80% dos concludentes do Ensino Médio no Ceará são pretos, pardos ou indígenas

Em 2023, quase 90% dos estudantes que terminaram o Ensino Médio fizeram a inscrição para o Enem, avaliação que dá acesso à educação superior

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Estudantes em sala de aula, sentados ao redor de mesas grandes, fazendo trabalho em equipe
Legenda: Em todo o País, 20% dos estudantes pardos que concluíram o ensino médio em 2022 começaram a cursar o Ensino Superior em 2023. Entre pretos e indígenas, essa proporção foram de 17% e 12%, respectivamente
Foto: THIAGO GADELHA

O Ceará é o 9º estado de todo o Brasil com maior proporção de concludentes do Ensino Médio pretos, pardos e indígenas. Em 2023, esses estudantes representavam 80% de todos os que finalizaram os estudos nesse nível de ensino. Essa informação foi apresentada durante a divulgação dos resultados do Censo do Ensino Superior 2023, neste mês (3).

Ao contextualizar o cenário do ensino médio, o diretor de estatísticas educacionais do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), Carlos Moreno, mostrou alguns detalhes sobre o ingresso dos estudantes no ensino superior no ano seguinte à conclusão do Ensino Médio.

Em todo o País, 20% dos estudantes pardos que concluíram o ensino médio em 2022 começaram a cursar o Ensino Superior no ano seguinte. Entre pretos e indígenas, essa proporção foram de 17% e 12%, respectivamente. Ao se observar os alunos brancos e amarelos, por sua vez, essas proporções foram de 37% e 33%.

Sancionada em 2012, a Lei de Cotas (Lei nº 12.711) reserva pelo menos 50% das vagas em instituições federais de educação superior para estudantes que cursaram integralmente o ensino médio na rede pública. O programa também contempla estudantes pretos, pardos, indígenas, quilombolas e com deficiência em uma espécie de “subcota”.

Para Adriana Eufrásio Braga, professora do Departamento de Fundamentos da Educação da Faculdade de Educação da Universidade Federal do Ceará (UFC), a Lei de Cotas está em processo de cumprimento do objetivo de democratizar o acesso ao ensino no Estado. Mas para melhorá-la o texto e os resultados, ela afirma que “é preciso ampliar a rede apoio envolvendo mais fortemente as esferas estaduais e municipais com plena participação das comunidades interessadas”.

Além do recorte por cor/raça, o diretor de estatísticas educacionais do Inep apresentou outras informações sobre o contexto desses estudantes que saem da escola. De 2013 até 2023, em média, 2,2 milhões de alunos concluíram o Ensino Médio em todo o País a cada ano, incluindo o ensino regular e a Educação de Jovens e Adultos (EJA). Desse total, em 2022, apenas 27% ingressaram no Ensino Superior no ano seguinte.

Essa proporção não foi a mesma considerando as redes em que esses estudantes concluíram os estudos. A rede estadual — “a grande rede pública de ensino médio”, conforme destacado por Moreno — teve o menor indicador.

  • Rede privada: 59%
  • Rede federal: 58%
  • Rede estadual: 21%

Ao observar o ensino regular e a EJA, também percebe-se uma diferença entre as taxas de ingresso no Ensino Superior.

  • Ensino regular: 30%
  • Educação de Jovens e Adulto: 9%

Alunos egressos do ensino médio articulado com educação profissional também tiveram mais êxito. Entre eles, 44% dos concludentes de 2022 ingressaram no Ensino Superior em 2023, enquanto entre os demais estudantes a taxa foi de 26%.

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ENGAJAMENTO COM O ENSINO SUPERIOR

Ainda na divulgação do Censo da Educação Superior, o diretor do Inep mostrou que a maioria dos estudantes cearenses que concluíram o ensino médio em 2023 fizeram a inscrição para o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), avaliação que dá acesso à educação superior. Foram 89,5% dos alunos, o que rendeu ao Estado a maior proporção entre todas as unidades federativas do Brasil. Esse posto já tinha sido conquistado em 2022, quando 84,8% dos concluintes inscreveram-se na prova, e foi mantido no ano passado.

Nos dois anos, o estado de Goiás aparece logo após o Ceará, com 78,3%. Um destaque foi a Paraíba, que teve o maior crescimento em pontos percentuais entre os dois anos — saindo da 24ª posição em 2022 (48,9%) para a 3ª em 2023, com proporção de 72,3% dos concluintes inscritos no Enem.

No outro extremo desse ranking aparecem Roraima (37,4%), São Paulo (44,8%) e Rio Grande do Sul (51,1%) com os piores indicadores.

As taxas alcançadas pelo Ceará nos últimos dois anos mostram as medidas adotadas por escolas para incentivar a inscrição estão “no caminho certo” e o jovem estudante do Ensino Médio está motivado para acessar o Ensino Superior, avalia Adriana Eufrásio Braga.

Para manter essa participação, a professora avalia que as ações de incentivo e apoio ofertadas por gestores e profissionais da Educação devem ser ampliadas, em especial nas atividades de segundo turno de estudos, tempo integral e iniciação do jovem em atividades profissionais.

Quanto à continuidade dos estudos, após a escola, percebo a importância do maior envolvimento (entre) Escola e Universidade. Apesar de avanços que tivemos nessa interação institucional, acredito que a Universidade precisa estar mais próxima da Escola, dando-lhe maior suporte em suas atividades.
Adriana Eufrásio Braga
Professora do Departamento de Fundamentos da Educação da Faculdade de Educação da UFC

Alunos e professores enfrentam algumas barreiras para garantir uma boa preparação para o Enem. Para os estudantes, elas estão relacionados às dificuldades de aprendizagem nos conteúdos de natureza quantitativa, afirma a docente.

“Para os professores destes conteúdos, os desafios estão relacionados em elaborar estratégias de ensino que consolidem o aprender motivado pelo reconhecimento, por parte do aluno, da importância desse conteúdo em seu cotidiano”, complementa a professora.

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