Em meio à pandemia, avó cria canal no YouTube para contar histórias aos netos

A pedagoga Sany Rios encontrou na internet uma forma de encurtar a distância física e amenizar a saudade dos pequenos, para quem lê livros desde quando estavam na barriga da mãe

Escrito por Lívia Carvalho , livia.carvalho@svm.com.br
Legenda: Sempre acompanhada dos livros, Sany viu na internet uma forma de encurtar a distância física dos netos
Foto: Arquivo pessoal

Contar histórias para ninar os filhos é um hábito repassado de geração a geração. Com o isolamento social provocado pela pandemia do novo coronavírus, pais têm se reinventado para manter os pequenos entretidos durante o período e, às vezes, acabam contando com a tecnologia. 

A leitura está presente na vida da pedagoga Sany Rios há bastante tempo e, desde que se tornou avó, usa a ferramenta como ponte de conexão com os netos.

 

A cearense, que mora no município de Cascavel, é avó de Lucca, de 4 anos, e Clara, de 1 ano, e mantém o hábito de contar histórias para os dois desde que estavam na barriga da mãe, Nayanne. Com a quarentena, viram a rotina de leitura interrompida e a crescente saudade das narrativas por parte do neto. 

Nayanne, o marido e os filhos moram em Fortaleza e, para diminuir a distância física, faziam ligações virtuais com Sany. “Durante uma chamada de vídeo, ele chorou querendo que eu contasse histórias para eles. Nós já estávamos há algumas semanas sem contato físico”, conta a avó. A professora começou então a gravar em vídeos as tais historinhas que tanto acalentava os netos. 

Legenda: Ao lado dos netos, antes da determinação de isolamento social, Sany costumava ler histórias para eles
Foto: Arquivo pessoal

“Acabou que foi ganhando uma dimensão que eu não imaginava, porque minha filha e minha irmã compartilharam com os colegas dos meninos e as mães começaram a me pedir mais”. Para manter a qualidade dos vídeos e promover entretenimento educativo para mais crianças, Sany resolveu criar um canal no YouTube com a ‘brincadeira’, em que faz publicações duas vezes na semana.

A produção é inteiramente caseira e os vídeos têm como pano de fundo o quintal esverdeado do sítio onde Sany mora. Para gravar, um tripé, o celular e muita disposição. A ideia da pedagoga é tornar a experiência o mais natural possível, por isso não faz nenhuma edição das gravações. 

“Não quero mostrar como uma coisa perfeita, para que os pais se sintam encorajados para também fazerem em casa”, explica. 

O cenário ajuda a transformar a experiência, já que é possível ver o balançar das árvores com o vento e o voo dos pássaros ao redor. É um mergulho no reino mágico dos livros e da natureza. 

Relevância

Na plataforma, a especialista em Leitura apresenta livros de autores que compõem a Literatura Brasileira, a exemplo de Ana Maria Machado, Ruth Rocha, Sylvia Orthof e também escritores cearenses como Elvira Drummond. Além de produções autorais, como “Solzinho e a surpreendente missão do menino árvore”, escrita por ela e Míria Espíndola. 

É com essa proposta lúdica que Sany quer promover a importância da leitura infantil. “As crianças precisam entender que ler é divertido, ler também é brincar, quero mostrar que o livro é também um brinquedo, um objeto mágico e acredito que por isso os pais simpatizam muito com minha ideia”, aponta. 

Apesar da ludicidade, Sany não aposta em muitos artifícios para capturar a atenção das crianças e não cair na dramatização. Sem gesticular e apenas com expressões faciais marcantes, a evidência fica para os livros, companheiros fixos nos vídeos, e para as ilustrações das obras. “A minha única função é de ser ponte entre a criança e o texto literário”. 

Para Sany, a leitura estimula a criatividade infantil. “Acredito que não há nenhum outro gênero tão bom para formar um leitor como a literatura, o texto literário é artístico, tem nas suas entrelinhas uma riqueza de possibilidades muito ampla”, explica.

Conexão afetiva

Além dessa relevância do conhecimento, a contação de histórias promove uma conexão entre crianças e adultos. De acordo com Sany, quando há essa união, há uma maior facilidade para que conversas e brincadeiras aconteçam, o que estabelece a confiança. “A proposta do canal é justamente que a contação de história seja esse elo afetivo, não só para que os pais acompanhem, mas que contem e recontem as próprias narrativas”.

Legenda: Sem a possibilidade de contato direto, Sany estreita a distância compartilhando leitura de historinhas infantis
Foto: Arquivo pessoal

A filha Nayanne acredita que esse hábito da mãe foi uma forma que ela encontrou de comunicar o amor. “É um meio de trazer conhecimento e até ensinar lições de vida paras as crianças. Quando eu engravidei, ela já ficou imaginando quantas possibilidades de livros e histórias ela poderia contar pra ele. Ele sempre ficou muito vidrado, era um momento ímpar”, lembra. 

Agora, por enquanto, esse carinho é repassado pelas telas, mas sem deixar a magia acabar.

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