Como os principais aliados do PDT no Ceará podem impactar na eleição para o governo
Número de prefeituras aliadas e de políticos com mandato entram na conta das alianças
O apelo da governadora Izolda Cela (PDT) para que aliados sejam ouvidos no debate de sucessão mostra o valor que essas lideranças têm na força eleitoral do grupo que governa o Ceará desde 2007. Juntos, os partidos governistas de maior musculatura têm quase metade das prefeituras cearenses. O PDT, sozinho, administra 63 municípios.
"Não se faz nada sozinha", enfatizou a pedetista em publicação nas redes sociais na última quinta-feira (30). O grupo liderado por Cid e Ciro Gomes tem repetido extensas alianças nas disputas para o Executivo estadual – o que exige atenção redobrada e diálogo para não desagradar ninguém.
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Na primeira eleição do grupo, em 2016, nove siglas integravam a coligação. No último pleito, em 2018, a quantidade de legendas chegou a 16, sob a liderança de Camilo Santana, que buscava a reeleição.
Nas redes sociais, na última quinta-feira (30), a governadora escreveu ainda que "partidos aliados ao PDT no Estado, como PT, PSD, MDB, PP, PSB, PCdoB, PV e tantos outros parceiros, devem ser ouvidos de forma a contribuir com o processo".
Dirigentes pedetistas, porém, defendem que o nome deve ser escolhido pelo partido, e só assim apresentado aos aliados. Há, no entanto, insatisfações públicas sobre o "isolamento" da decisão.
Para se ter uma ideia da força desses partidos no Estado, PT, PSD, PP e MDB, juntos, detêm 89 das 184 prefeituras cearenses. Dirigentes do PT falam publicamente na preferência por Izolda Cela em vez do ex-prefeito Roberto Cláudio.
Nos bastidores, PP também prefere a governadora. Eunício Oliveira, presidente do MDB no Ceará, já declarou veto ao ex-prefeito de Fortaleza. Enquanto isso, o pré-candidato da oposição, Capitão Wagner (União Brasil), flerta com o PSD — chegando a sugerir a vaga de vice ao ex-vice-governador Domingos Filho.
A professora de Teoria Política da Universidade Estadual do Ceará, Monalisa Torres, explica que "é difícil manter uma coalizão partidária em um momento de transição de mandato" – como é o encerramento do ciclo Camilo Santana depois de quase oito anos.
De acordo com a pesquisadora, com a possibilidade de mudança na sucessão estadual – já que não há a garantia da candidatura da governadora —, "os grupos tendem a disputar esse espaço de querer dar voz" às decisões.
"E, claro, eles vão fazendo o jogo deles, montando as estratégias e tentam disputar quem tem mais capacidade para compor a chapa majoritária", complementa. O próprio Zezinho Albuquerque chegou a lançar pré-candidatura governista em paralelo às discussões no PDT.
Quantidade de prefeituras no Ceará
- PSD: 30
- PT: 28
- MDB: 13
- PP: 10
- PSB: 8
Força na Assembleia Legislativa
- PT: 7
- MDB: 6
- PSD: 3
- PP: 3
Juntos, PT, MDB, PSD e PP têm 19 deputados estaduais na Assembleia Legislativa. É quase a metade da quantidade total das cadeiras do Parlamento estadual (46). Não apenas para a disputa nas urnas, mas a governabilidade se mostra crucial para estimular o diálogo com essas legendas.
Tanto Cid Gomes quanto Camilo Santana tiveram forte base no Parlamento para aprovar matérias de todas as vertentes. O rito se repete inclusive na Prefeitura de Fortaleza.
Rompimento?
É nesse momento da disputa por espaços que surgem as primeiras divergências e insatisfações de bastidores. O PSD, de Domingos Filho, cobra publicamente a vaga de vice.
Ao Diário do Nordeste, o ex-vice-governador já demonstrou como se sentiria caso o partido não fosse escolhido para compor a chapa governista.
"Não vejo nenhum argumento razoável que possa permitir que um partido da aliança, seja o PT seja o PDT, deva ficar com duas posições na chapa. Aliás, o que já foi enfaticamente definido sobre a orientação do senador Cid Gomes. Passaria a ser um processo de exclusão", disse Domingos logo depois de tomar conhecimento do "convite" de Capitão Wagner.
Embora integrando a base aliada de Izolda na Assembleia Legislativa, o MDB tem compromisso político com Camilo Santana. Eunício Oliveira é adversário de Cid e Ciro. Uma provável candidatura de Roberto Cláudio inviabilizaria uma aliança com o partido no Ceará.
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O PT teria uma reunião neste sábado (2) para definir a tática eleitoral, mas acabou adiando o encontro a pedido do ex-governador Camilo Santana. A indefinição do PDT tem evitado qualquer decisão dos petistas em relação aos rumos que a legenda vai tomar para outubro.
O presidente do partido, Antônio Filho – o Conin —, chegou a convidar o ex-senador Eunício para o encontro. Há possibilidade de que as duas legendas passem a condicionar a manutenção da aliança apenas se a candidata for Izolda. Camilo, no entanto, tenta evitar o distanciamento político do partido com o PDT.
Insatisfações
Para Monalisa Torres, esse é um momento delicado e que exige atenção e articulações da base governista, já que a oposição, liderada por Capitão Wagner, está atenta às movimentações no Palácio da Abolição.
"Esse é o risco que o grupo governista pode sofrer nesse processo de letargia de escolha das candidaturas. Os Ferreira Gomes têm esse hábito de escoher tardiamente as candidaturas, mas o cenário (antigamente) era bastante diferente. Tínhamos um grupo organizado que tinha uma aliança muito bem consolidada com o Governo Federal e hoje temos uma conjuntura completamente diferente", reforça a professora.
Capitão Wagner já declarou que nutre conversas com PSD, MDB e PP. Ainda de acordo com Monalisa, "caso alguma dessas lideranças se sinta desprestigiada corre-se o risco de que essa liderança possa migrar para o grupo do Wagner que já mostrou que tem força, capital político, visibilidade, recall e que tem se mostrado um político extremamente habilidoso nessa tarefa de costurar alianças".