A tensão em torno do processo de escolha do PDT sobre quem irá concorrer ao Governo do Ceará voltou a crescer nesta semana, desta vez com pressão ainda mais incisiva de correligionários e partidos aliados por maior participação nas discussões.
O acirramento entre a governadora Izolda Cela (PDT) e o ex-prefeito de Fortaleza Roberto Cláudio (PDT) têm impulsionado declarações públicas de apoiadores de ambos os lados - inclusive com ameaças de boicote e aumento do risco de ruptura da aliança.
Do outro lado, o pré-candidato ao Governo Capitão Wagner (União) tem aproveitado o cenário conturbado para tentar atrair partidos para a oposição. Ele tem tido diálogos frequentes com importantes siglas da aliança governista, como PP, PSD e MDB.
Nesta sexta-feira (8), o ex-ministro Ciro Gomes (PDT) e o ex-governador Camilo Santana (PT) deram indicativos de que existe um aprofundamento no racha entre os aliados. Em entrevista ao Avesso Podcast, Ciro colocou em dúvida a aliança com o petista. "Era nosso aliado, ou ainda é. Não sei direito direito como é que vai desdobrar isso", disse. Horas depois, Camilo fez manifestação mais incisiva na defesa da candidatura de Izolda, que chamou de "questão de justiça".
Pouco antes, a crise já escalonava novamente após reunião entre Ciro e os quatro pré-candidatos do PDT, na última quarta-feira (8) - além de Izolda Cela e Roberto Cláudio, também são cotados o presidente da Assembleia Legislativa do Ceará, Evandro Leitão (PDT) e o deputado federal Mauro Benevides Filho (PDT).
Na ocasião, foi apresentada a pesquisa de intenção de voto encomendada pelo partido sobre a disputa do Governo do Ceará. Com vantagens e desvantagens, nela, Roberto Cláudio é o pré-candidato pedetista melhor posicionado na pesquisa estimulada - quando são apresentados os nomes dos candidatos para que o entrevistado diga a preferência.
Contudo, também é dele a maior rejeição. Izolda Cela, por outro lado, é a que tem o menor percentual de rejeição e, portanto, maior potencial de crescimento. Os resultados da pesquisa tiveram efeitos imediatos, tanto dentro do PDT como em partidos aliados.
Pressão dos aliados
No dia seguinte à divulgação da pesquisa do PDT, a governadora Izolda Cela veio a público defender "o respeito e o diálogo, porque não se faz nada sozinho" e ressaltando que "coloco o meu nome para unir".
No mesmo dia, partidos que integram a aliança governista se manifestaram pedindo maior diálogo e participação no processo de escolha de quem será o candidato à sucessão estadual.
Lideranças do PT, PV, PCdoB, PP e MDB estiveram reunidos na tarde da quinta-feira (7) para discutir o cenário eleitoral no Estado. O encontro reuniu lideranças que já manifestaram abertamente o apoio ao nome da governadora Izolda Cela, como o deputado federal José Guimarães (PT), o ex-senador Eunício Oliveira (MDB) e o deputado estadual Zezinho Albuquerque (PP).
Os três partidos ameaçam, inclusive, uma ruptura com o PDT no caso da escolha não ser pelo nome de Izolda Cela. Manifesto lançado na noite da quinta, logo após a reunião, reforça o apoio ao nome de Izolda Cela como pré-candidata governista. O texto passou, inclusive, pelo crivo do ex-governador Camilo Santana (PT).
"A manifestação pública da governadora Izolda Cela colocando seu nome para continuar governando o Estado (...) é fato de grande relevância a exigir nossa consideração. Acreditamos que a construção de uma candidatura deve ser o resultado da unidade e do diálogo entre todos os partidos", ressalta o manifesto.
Outros partidos seguiram na esteira. Os presidentes estaduais do PSDB e Republicanos também divulgaram notas pedindo maior participação no processo de escolha.
"Nós do PSDB (...) afirmamos aqui nosso desejo de participar de forma mais efetiva do processo de escolha do(a) candidato(a) que irá representar esse projeto nas eleições ao Governo do Estado, através de diálogo respeitoso e transparente, cabendo ao PDT a condução desse processo".
"Pensando na democracia e no processo de escolha, queremos fazer parte do processo de definição para quem vai governar o Ceará pelos próximos quatro anos".
