Em meio à crise no INSS, Ciro reage e põe o Ceará no olho do furacão do conflito entre PDT e PT
De centro-esquerda, partido vive dilema entre apoiar governos petistas ou buscar caminho na oposição
A demissão de Carlos Lupi (PDT) do comando do Ministério da Previdência Social, após o avanço das investigações da Polícia Federal sobre um esquema bilionário de fraudes no INSS, reabriu uma crise que vai além da Esplanada. A saída do pedetista expôs as divergências no tocante às relações com o PT e o governo Lula. E o Ceará está no olho do furacão político.
Na última sexta-feira, o presidente Lula decidiu nomear Wolney Queiroz (PDT-PE), ex-deputado e atual secretário-executivo da pasta, para o lugar de Lupi. A escolha, feita sem consulta ampla à bancada pedetista, provocou reação imediata.
Em publicação nas redes sociais, o ex-ministro Ciro Gomes, candidato a presidente pelo Partido em 2018 e 2022, classificou a troca como uma "indignidade inexplicável". A declaração pública, pouco habitual para postagens institucionais do partido, escancarou o descontentamento dele – e de um grupo interno na legenda - com os rumos da aliança do PDT com o governo federal.
Do Planalto ao Ceará: racha se intensifica
O distanciamento de Ciro com o PT remonta ainda à campanha eleitoral à Presidência em 2018. O pedetista atribui a vitória de Bolsonaro, naquele ano, em parte, à postura do PT. Após aquele momento, as declarações de Ciro, embora incômodas aos petistas, não levaram a um imediato rompimento no Ceará, onde os partidos tinham relações desde a década de 1990. Isso, entretanto, durou pouco.
Em 2022, quando tudo caminhava para a manutenção da aliança entre as legendas, um impasse na indicação do candidato a governador para suceder a Camilo Santana deu o golpe de misericórdia na parceria. O PDT lançou Roberto Cláudio como candidato e perdeu justamente para Elmano de Freitas, o candidato petista.
O partido, que por anos foi a principal força política do estado, viu sua situação piorar com o rompimento político entre Ciro e o irmão Cid Gomes, que se filiou ao PSB e levou consigo boa parte das lideranças pedetistas.
Drive Político destaca a crise no partido
Dois polos no PDT
Desde o ano passado, porém, o PDT aprofundou seus dilemas após o então prefeito de Fortaleza, José Sarto (PDT), ter perdido a campanha à reeleição, em um pleito vencido novamente pelo PT: Evandro Leitão.
Agora os pedetistas estão divididos entre dois polos: um alinhado ao governo petista principalmente em Fortaleza e outro mais fiel à herança de Ciro Gomes e ao projeto político que se opõe ao PT, liderado pelo ex-prefeito Roberto Cláudio.
Na Câmara Municipal de Fortaleza, por exemplo, dos oito vereadores pedetistas, seis integram a base do prefeito Evandro Leitão. Já na Assembleia Legislativa, o partido sofreu uma debandada significativa — boa parte da bancada migrou para o PSB.
A divisão local e o episódio nacional e põem o dilema existencial do PDT: ser aliado do PT, mantendo uma “tradição”, ou reafirmar seu papel de oposição programática, como propõe o grupo de Ciro Gomes.
Desgaste e incertezas para 2026
A movimentação no governo e a resposta contundente de Ciro recolocam em debate o futuro do PDT nas eleições de 2026. A sigla terá fôlego e unidade para lançar um novo nome à Presidência? Ou vai se reconfigurar como base de apoio de Lula, abrindo mão de um protagonismo nacional?
No Ceará, onde o partido enfrenta o desafio de manter sua relevância diante do avanço petista, a crise também pode gerar reconfigurações.
O dilema está posto: alinhar-se ao governo federal e às forças locais do PT ou buscar um novo rumo — ainda incerto — na oposição.