Artesanato cearense é destaque em cenário de novela da Globo: ‘Incrível e gratificante’

Criações estão presentes em “No Rancho Fundo”, com grande parte do acervo oriundo da Central de Artesanato do Ceará, a CeArt

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(Atualizado às 12:46)
Legenda: Desde a primeira semana de outubro, loja de Tia Salete (Mariana Lima) na novela reúnem peças feitas por nossos conterrâneos
Foto: Divulgação/Rede Globo

Preste bem atenção quando assistir aos próximos capítulos de “No Rancho Fundo”. Você vai se deparar com artesanato cearense no cenário da novela das 18h da Rede Globo. Desde a primeira semana de outubro, quando a personagem Tia Salete (Mariana Lima) abre uma loja na trama, peças feitas por nossos conterrâneos enchem a tela de beleza e graça.

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“Achei incrível e gratificante. Nosso artesanato é de uma imensurável riqueza e ele precisa aparecer para todo o Brasil”, compartilha Maria Lúcia Campos, 63, responsável pela feitura de duas toalhas de mesa exibidas no folhetim. Foram cerca de 30 dias para a produção de cada uma. Elas já estavam na Central de Artesanato do Ceará quando foram selecionadas.

É da CeArt, inclusive – equipamento do Governo do Estado – que provém grande parte do acervo exibido na atração global. Entre as seleções estão redes, jogo americano, colchas, cestos de palha de carnaúba, além de pufes, esculturas e móveis. As toalhas de mesa de Maria Lúcia, por exemplo, tiveram preparação mista: uma por um design de uma coleção chamada Colcha de Retalhos; outra por uma artesã da associação na qual ela e várias outras pessoas fazem parte.

Legenda: Grande parte do acervo de produtos na novela é oriundo da Central de Artesanato do Ceará, a CeArt
Foto: Divulgação/Rede Globo

Eles são naturais de Jaguaribe, interior do Estado, e têm o artesanato cravado na própria ancestralidade. Aprenderam com as próprias mães a fazer encanto com as mãos de forma a complementar a renda das famílias. A comunidade, no entanto, começou a ganhar destaque em 2016 a partir da criação da associação chamada Artemus.

“Nela, estão as artesãs que desenvolvem várias peças. Nesse sentido, magia com certeza é a palavra certa a ser usada quando falamos de artesanato – principalmente da renda de filé [tipo de bordado sobre uma rede de fios, bastante característico de Jaguaribe]. Costumamos dizer que quem faz é por amor”.

Como as criações chegaram à novela

A forma como toda essa fartura de talentos chegou a “No Rancho Fundo” é interessante. No início do ano, a CeArt recebeu o curador da novela, Marco Aurélio Pulchério, imbuído da missão de identificar diversas peças para utilizar na trama. “Tudo foi levado e agora está sendo exibido da forma como foram produzidos ou mesmo repaginados”.

Quem explica é Onélia Santana, secretária da Proteção Social. Segundo ela, a aceitação foi tamanha que, no fim deste mês de outubro, os itens – em número de 290 de 50 diferentes nomes cearenses – serão comercializados nos estúdios da Rede Globo. Não deixa de ser mais uma conquista para nossos artesãos e artesãs.

Legenda: Acima e abaixo, em azul e laranja, respectivamente, as duas toalhas de mesa confeccionadas por Maria Lúcia Campos e companhia para a novela
Foto: Divulgação

Neste ano, o artesanato cearense foi comercializado na Casa Cor São Paulo, maior evento de arquitetura e design da América Latina. E, no ano passado, um grupo de artesãos expôs no Carrossel do Louvre, em Paris. “São ações importantes para apresentar nossos produtos com o potencial que eles realmente têm”, mensura Onélia.

Ainda de acordo com a secretária, atualmente são cerca de 40 mil artesãos cadastrados no Estado, com direito à qualificação e assessoramento no desenvolvimento dos próprios produtos. O foco é claro: dar visibilidade, valorizar e promover a comercialização dos produtos do jeitinho que merecem.

“Ter produtos cearenses em uma novela da Globo é apresentar nosso artesanato de forma sofisticada, o artesanato como um produto com valor agregado. É mostrar um produto acessível e, principalmente, de qualidade”.

Do ateliê para a Globo

Outro artesão com peças na novela é Cícero Evânio, 32, conhecido como Panta Tavares. Foi das mãos dele que saiu a imagem de Santo Antônio presente no cenário, inspirada nos santos do pau oco – expressão relacionada ao Brasil Colonial, quando as imagens de santo eram utilizadas para contrabandear ouro e pedras preciosas.

O exemplar foi esculpido em dezembro do ano passado e finalizado naquele mesmo mês. “Tive que acelerar um pouco o processo pois havia uma certa urgência para concluir a obra. Eles já estavam começando a gravar a novela”, explica Panta, natural de Juazeiro do Norte e no ofício de escultor desde 2011.

Legenda: Foi das mãos de Panta Tavares que saiu a imagem de Santo Antônio presente no cenário de "No Rancho Fundo"
Foto: Divulgação

O primeiro contato com o objeto de trabalho se deu por meio do Centro de Cultura Mestre Noza, onde Panta teve a oportunidade de conhecer e praticar a arte. Depois de quase três anos trabalhando com arte popular, teve curiosidade e paixão súbita por arte sacra ao conhecer o mestre Edival Rosas, juazeirense especialista no segmento, criador de belíssimas obras presentes em várias igrejas de Salvador.

“Ele me apresentou o complexo mundo por trás das artes com o fascínio de uma criança. Aquilo me encheu os olhos e preencheu minha existência”, partilha o pupilo. Depois disso, Panta também foi convidado a apresentar o próprio trabalho e a representar o Brasil na Áustria em 2019 no World Wood Day, um encontro de escultores.

Legenda: Escultura presente no cenário da novela foi esculpido em dezembro do ano passado
Foto: Divulgação

Recentemente, também esteve em Portugal para estudar e ver de perto as obras barrocas as quais dedica o trabalho que desenvolve. Questionado sobre como espera que a exibição das peças na novela possa volver um olhar mais inspirado sobre o artesanato cearense, é enfático: “Que pessoas de todo o Brasil vejam que aqui no Ceará está um dos maiores celeiros artísticos do país”. 

Ao que a colega Maria Lúcia Campos completa: “Que todos possam valorizar nosso artesanato e vejam que isso pode ser uma fonte de renda. Que esse sentimento de valorização esteja até mesmo com as artesãs que, muitas vezes, não acreditam que podem chegar tão longe”. 

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