Divisão dentro do PDT
Desde o início da quinta-feira (7), parlamentares da bancada pedetista na Assembleia Legislativa também voltaram a se manifestar a respeito das pré-candidaturas do PDT ao Governo do Ceará.
Enquanto no âmbito da Câmara dos Deputados e da Assembleia Legislativa, as manifestações foram favoráveis à governadora, na Câmara Municipal de Fortaleza, parlamentares pedetistas voltaram a defender o nome de Roberto Cláudio.
A vereadora Enfermeira Ana Paula (PDT) criticou o que chamou de "ego da Izolda e do Camilo Santana" que, segundo ela, "definir a eleição e entregar ao Capitão Wagner a condução do Estado".
Um dos defensores mais incisivos do ex-prefeito, o vice-presidente da Câmara Municipal, Adail Júnior (PDT) sugere até possível boicote à eventual candidatura de Izolda Cela.
"Eu não apoio a Izolda Cela ser candidata do PDT. Não sou obrigado a participar do processo eleitoral, posso ficar fora. Igual a mim tem muita gente que está pensando igual", disse em vídeo no Instagram.
Líder do PDT no legislativo municipal, Júlio Brizzi também voltou a afirmar o apoio ao ex-prefeito Roberto Cláudio.
"A bancada do PDT na Câmara de Fortaleza é 100% Roberto Cláudio pras eleições ao Governo do Estado. Respeitamos imensamente os outros três pré-candidatos do partido, mas entendemos que por tudo que fez, por sua capacidade de liderar e gerir, este é o momento do Roberto Cláudio".
A fala da bancada pedetista na Câmara Municipal converge com o posicionamento do prefeito de Fortaleza, José Sarto (PDT). Ele voltou a reforçar o apoio a Roberto Cláudio nesta sexta-feira, que, para Sarto, "reúne todas as qualdiades para ser também um grande governador".
"Os quatro pré-candidatos do PDT são quadros capazes de representar o partido e a marca que nosso grupo político traz consigo. (...) Mas já declarei antes quando perguntado e reitero minha posição pessoal a respeito de Roberto Cláudio que, na minha opinião, foi o melhor prefeito da história de Fortaleza, e reúne as qualidades para ser também um grande governador"
Bancadas estadual e federal
Na Assembleia Legislativa, no entanto, parlamentares da bancada do PDT manifestaram apoio à pré-candidatura da governadora. No perfil do Instagram, o deputado estadual Salmito Filho (PDT) chegou a lançar a hashtag "Prefiro Izolda".
"A governadora Izolda é uma das principais responsáveis pela melhor educação pública do Brasil, a do Ceará, tem sensibilidade social, espírito público, (...) governadora titular com direito à reeleição e unifica os partidos aliados", ressaltou o parlamentar.
Romeu Aldigueri (PDT), por sua vez, divulgou o "Manifesto de movimentos sociais em defesa do Ceará", no qual é ressaltado o "apoio ao projeto de reeleição da governadora Izolda Cela". Nos bastidores, parlamentares têm demonstrado desejo por adiantar a escolha, inclusive para ter tempo de 'aparar arestas' no partido e na aliança.
Entre os deputados federais, Idilvan Alencar (PDT) minimizou a pesquisa, afirmando tratar-se apenas da "foto de um momento".
"Chegou a vez de Izolda Cela. Ela é a governadora e, como tal, é um caminho natural que busque a reeleição. Tem experiência de gestão, na política, resultados para mostrar e é a maior garantia de união das forças políticas que têm transformado o Ceará", afirma.
Movimentação da Oposição
Enquanto a aliança governista passa por turbulências - com riscos de diversos partidos desembarcarem do governismo -, o pré-candidato ao Governo, Capitão Wagner, tem dialogado com lideranças dessas legendas para tentar atraí-las para a oposição.
Até o momento, cinco partidos anunciaram apoio à pré-candidatura de Wagner ao Palácio da Abolição.
Entre os partidos que têm conversado com o deputado federal, estão, por exemplo, o PP e o MDB. Wagner chegou, inclusive, a se reunir com Eunício Oliveira no último final de semana. Republicanos também tem mantido conversas frequentes com o deputado federal sobre a possibilidade de aliança.
Apesar de não ter feito, até aqui, nenhuma manifestação de apoio a um pré-candidato, o PSD já manifestou desejo pela vaga de vice na chapa que irá disputar as eleições - lugar que chegou a ser oferecido por Wagner a Domingos Filho, presidente do PSD Ceará, caso não tenha sucesso do lado governista.