PSDB, Podemos e Solidariedade avaliam fusão e podem mexer com o equilíbrio de força partidária no Ceará

Nacionalmente, a bancada do PSDB tem 13 deputados em exercício, a do Podemos tem 14 parlamentares e a do Solidariedade tem cinco

Escrito por
Igor Cavalcante igor.cavalcante@svm.com.br
Ozires Pontes e Bismarck Maia comandam o PSDB e o Podemos no Ceará
Legenda: Ozires Pontes e Bismarck Maia comandam o PSDB e o Podemos no Ceará
Foto: André Lima/CMFor

De olho na sobrevivência, mais de dez partidos políticos brasileiros negociam a formação de federações ou a realização de fusões. Entre as siglas, a possibilidade de fusão entre PSDB, Podemos e Solidariedade têm tratativas mais avançadas. Caso a união saia do papel, lideranças políticas cearenses que compõem ou são aliadas da legenda devem ser diretamente impactadas.

Tanto no Ceará quanto nacionalmente, o PSDB é, entre os três partidos, o que já foi mais forte ao longo da história. Além de já terem comandado o País, os tucanos tiveram governadores no Ceará e, até 2022, tinham uma cadeira no Senado pelo Estado, com o ex-senador e ex-governador Tasso Jereissati (PSDB), um dos caciques políticos do PSDB.

Veja também

No entanto, atualmente, a sigla tem apenas a deputada estadual Emília Pessoa (PSDB) exercendo cargo a nível estadual ou federal. Os tucanos também saíram de quatro para duas prefeituras cearenses entre 2020 e o ano passado. 

PSDB no Ceará

Atual presidente do PSDB Ceará e prefeito de Massapê, Ozires Pontes avalia que a legenda estava “prestes a ser sepultada” e, atualmente, “é um partido que está sendo procurado por todas as outras forças políticas”.

“As tratativas são no sentido de uma fusão, mantendo nossa história, nosso legado e nosso programa. Buscamos uma proposta de fusão que nos coloque na ponta de um projeto político de centro para as eleições de 2026, com reflexos positivos para o Ceará também. O PSDB está bem vivo e tem muito a contribuir com o nosso Estado e País”
Ozires Pontes
Presidente do PSDB Ceará

O mesmo discurso é reforçado pela presidente do PSDB Fortaleza, Kamyla Castro. Ao PontoPoder, ela diz que está, junto com os correligionários, “acompanhando com atenção as articulações conduzidas pelo presidente nacional Marconi Perillo e pela liderança do presidente estadual da Federação, Tasso Jereissati”. “O diálogo avança em busca da melhor convergência estratégica, sempre com respeito ao legado e aos princípios do nosso partido”, aponta.

Apesar do otimismo da cúpula tucana no Ceará, Ozires Pontes adianta que não pretende seguir no comando da legenda no Estado.

“Eu estou pronto a contribuir para um projeto sólido e de futuro para o meu partido, mas não necessariamente na presidência. Já tive uma conversa com o senador Tasso sobre isso, estou com todos os esforços centrados em fazer a melhor gestão da história de Massapê”, conclui.

Podemos e Solidariedade

No caso do Solidariedade e do Podemos, as siglas também têm representações discretas no atual cenário político cearense. O Podemos comanda duas cidades e o Solidariedade apenas uma.

Contudo, o Podemos exerce um papel estratégico no equilíbrio de forças estaduais. A sigla é comandada pelo ex-prefeito de Aracati, Bismarck Maia (Podemos), aliado de primeira ordem do senador Cid Gomes (PSB). O ex-mandatário municipal tem significativa força política no Litoral Leste do Estado, inclusive, ao lado dos dois filhos com mandatos eletivos: o deputado estadual Guilherme Bismarck (PSB) e o deputado federal licenciado Eduardo Bismarck (PDT), que é secretário de Turismo do Ceará.

Veja também

Outro nome estratégico nos quadros do Podemos é o prefeito de Juazeiro do Norte, Glêdson Bezerra. O político, eleito em 2020 e reeleito no ano passado derrotando nomes apoiados pela máquina estadual, tem aval da cúpula nacional da legenda para manter sua independência estadual— e oposição em períodos eleitorais — ainda que o partido seja comandado por um nome governista.

