Resistência de 28 anos do Teatro da Praia é tema de documentário
Estreia acontece nesta sexta (7), a partir das 18h, nos canais do YouTube do Cineteatro São Luiz e do Instituto Iracema
Para um equipamento cultural independente, atravessar quase três décadas de existência na Praia de Iracema, onde a especulação imobiliária impera, não é tarefa das mais fáceis. O Teatro da Praia, dirigido por Carri Costa, já viu e continua assistindo muitos “colegas de bairro” fecharem as portas nesses 28 anos de atividade.
Ele mesmo esteve sob essa ameaça por diversas vezes, mas segue lutando, por meio de ações como o documentário “Teatro da Praia: uma resistência em cena”, com estreia virtual nesta sexta-feira (7), a partir das 18h.
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Realizado em parceria com o Instituto Cultural Iracema e a Prefeitura de Fortaleza, o produto audiovisual começou a ser gestado no ano passado, logo após extensa campanha nas redes sociais para manter o espaço alugado.
A proprietária do prédio havia recebido uma proposta de compra de R$900 mil, que Carri não conseguiria cobrir. Mas, com a pandemia, o comprador desistiu e o contrato do equipamento foi renovado até 2022.
Contar uma parte dessa narrativa de sobrevivência em vídeo também é uma forma de resistir.
Era tudo que a gente queria. A gente precisava e precisa mostrar, deixar registrado na história cultural da cidade. O Teatro da Praia é o retrato da força que os artistas têm quando se apropriam da construção de sua história, da vontade de deixar rastros, memórias, modificar seu tempo, interferir no seu tempo, é importante e bom que a gente pense sobre isso”, observa Carri.
A partir desse desejo, o dramaturgo se aventurou no roteiro do documentário, com apoio de direção de Daniel Corrêa, da Sal Filmes. “Ele foi me dizendo o que funcionava ou não. Peguei pessoas para dar depoimentos e mandei um material histórico, como cartazes, fotografias, jornais. Sempre gostei de guardar tudo”, afirma o diretor do equipamento.
Entrevistados
Morador dos fundos do teatro desde o primeiro dia de aluguel, é Carri quem costura a narrativa do documentário. Com ele, falam outros sete entrevistados cujas histórias são atravessadas por essa resistência de 28 anos. “O Teatro da Praia não foi feito por Carri Costa, foi feito pelos artistas da cidade”, reforça o gestor.
Adriano Pessoa, responsável pela parte técnica do equipamento, além de cenógrafo e operador de som e luz; Mildenir Campos, contra regra e administradora da bilheteria; Socorro Amarante, primeira a ver o imóvel com Carri antes dele ser alugado; Lídia dos Anjos, atuante nos momentos de formação, quando o teatro era Ponto de Cultura; Jane Azeredo, parceira de todas as horas; Nádia Aguiar, que esteve presente em todos os grandes espetáculos do começo, atuando, dirigindo; e Rogério Mesquita, que iniciou a carreira por lá, no Festival de Esquetes de Fortaleza (Fesfort), foram os escolhidos para representar toda uma classe de colaboradores.
“Não quisemos fazer algo tão convencional, não segue uma cronologia tão natural. Cada um, quando é entrevistado, toca em um ponto, e a gente puxa vários tempos do Teatro da Praia”, explica Carri, que ainda não assistiu a versão final do trabalho.
Para ele, o documentário cumpre o papel de fio condutor de outras lutas, visto que há inúmeros espaços administrados por artistas que carecem da mesma atenção.
É preciso tê-lo como referência de que os artistas conseguem gerir, manter um equipamento, ainda que passem vários secretários de Cultura, prefeitos, governadores. Estar inserido na cidade e na comunidade, que sempre nos atende quando pedimos socorro, é um fenômeno”, aposta o diretor.
Uma das estratégias para manter esse grupo unido, segundo Carri, é investir em uma identidade comum a todos. “Ser cearense dentro de um aspecto cultural, cênico, dramatúrgico, é ser comprometido com nossa história, jeito, verborragia, graça. Isso provoca empatia, fidelidade”, argumenta.
Projeções
Além do documentário, que ficará disponível por um mês nos canais do YouTube do Cineteatro São Luiz e do Instituto Cultural Iracema, um livro sobre a história do Teatro, fruto da mesma parceria, deve ser lançado no segundo semestre de 2021.
Aliás, até junho o Teatro da Praia conta com recursos da Lei Aldir Blanc para manter o aluguel e outras despesas básicas, mas Carri já se preocupa com o que será do equipamento na segunda metade do ano. Em 2020, ele até chegou a abrir o teatro, quando foi autorizado pelo Governo do Estado, mas logo fechou pelo avanço da pandemia.
O diretor acredita que logo precisará novamente de ajuda, e prevê uma reunião com o prefeito e o governador.
Meu sonho, no futuro, é que realmente Estado ou Município comprem este imóvel e ele permaneça como teatro. É muita ousadia da minha parte, mas ele já mostrou a que veio, veio para ser história, fruição das artes. E já que entrou pela porta da frente, que permaneça”, conclui.
Serviço
Lançamento do doc. “Teatro da Praia: uma resistência em cena”
Live nesta sexta (7), a partir das 18h, com Carri Costa e Solange Teixeira
Exibição às 19h (Duração: 65’’), no canal de YouTube do Cineteatro São Luiz e do Instituto Iracema. O documentário ficará disponível por um mês.
*A atividade integra uma programação maior de aniversário da Praia de Iracema