Há 20 anos, morria o cineasta Stanley Kubrick
Autor de clássicos como “O Iluminado” e “Laranja Mecânica”, Kubrick foi visionário e deixou obras que olham para a desumanização dos homens
As efemérides sobre a passagem de Stanley Kubrick (EUA) pela Terra têm marcado a reflexão de sua obra cinematográfica há um ano. Em julho de 2018, o gênio teria feito 90 anos de idade. E em abril, “2001, Uma odisseia no espaço”, um de seus clássicos, completou cinco décadas de estreia. Douglas Rain, ator que deu voz ao computador Hal 9000, vilão de “2001”, ainda faleceu em novembro, aos 90.
Agora, a memória sobre o cinema de Kubrick ganha novo fôlego. Nesta quinta (7), é aniversário de 20 anos da morte do cineasta, autor de filmes clássicos como “O Iluminado” (1980) e “Lolita” (1962).
Conhecido pelo perfeccionismo e pela pressão com a qual trabalhava junto à equipe de seus filmes, o norte-americano, nascido em Nova York, tornou-se um visionário. A “linha dura” em seu modo de filmar – para além de alimentar histórias polêmicas dos bastidores cinematográficos - era o fundamento que transformou suas produções em obras artísticas de apelo duradouro, repletas de abordagens atemporais.
A filmografia de Kubrick – sobretudo a que começa com “Spartacus” (1960) e termina em “De olhos bem fechados” (1999, lançado quatro meses depois de sua morte) - lançou um olhar incisivo diante dos exageros do conservadorismo humano, bem antes do mundo conhecer as gestões de Donald Trump, Jair Bolsonaro e afins.
Ora de maneira contundente, ora delicadamente, quatro filmes tocam nessa “ferida”. Em ordem cronológica: “Spartacus” (1960), “Dr. Fantástico” (1964), “Laranja Mecânica” (1971) e “Nascido para matar” (1987).
Protagonizado por Kirk Douglas (hoje aos 102 anos de idade), “Spartacus” conta a história da revolta dos escravos contra o Império Romano. Vencedor de quatro categorias no Oscar de 1961, o longa tensionava o poderio militar das autoridades oficiais e a barbárie que envolve os duelos e a escravidão.
“Dr. Fantástico” traz o talentoso Peter Sellers (1925-1980) no elenco e satiriza a falta de intimidade dos “mandantes” com a palavra e o diálogo. A tensão entre os Estados Unidos e a União Soviética, potencializada pelo período da Guerra Fria entre os dois lados, é interpretada pelo cineasta por meio de personagens que tratam questões delicadas para o equilíbrio da humanidade com “canetadas” e soluções atrapalhadas.
Já o clássico “Laranja Mecânica” expõe o quanto o ser humano é capaz de violentar o outro (e a si mesmo) física e psicologicamente. Para além da força das cenas dirigidas por Kubrick, a obra evidencia a ignorância dos poderes a respeito da natureza humana, ilustrando “métodos de regeneração” de criminosos e delinquentes.
Aqui, a ficção, baseada no livro de Anthony Burgess (1962), dialoga com a defesa atual pela cultura dos manicômios (no Brasil) e outras medidas de controle da insanidade mental.
Por fim, “Nascido para Matar” é outro clássico da crítica de Kubrick à desumanização. O filme ilustra o treinamento militar de recrutas escalados para lutar pelos Estados Unidos na Guerra do Vietnã.
Fazendo jus ao apelo psicológico de suas obras, Stanley Kubrick entrega para o espectador personagens enlouquecendo diante da preparação e do próprio campo de batalha da guerra. Há um ano, Ronald Lee Ermy, o sargento “linha dura” do filme, faleceu aos 74 anos. Além de atuar, Ermy fez consultoria militar para as gravações.