Assim como os tucanos, o presidente estadual do Podemos também é cauteloso ao tratar sobre as negociações de fusão.

“Existem tratativas nesse sentido e estão evoluindo, adiantadas, entre as duas direções, nacionais. Estamos acompanhando, mas é bom esperar o desfecho, pois em 2023 essas mesmas estiveram bem próximas de um resultado fusão e não prosperaram”
Bismarck Maia
Presidente do Podemos Ceará

Ao PontoPoder, o prefeito de Juazeiro do Norte, Glêdson Bezerra, reforça que as conversas entre as cúpulas nacionais estão “bem avançadas” e a possibilidade de fusão “é muito grande”. 

“Temos que esperar para que isso se concretize, até porque, recentemente, houve outras possibilidades, conversas já foram muito adiantadas e acabou não vingando, então vamos aguardar se isso ao final vai dar certo ou não”, afirma.

“Caso venha a dar certo, eu vejo com bons olhos, porque ocorreria um fortalecimento natural do partido que sairia de 18 deputados federais para uma bancada de 30 deputados federais. Isso é muito importante do ponto de vista de força partidária, de tempo de TV, de fundo partidário, enfim, inquestionavelmente o partido se fortalece”, disse Bezerra. 

A ameaça da cláusula de desempenho

Atualmente, muitos partidos se movimentam para realizar fusões ou viabilizar ou desfazer federações tentando sobreviver ao pleito de 2026. A federação Psol-Rede, por exemplo, pode ser desfeita por iniciativa da Rede. O PV também pode deixar a federação com PT e PCdoB. Siglas como PDT, que tem 17 deputados; PSB, que tem 15; Avante, que tem sete; PRD, com 5; e Novo, que tem quatro; mantém tratativas intensas para em Brasília e nos estados para chegarem fortalecidos em 2026.

A meta das siglas é superar a cláusula de desempenho, que estabelece a eleição de 13 deputados federais ou 2,5% do eleitorado para a Câmara dos Deputados e 1,5% em pelo menos nove estados como condições mínimas para que os partidos recebam recursos para financiar campanhas e para que possam usar o tempo de propaganda eleitoral gratuita no rádio e na televisão.

No caso do PSDB, o partido, atualmente, está federado ao Cidadania. A união foi concretizada em 2022 justamente para superar a cláusula de barreira. No pleito daquele ano, apesar de terem conseguido superar os valores mínimos, as duas siglas tiveram uma redução drástica de representatividade no País. No ano seguinte, PSDB e Cidadania avançaram em conversas sobre a possibilidade de fusão com o Podemos, o que não avançou. Mais recentemente, a fusão com o PDT e o Podemos também passou a ser cogitada, mas perdeu força.

Contudo, em 11 de outubro do ano passado, foi o Cidadania que decidiu dissolver a federação com os tucanos no próximo ano, assim que o prazo mínimo de 4 anos for alcançado. Com o fim dessa parceria, o PSDB busca o Podemos e o Solidariedade para uma ação mais drástica, a união definitiva entre as siglas. Nacionalmente, a bancada do PSDB tem 13 deputados em exercício, o Solidariedade tem cinco e o Podemos tem 14 parlamentares

Veja também

A fusão partidária mais recente no País ocorreu entre o PTB e o Patriota, que formaram o Partido Renovação Democrática (PRD). Anteriormente, outra fusão teve mais impacto no Ceará, a união do DEM com o PSL, que formou o União Brasil. À época, a nova sigla virou motivo de disputa entre as forças governistas e oposicionistas no Ceará. O ex-senador Chiquinho Feitosa (Republicanos), aliado fiel do ministro Camilo Santana (PT), articulou dominar a sigla, mas acabou derrotado pelo ex-deputado federal Capitão Wagner (União).

Integrantes do Solidariedade foram procurados, mas não foram localizados pela reportagem.

Este conteúdo é útil para você?