Os filmes de Hollywood estão ficando mais longos?

Com quase três horas, novo filme do Batman é um exemplo entre as atuais produções que investem em obras com longa duração nas salas de cinema

Escrito por Antonio Laudenir , laudenir.oliveira@svm.com.br
Legenda: Novo filme do Batman, estrelado por Robert Pattinson, estreou nas telonas com 2h55 de exibição

Uma nova aventura do Batman chega aos cinemas. Antes mesmo de estrear, a obra dirigida por Matt Reeves conseguiu um feito em relação às produções anteriores deste personagem. No quesito tempo, diga-se.  

Com quase três horas de duração, "The Batman" (2022) é o filme solo mais longo do Homem-Morcego já feito. O correr dos anos mostra essa crescente na franquia da Warner. Em 1989, ano que marca a chegada do sucesso "Batman", Tim Burton precisou de duas horas e seis minutos para contar a história do encapuzado.

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Essa média de minutos também fez parte das continuações seguintes, Batman O Retorno (1992, 2h 6m), "Batman Eternamente" (1995, 2h 1m) e "Batman & Robin" (1997, 2h 5m). Veio os anos 2000 e o diretor Christopher Nolan ampliou o tempo de tela deste universo.

O último capítulo da trilogia guiada pelo britânico, "Batman: O Cavaleiro das Trevas Ressurge" (2012) atingiu a marca de 2h 44 minutos de duração. 10 anos depois, o Batman estrelado por Robert Pattinson pede passagem nas telonas com exatas 2h55 de exibição. "Santa paciência, Batman!", como diria o menino-prodígio.

Legenda: Lançado em 2021, no retorno aos cinemas do contexto pandêmico, o longa 007 - Sem Tempo para Morrer contabilizou 2h43 de exibição

Tal característica não é exclusividade das adaptações envolvendo o herói dos gibis. Badalados filmes de 2021 se aproximaram das três horas. Houve "Homem-Aranha: Sem Volta para Casa" (com 2h28), "Duna" (2h35) e até "007 - Sem Tempo para Morrer" testou a resistência da plateia com 2h43 minutos.

A julgar pelos recentes blockbusters que chegam ao mercado fica a pergunta. Hoje, os filmes estão mais longos? 

Grandes histórias 

Crítico de cinema, Daniel Herculano aponta que "The Batman" aposta em uma estratégia corajosa. Mesmo enquadrado como o típico "filme de verão americano", o filme utiliza a estratégia da extensa duração para obter outra perspectiva junto ao público. "Ele se coloca, a Warner deu poder para ele se colocar e ser emoldurado como se fosse mais que um produto para vender ingressos".

Membro da Federação Internacional de Críticos de Cinema (FIPRESCI) e Associação Cearense de Críticos de Cinema (Aceccine), Herculano completa que a faixa de tempo funcionaria para atestar que a obra seria superior, artisticamente, que os filmes tradicionais de "herói" ou de "verão". "Se vende com grandioso. Tudo é filmado de forma épica. Isso diz muito tanto a favor como contra o filme", avalia. 

Tempo é documento?

Houve um momento em que filmes com extensa duração eram associados a gêneros cinematográficos específicos. Eram o caso dos épicos, guerra, dramas ou até mesmo produções experimentais. A lista contempla clássicos do quilate de "E o Vento Levou" (1939, 3h 58m), "Os Dez Mandamentos" (1956, 3h 40m) ou "Lawrence de Arábia" (1962, 3h 47m).  

Outras experiências bem sucedidas em Hollywood exigiram minutos mais generosos na sala escura. Sérgio Leone construiu "Era uma Vez na América" (1984) com 4h 11m. Nos anos 1990, trabalhos oscarizados marcaram época, casos de  "A Lista de Schindler" (1993, com 3h 15m), "Coração Valente" (1995, 2h 58m) e "Titanic" (1997, 3h14).

"É da história, sempre teve essa oscilação do tempo nos filmes. Cada período tem suas peculiaridades", argumenta o roteirista, crítico e realizador audiovisual Rodrigo Passolargo. O entrevistado reforça que essa discussão quanto ao tempo de exibição é uma realidade dos filmes hollywodianos, dotados de poder aquisitivo e força para tomar as salas.

"Os grandes estúdios como Disney (Fox), Universal, Sony passaram a absorver a cultura do streaming. Muitas destas produtoras até estão investindo em suas próprias plataformas. O streaming tem condição de bancar três horas de filme, não vai disputar com uma grade de cinema", descreve o entrevistado.

Ostentação

Diante de um público acostumado a consumir vídeos curtos e virais, os estúdios passaram a apostar na repercussão que o filme causa. A premissa é trabalhar a ideia de que toda produção é um grande épico e, para evitar tomar spoilers, o público vai correr para assistir, pouco importa se ultrapassar as três horas.

"A ostentação gera atenção. Se um filme tem poder aquisitivo, faz produção mais longa, recheada de efeitos especiais, cenas caras, e também consegue colocar nas grades do mercado exibidor. 'Vingadores Ultimato' canibalizou as salas do cinema somente com ele. Não foi impedido de ser a melhor bilheteria no cinema", completa o também integrante da Aceccine.

Daniel Herculano reflete que até a franquia "Velozes e Furiosos" se cerca dessa noção de filme grandioso. Para o especialista, o tempo de cada filme tem a necessidade justificada pelo que ele entrega. "Trilogia Poderoso Chefão, Dança com Lobos, Titanic, Avatar... São filmes que também necessitaram de tempo prolongado, mas possuem cancha, teve justificativa", finaliza. 

Na contramão do debate entre qualidade e tempo, é possível lembrar da célebre frase da personagem Norma Desmond (Gloria Swanson) em "Crepúsculo dos Deuses" (1950). "Eu sou grande. Os filmes é que ficaram pequenos".

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