Mortes por Covid em UPAs crescem 11 vezes em janeiro e têm o maior número desde maio de 2021

Maior número de infectados pela variante Ômicron também levou a doença a pessoas mais vulneráveis, mesmo vacinadas, segundo especialista

Escrito por Nícolas Paulino , nicolas.paulino@svm.com.br
Legenda: Apesar da alta procura de atendimentos, proporção de pacientes graves foi bem menor do que nas duas primeiras ondas.
Foto: Thiago Gadelha

O grande número de confirmações de Covid-19 em janeiro deste ano teve impacto direto nos atendimentos de saúde do Ceará. Porém, também refletiu no aumento de óbitos causados pela doença nas Unidades de Pronto Atendimento (UPAs), principal porta de entrada de pacientes infectados na rede pública.

As mortes nesses estabelecimentos cresceram 11 vezes em comparação com o mês de dezembro: os registros subiram de 10 para 109, de acordo com a plataforma IntegraSUS, gerida pela Secretaria da Saúde do Ceará (Sesa) com base em informações enviadas por 41 UPAs em todo o Estado.

Conforme o gráfico mostra, janeiro foi o mês com maior número de mortes nas UPAs desde maio de 2021. Também foi o único mês desde aquele período que registrou óbitos em todos os dias nesse tipo de estabelecimento. 

Porém, os registros de janeiro são 77% menores que os de março de 2021, o mês mais severo da segunda onda no Ceará, quando a vacinação ainda estava engrenando e a variante Gama, mais grave, fazia um grande número de vítimas.

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Vacinação minimiza riscos

Mas por que, mesmo com mais de 85% da população vacinada com as duas doses em todo o Estado, janeiro teve tantas mortes?

A virologista e professora da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Ceará (UFC), Caroline Gurgel, ressalta que a vacina contra a Covid-19 diminui o risco de morte, mas ele não é zero - aliás, “nenhuma vacina zera”. 

“Uma pessoa que já é muito debilitada pode tomar três doses, se infectar e ainda assim vir a falecer. Inclusive, tem aquelas pessoas que não soroconvertem. Ou seja, você coloca a vacina no organismo da pessoa e ela não produz anticorpos. Existe uma população com essa característica particular e infelizmente, acabam adoecendo mais grave”, explica.

Nesse contexto, como a variante Ômicron, agora predominante no Ceará, é altamente transmissível, também cresce a possibilidade de pessoas mais suscetíveis serem infectadas.

Assim, Caroline Gurgel chama atenção especial para os idosos, que não têm a mesma resposta imunológica de pessoas jovens.

“No idoso, você tem uma infecção generalizada pelo vírus. É algo muito mais grave, o vírus consegue atingir muito mais órgãos do que uma pessoa jovem. Aí vem o idoso que geralmente tem hipertensão arterial, cardiopatia, diabetes, e tudo vai potencializar o fato, mesmo ele sendo vacinado”, lembra.

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Menos casos complexos

Na semana passada, a Sesa também apresentou dados constatando a menor gravidade desse momento da pandemia, a partir dos atendimentos contabilizados em nove UPAs de Fortaleza.

Em maio de 2020, pico da primeira onda, 25% dos pacientes precisavam ser transferidos e internados em unidades de saúde de maior complexidade. Em março de 2021, o percentual foi de 17%. Já em dezembro e janeiro de 2022, apenas 4,59%.

“O principal fator responsável por isso foi a vacinação. As pessoas imunizadas têm quadros menos graves e, consequentemente, têm menos necessidade de UTI e enfermaria”, destacou o secretário estadual da Saúde, Marcos Gadelha.

Por isso, o Governo do Estado tem recomendado a procura pela vacinação até a dose de reforço e o uso de máscaras mais potentes contra a contaminação, como N95 e PFF2, pela alta transmissibilidade da variante Ômicron.

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