Em lados opostos no Ceará, o que dizem os dirigentes do PSDB e Podemos sobre proposta de fusão
Agremiações precisam definir postura de situação ou oposição ao governo Elmano de Freitas (PT), já que estão atualmente de lados opostos
Com o início das discussões sobre a fusão entre o Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB) e o Podemos, após deliberação das executivas nacionais na última terça-feira (29), a evolução do processo passa a envolver as negociações entre as lideranças estaduais no centro do debate.
No Ceará, por sinal, essa “união” pode ser concretizada sem grandes impasses, mesmo que as duas legendas estejam em lados opostos na relação com o Governo do Ceará, conforme revelaram os dirigentes das siglas ao PontoPoder.
Em nota à reportagem, o presidente do PSDB do Ceará, Ozires Pontes, apontou que os diretórios estaduais assumem, a partir do posicionamento das executivas, um papel fundamental nas discussões e na preparação para a implementação das medidas necessárias.
“Essa união entre PSDB e Podemos representa uma alternativa sólida no campo do centro democrático. É nesse espírito que vamos trabalhar para consolidar esse projeto no Ceará e em todo o Brasil, que passa por uma visão de economia liberal, sem deixar de lado as questões sociais, tendo em vista que ainda vivemos em um estado e país com muitas desigualdades e pobreza”
Já em entrevista ao PontoPoder, durante o XVI Congresso Estadual do PSB no último domingo (27), o presidente do Podemos Ceará, Bismarck Maia, salientou que não vê “nenhuma barreira para poder consolidar essa questão do Podemos com o PSDB”, destacando a boa relação com Ozires e com o ex-senador Tasso Jereissati (PSDB). “Nos próximos 30 dias nós vamos dar uma visualização mais clara do que vai ser”, pontuou o dirigente, que é ex-prefeito de Aracati.
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RELAÇÃO COM O GOVERNO
Mesmo diante da disposição dos dois líderes, o PSDB e o Podemos precisam aparar pelo menos uma aresta no âmbito estadual, já que os dois partidos estão em lados opostos na relação com o governador Elmano de Freitas (PT). Enquanto o primeiro se posiciona como oposição, o segundo integra a base do Governo do Estado.
“Do ponto de vista institucional, o PSDB tem mantido uma relação respeitosa com o Governo Elmano”, ressaltou Ozires Pontes. “No entanto, nossa linha partidária segue firme na oposição – uma oposição responsável, propositiva e, como sempre tenho defendido, sem radicalismos”, acrescentou.
Por sua vez, Bismarck Maia revelou o desejo de seguir na ala governista e defendeu que a fusão trará uma nova realidade dentro do Ceará para as duas legendas, o que inclui as discussões sobre a relação com o Executivo estadual.
“Você veja que o PSDB hoje, embora tenha várias lideranças na base do governo, mas tem algumas outras que não estão ainda na base do governo. Então essas coisas vão ser discutidas, mas o bom disso é que isso é vida partidária”
ARTICULAÇÕES DAS EXECUTIVAS
Na terça-feira (29), a Executiva Nacional do PSDB autorizou, por unanimidade, o início das discussões sobre o processo de fusão com o Podemos. “A partir de agora, as consultas serão ampliadas e as várias instâncias partidárias serão ouvidas”, confirmou o partido.
Questionada sobre os detalhes de medida pela reportagem, via assessoria, a sigla explicou que o processo deve resultar na criação de um novo partido. No entanto, se discute também que, após a fusão com o Podemos, é possível que se faça uma federação com alguma outra agremiação.
Além disso, o PSDB definiu a convocação de Convenção Nacional para o dia 5 de junho, com o objetivo de debater o assunto e as eventuais alterações no Estatuto do Partido necessárias à fusão.
“Avançaremos na busca de uma alternativa partidária que se coloque no centro democrático, longe dos extremos, e que permita ao país voltar a se desenvolver. PSDB e Podemos continuarão se reunindo nas próximas semanas para construir as convergências necessárias à consolidação de nossa união de estruturas e, principalmente, de propósitos”
Já a Executiva do Podemos afirmou, em nota, que recebeu com entusiasmo a decisão do PSDB, defendendo a construção da convergência de uma alternativa que una forças comprometidas com o centro democrático, a estabilidade institucional e o desenvolvimento sustentável do país.
“Acreditamos que a soma de forças entre nossas siglas representa não apenas o crescimento de nossas estruturas, mas, principalmente, a união de propósitos e valores que colocam o interesse público acima de disputas ideológicas e extremismos. O Podemos seguirá trabalhando, ouvindo nossas bases, alinhando ideias para consolidar um novo partido que responda aos desafios do Brasil com propostas equilibradas, responsáveis e olhando para o futuro”
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CLÁUSULA DE BARREIRA
A meta da fusão dos partidos é é superar a cláusula de desempenho, que estabelece a eleição de 13 deputados federais ou 2,5% do eleitorado para a Câmara dos Deputados e 1,5% em pelo menos nove estados como condições mínimas para que os partidos recebam recursos para financiar campanhas e para que possam usar o tempo de propaganda eleitoral gratuita no rádio e na televisão.
Atualmente, o PSDB está federado ao Cidadania, em união que foi concretizada em 2022 justamente para superar a cláusula de barreira. No entanto, em outubro de 2024, o Cidadania decidiu dissolver o vínculo partidário com os tucanos assim que o prazo mínimo de quatro anos for alcançado no próximo ano.
Com o fim da parceria, o PSDB buscou o Podemos para a união definitiva entre as siglas – anunciada em março deste ano. Nacionalmente, a bancada federal do PSDB tem 13 deputados em exercício e o Podemos tem 14 parlamentares.