estado.

A pesquisa, feita entre março e abril de 2020, evidenciou que o Meireles, por exemplo, bairro com os primeiros registros de casos da doença na Capital, em 1 mês de pandemia, teve mais casos do que alguns estados do Nordeste, como Paraíba, Piauí e Sergipe.

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Contudo, os pesquisadores verificaram que, após a quarta semana de circulação da Covid na cidade, o contágio se espalhou para os bairros de maior vulnerabilidade socioeconômica, “que possuem serviços essenciais inadequados, com deficiências na oferta de saúde, coleta e tratamento de esgoto”, aponta o artigo. 

“Grupos sociais de baixa renda foram os mais afetados, pois abrigam comunidades densamente povoadas e deficientes em urbanização e habitabilidade, tornando-se os mais vulneráveis ​​ao impacto local da pandemia”, analisa a publicação.

Influência da variante Ômicron

A infectologista Mônica Façanha destaca que a Ômicron, “devido à vacina, tem gerado um percentual de casos graves bem menor do que as variantes anteriores”, mas que é urgente frear a disseminação de novos casos.

“É preciso diminuir a transmissão para que o sistema de saúde aguente e as pessoas possam ser atendidas e ter o tratamento adequado quando precisarem”, observa a profissional de saúde.

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Um dos instrumentos cruciais para prevenir o contágio já é conhecido desde antes da confirmação dos primeiros casos de Covid em Fortaleza, mas ainda é usado de forma incorreta por grande parte da população: a máscara.

Como a Ômicron se transmite com mais facilidade, máscaras de tecido são menos efetivas. A máscara precisa ficar muito bem adaptada ao rosto, não pode ter frestas de ar.
Caroline Gurgel
Epidemiologista e virologista

A epidemiologista e virologista Caroline Gurgel alerta que proteger as vias respiratórias é a principal das medidas preventivas, mas que ainda há “muitas pessoas usando máscaras de pano em ônibus, veículo que já foi apontado como um dos grandes vilões da transmissão”.

“As pessoas são obrigadas a usar N95 no trabalho, mas não fazem isso no percurso até lá. Os aerossóis passam pela máscara de pano. Elas foram uma medida emergencial, mas não servem agora. Além disso, não usam de forma adequada”, frisa a especialista.

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