9 a cada 10 escolas do Ceará têm velocidade da internet abaixo do adequado ou não são monitoradas

Instituições não possuem fibra óptica e a velocidade da conexão é muito abaixo do ideal para o ensino

Escrito por Gabriela Custódio e Lucas Falconery , ceara@svm.com.br
Adolescente usando computador
Legenda: Falta de internet adequada gera prejuízo para formação de estudantes no ensino público
Foto: Thiago Gadelha

A baixa velocidade da internet atrapalha os estudos em 1.921 (32% das) escolas públicas do Ceará com oferta de educação básica onde a conexão está abaixo de 1 Megabit por segundo (Mbps). Além disso, em outras 3.531 (59%), não há monitoramento da qualidade no acesso. As informações são de um levantamento do Governo Federal, divulgado nesta semana.

Como há unidades sem monitoramento da rede de internet, o levantamento não detalha se há casos sem nenhum tipo de acesso. O Ceará possui 5.913 unidades de ensino público que tiveram as informações visitadas nos dados do Governo Federal.

Segundo Marcial Fernandez, professor da graduação e da pós-graduação em Ciência da Computação da Universidade Estadual do Ceará (Uece) e consultor da Empresa de Tecnologia da Informação do Estado do Ceará (Etice), a medição considera a conexão por estudante, e o parâmetro internacional de qualidade de internet na escola aponta 1 Mbps por aluno como uma taxa razoável.

O professor aponta que uma conexão abaixo desse parâmetro causa prejuízo na formação do aluno. "Sem dúvida, os alunos de uma escola que tenha (velocidade) menor do que 1 megabit por segundo vão ser prejudicados no ensino e na formação. Deve-se observar que a internet hoje é uma ferramenta essencial em toda formação, desde o ensino fundamental até o ensino superior", avalia.

Jovem usando computador
Legenda: Investimento prevê disponibilidade de equipamentos
Foto: Thiago Gadelha

Em todo o Brasil, 86,7% das escolas públicas têm velocidade da internet abaixo do adequado ou não são monitoradas. Com exceção do Rio Grande do Norte e de Rondônia, todos os estados do Norte e do Nordeste têm indicador maior que a média nacional.

O Ceará é o 10º estado do País e o 4º do Nordeste com maior percentual. Ao todo, 92,2% das unidades estão nessa situação, o equivalente a 9 em cada 10 escolas. Na região Nordeste, fica atrás de Pernambuco (94%), Paraíba (93,5%) e Maranhão (93,1%).

O Ministério da Educação anunciou um investimento de R$ 8,8 bilhões para universalizar a conectividade nas escolas brasileiras até 2026.

No Ceará, a análise mostra que em 1.882 escolas (31,8%) a conexão ainda não é de fibra óptica e, devido à baixa qualidade, elas devem ser priorizadas no programa nacional de conectividade.

A fibra óptica é a melhor tecnologia, aponta Marcial Fernandez. "É uma tecnologia que você tem qualidade, tem custo baixo, consegue oferecer o melhor recurso", afirma. Em lugares fora dos centros urbanos, porém, utiliza-se a conexão via rádio.

Além da conexão, o levantamento identificou que 2.519 (42%) das escolas não possuem wi-fi e 4.380 (74%) ainda não têm dispositivos eletrônicos na quantidade adequada. Também foi verificada a rede de energia elétrica e constatado que todas as unidades possuem eletricidade.

Fernandez destaca a quantidade de escolas sem equipamentos na quantidade adequada no Estado e relembra o impacto dessa falta de acesso no período em que, devido à pandemia de Covid-19, as aulas foram ministradas à distância. "É uma questão que tem que ser considerada, pela própria política pública, quando se trata de uma população muito pobre. É necessário haver algum esforço para munir, para fornecer aos alunos um mínimo de condições para eles poderem utilizar a internet de forma adequada", defende.

Com os investimentos, deve ser feita a implantação e manutenção de rede de fibra óptica, de satélites e outras soluções de alta velocidade. A ideia é permitir o uso de vídeos e outras plataformas educativas para a formação nas escolas.

Além disso, o Ministério da Educação propõe que todas as escolas tenham internet sem fio para uso simultâneo das turmas e equipamentos eletrônicos. Isso faz parte da Estratégia Nacional de Escolas Conectadas, que será executada em 5 frentes:

  • A Estratégia Nacional de Escolas Conectadas será executada em cinco frentes: 
  • Disponibilizar energia elétrica por rede pública ou fonte renovável em todas as escolas
  • Expandir a tecnologia de acesso à internet de alta velocidade 
  • Contratar serviço com velocidade que permita o uso de vídeos e outras plataformas educacionais
  • Disponibilizar rede sem fio segura para uso de turmas inteiras
  • Ofertar equipamentos e dispositivos eletrônicos portáteis de acesso à internet

Conexão à Internet no Ceará

Para Fernandez, o Ceará pode ser um dos estados "mais privilegiados" no que diz respeito à logística para instalação de internet nas escolas devido ao Cinturão Digital do Ceará (CDC). O projeto tem o propósito de viabilizar o acesso à internet de alta qualidade a todos os órgãos públicos cearenses.

O consultor da Etice, empresa responsável pela execução do CDC, explica que o projeto está sendo ampliado, em fase de teste, para maior cobertura. "Então acreditamos que até o final do ano ele já esteja com uma capacidade dez vezes superior ao que dispõe hoje, e isso vai propiciar a melhoria da internet nas escolas que já estão conectadas hoje", afirma.

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O professor aponta como "grande desafio" a questão financeira, principalmente no caso da fibra óptica, mas percebe a iniciativa do Governo Federal, com o Escolas Conectadas, como "um bom auxílio" para completar essa oferta.

Além disso, de acordo com Marcial Fernandez, quase todas as escolas da região metropolitana de Fortaleza já estão conectadas, diferentemente do Interior. "Acho que essa é uma oportunidade única que a gente pode usufruir e levar a internet para todas as escolas no Interior, em todos os lugares mais distantes, para conseguir oferecer uma internet com qualidade para todos os estudantes."

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