Como audiolivros proporcionam novas experiências para leitores e produtores de conteúdo
Formato tem se popularizado no Brasil no último ano e busca ser “possibilidade adicional” no ecossistema da literatura
Entre as diferentes opções atuais para acessar literatura, os audiolivros — formato que consiste na gravação em áudio do conteúdo de um livro na íntegra — têm estimulado diversidade de experiências tanto no campo do consumo quanto da produção.
Do lado consumidor, é possível otimizar o tempo ao escutar uma obra, imergir sensorialmente numa narrativa ou ter a leitura tornada mais acessível. Já entre quem produz, autores têm conseguido alcançar leitores de novas formas e o aumento da oferta do formato ainda amplia as oportunidades profissionais para artistas na narração de obras, por exemplo.
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Mercado e consumo de audiolivros
Diferentes pesquisas do mercado editorial brasileiro reiteram a expansão do consumo de audiolivros no País. O “Panorama do Consumo de Livros”, da Câmara Brasileira do Livro com a Nielsen BookData, revela que 19% dos compradores de livros digitais optou pelo formato de audiolivro em 2023.
Já no levantamento sobre o consumo de audiolivros no primeiro trimestre de 2024 divulgado pela varejista Bookwire, foi verificado um aumento de 100% de receita de consumo de audiolivros no catálogo da empresa.
A Bookwire ainda aponta que o impulsionamento da receita destacado pelo levantamento foi ocasionado, de forma principal, pelas lojas Audible Brasil, Storytel e Google Play Audio, listadas como aquelas onde houve maior consumo nos três primeiros meses deste ano.
“Sobreposição” de formatos
Em entrevista ao Verso durante evento promovido para jornalistas pela Audible — serviço de assinatura de audiolivros da Amazon que chegou ao Brasil há quase um ano, em 3 de outubro de 2023 —, a diretora-geral Adriana Alcântara garante que o formato tem se fortalecido junto ao público como complementar.
“A gente está dentro da Amazon, você entra no site para comprar um livro físico ou para assinar o Kindle e é impactado pela Audible como uma possibilidade, um segmento para assinar também”, exemplifica.
Apesar de explicar que a Amazon não divulga números específicos de assinaturas ou receita, Adriana relata que há o que classifica como “sobreposição” de usuários entre os três formatos principais da Amazon.
“A gente acaba tendo um percentual muito alto (de usuários) não só de assinantes de Kindle Unlimited, como também de pessoas que compram muito livro físico. É uma extensão”, reforça.
O movimento é ecoado por Ricardo Perez, líder da área de livros na Amazon Brasil, e Danielle Casotti, líder de Kindle para Dispositivos Amazon Brasil. Enquanto ela destaca que mais de 65% de compradores de livros digitais também compram livros físicos, o executivo define a questão como uma “celebração de multiformatos”.
Ganhos para leitores
Como reforça Adriana, “a Audible é uma experiência adicional à leitura do livro e do Kindle, acontece nos momentos em que a gente não poderia estar lendo nos formatos tradicionais”. No trânsito, na academia ou fazendo tarefas de casa, o consumo do audiolivro propõe otimização do tempo.
Em entrevista ao Verso, a executiva ainda destaca outros potenciais do formato entre leitores, como a acessibilidade para pessoas com deficiência, o auxílio em processos de aprendizado de leitura para pessoas com dificuldades e a própria distribuição de obras.
“Ele tem vários papéis dentro desse universo, com as pessoas com deficiência, nas dificuldades de distribuição. A gente chega como um formato complementar, o audiolivro não toma o lugar de ninguém, ele se coloca num espaço que antes não estava ocupado”, considera.
A executiva ainda destaca a gratuidade de audiolivros de obras exigidas em vestibulares e no Exame Nacional do Ensino Médio. Desde o último dia 9, a empresa disponibilizou os livros “Ânsia Eterna”, de Júlia Lopes de Almeida, “A Alma Encantadora das Ruas”, de João do Rio, e “Noite na Taverna”, de Álvares de Azevedo, no formato.
Eles estão gratuitos até 31 de dezembro e se somam a outras três obras já disponibilizadas em julho: “A Falência”, de Júlia Lopes de Almeida; “Memórias Póstumas de Brás Cubas”, de Machado de Assis; e “O Seminarista”, de Bernardo Guimarães.
“O projeto amplia as possibilidades dos brasileiros de conexão com a cultura, com o aprendizado, com o entretenimento de qualidade. Por isso a gente se preocupa tanto com colocar títulos gratuitos. A gente não quer que o pagamento seja uma barreira, mas que todo mundo experimente”
Experiência sensorial pelo áudio
Além do alargamento de experiências proposto aos leitores pelo formato, também é possível encontrar depoimentos de artistas que ressaltam as novas possibilidades surgidas pelo audiolivro.
Uma delas é a carioca Lola Belluci, escritora de livros eróticos. Com cenas e passagens que estimulam os sentidos do público leitor nas próprias obras, a autora ressalta o formato do audiolivro como um agregador da experiência.
“Mais do que uma otimização de tempo, ele se torna sensorial. Quando tem um ator interpretando aquela cena, é muito diferente de você ler”, destaca a autora.
“É tão imersivo que se torna um momento ainda mais íntimo, minhas leitoras gostam muito de audiobooks, conseguem criar conexão com os personagens. Leitoras estão chegando até mim através dos audiobooks”, celebra Lola.
Mais vozes
A repercussão compartilhada pela autora evidencia a importância de quem narra o livro. Para dubladores e atores com experiência em TV e teatro, a narração de audiolivros tem se mostrado outro campo possível da profissão.
Nomes reconhecidos nacionalmente como Mauro Ramos — que dubla personagens como Shrek e Pumba —, Silvero Pereira, Antonio Pitanga, Murilo Rosa, Gabz, Nathalia Dill, Tarso Brant e outros atuaram como narradores junto à Audible.
Além dos famosos, centenas de outros profissionais da voz narraram obras na empresa. Especialista de produção em áudio da Audible, Fernando Schaer ressalta que tal mercado foi “fomentado” antes mesmo do lançamento oficial da empresa no Brasil.
Ao chegar ao País, o serviço contava com 100 mil títulos no catálogo, sendo 5 mil em português. Menos de um ano depois, já são 150 mil títulos disponíveis no total, sendo 6 mil em português. Além disso, o número de “vozes” — pessoas que narraram livros para a empresa — foi de 500 no lançamento para mais de 600 atualmente.
“(O mercado) tem crescido bastante, mas tem margem para crescer bem mais na diversidade de atores, de sotaque, gênero, porque ainda é um pouco fechado”, considera Fernando, destacando que a maioria das vozes é, ainda, do eixo Rio-SP.
“Precisamos de mais atores de vozes, mas sempre buscamos fazer representatividade de sotaque, gênero, etnia”, explica. O cearense Silvero Pereira, por exemplo, narrou a obra “Iracema”, de José de Alencar.
“Nosso compromisso continua sendo o investimento de aumentar o catálogo em número de títulos com toda a diversidade que existe na literatura”, finaliza Adriana.
*O repórter viajou para São Paulo a convite da Audible