Exposição Barroco Sertanejo, de Stênio Burgos, será apresentada na Caixa Cultural Fortaleza

Mostra individual do artista cearense reunirá pinturas feitas entre 2002 e 2021

Escrito por Redação ,
Stênio Burgos
Legenda: Nascido em Crateús, Stênio Burgos estudou Arquitetura na UFC
Foto: Divulgação

A exposição Barroco Sertanejo, do artista cearense Stênio Burgos com curadoria de Denise Mattar, será inaugurada nesta terça-feira (27) na Caixa Cultural Fortaleza. O projeto tem o patrocínio do Instituto Myra Eliane. 

Quem visitar as galerias do equipamento poderá apreciar majoritariamente obras realizadas entre 2020 e 2021. Ao mesmo tempo, porém, a mostra individual terá um caráter retrospectivo, uma vez que colocará à disposição pinturas feitas por ele a partir de 2002. 

Criado após a pandemia de Covid-19, o conjunto "Beco das Flores", com duas instalações, cada uma medindo quase seis metros de largura, também será apresentado pela primeira vez ao público. São grandes painéis de tecido reunindo acasos que se transformam em constelações. 

exposição stênio burgos
Legenda: Beco das Flores mistura o sincretismo brasileiro e o colorido do floral europeu
Foto: Divulgação

A forte influência da Holanda, onde Stênio Burgos morou entre 2004 e 2019, estará na mostra através do desafio que o artista fez a si mesmo: pintar buquês de flores da estação, um a cada semana, mês a mês. 

Aos buquês, ele acrescentou imagens devocionais e santos protetores, Jesus e Maria, São Jorge e Iemanjá, deuses ibéricos e africanos, que misturam o sincretismo brasileiro e o colorido do floral europeu. 

A mostra se encerra com as Cartas do Confinamento, produzidas em 2020, quando Stênio se isolou na sua casa na praia de Amontada. Um forte momento de reflexão sobre a solidão e a finitude humanas, que podem ser vistas nas séries: A Invenção da Solidão e Ensaio sobre a Cegueira, bem como no painel Odisseia, uma grande pintura in progress, que se renova continuamente.

beco das flores
Legenda: Há imagens devocionais nas obras de Burgos
Foto: Divulgação

Stênio Burgos

José Stênio Burgos de Macedo nasceu em Crateús, em 11 de abril de 1954, filho do médico cearense Francisco Sales de Macedo e da baiana Sonia Belo Burgos. Desde criança gostava de desenhar, e veio daí sua opção por estudar Arquitetura, que cursou na Universidade Federal do Ceará, em Fortaleza.

Ainda como estudante, viajou para Paris, onde visitou os museus, impregnando-se de Arte. Na volta começou a trabalhar no Banco Central, e, após sua formatura, em 1978, conseguiu uma transferência para o Rio de Janeiro.

Nesse período conviveu intensamente com artistas como Paulo Roberto Leal, Alex Vallauri, entre outros, e assistiu à luta pela mudança política, à agitação, ao frenesi e à festa da Geração 80. Entretanto, nada daquilo combinava com seu trabalho. Pediu demissão em 1982 e voltou para o sertão. Foi um momento de recolhimento, de busca interior. Um movimento de solitude que repetiria algumas vezes em sua vida, como um recurso de renovação.

De volta ao Rio, participou, como arquiteto, de um grupo de estudos prospectivos sobre futuros possíveis, organizado pelo Clube de Roma. Na contramão das formulações acadêmicas, Stênio Burgos apresentou suas reflexões sob a forma de um caderno contendo desenhos, poemas e pensamentos, ao qual deu o nome de Realtopia. Uma proposta de unir realidade e utopia, sem ocultar fatos ou criar fantasias.

Nas páginas do caderno, estão contidas observações afetivas, diagnósticos sensíveis e considerações sobre a sociedade de consumo, que é vista como um circo e descrita com humor rascante. A proposta lhe rendeu um convite para estudar em Barcelona, onde permaneceu por três anos.

De volta ao Ceará, em 1987, conviveu estreitamente com a arte sob o olhar sensível da amiga Myra Eliane. Nesse período sua criatividade se expressava na arquitetura, na criação de interiores, no garimpo de objetos e na seleção de obras de arte. A busca pelo raro e exclusivo o levou ao extremo sul do País, onde viveu fundamental encontro com o mestre Iberê Camargo e sua pintura forte, densa, carregada de presságios, prenhe da energia das tintas que se acumulam jorrando diretamente do tubo. Em 1998, aconteceu a ruptura e a epifania. Stênio saiu da cidade e isolou-se na praia. Levado por uma paixão, mal sabia que viria a ser subjugado por outra mais poderosa, mais absorvente e mais imperativa: a pintura. Em 2004, o artista apresentou sua primeira grande exposição individual: “Terras e Céus”, na Galeria Tina Zappoli, em Porto Alegre.

Desde então, participa do circuito cultural cearense e holandês. Entre suas exposições individuais, destacam-se: “Os Jardins de Nice por Stênio Burgos”, Museu do Ceará, 2006; “Stênio Burgos (Brazilië)”, Centre for Latin American Research and Documentation, Amsterdã,  2009; “Colorido Rozengracht”, Galerie Overstrom, Amsterdã, 2015; “Sertão Holandês”, Museu do Ceará, 2017; “Manuale di Calligrafia e Pittura, Centrum Sete Sóis Sete Luas, Pontedera, Itália, 2018; “À Flor da Pele”, Museu de Arte da Universidade Federal do Ceará, MAUC, 2019 e "Realtopia – Exposição retrospectiva", Espaço Cultural Unifor, Fortaleza, CE, 2020.

INSTITUTO MYRA ELIANE

O Instituto Myra Eliane atua desde 2016, no estado do Ceará, com o objetivo de contribuir na transformação da sociedade por meio da vivência dos valores humanos universais (amor, paz, verdade, retidão e a não violência) na educação infantil.

O Instituto acredita que fortalecer a vivência de valores na infância, alicerce da vida humana, trazendo à formação da criança estímulos positivos, como atenção, cuidado, zelo, harmonia, afeto e amor, em um ambiente permeado por uma cultura de paz, possibilitará o florescer de um jovem mais equilibrado e íntegro e de uma sociedade mais saudável e pacífica.

A instituição atua criando multiplicadores desse modelo educativo e avaliando os resultados em sala de aula. São 14 municípios parceiros no estado do Ceará e cerca de 46 mil crianças beneficiadas, até o momento.

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