Qual o cálculo para Izolda Cela ser candidata ao Governo do Ceará; e qual cálculo para não ser
Primeira mulher a governar o Estado, ela tem apoio expressivo de aliados, mas a falta de experiência em disputas anteriores é apontada, inclusive, por correligionários
Apesar da aproximação do período de oficialização de candidaturas para as eleições deste ano, o grupo governista no Ceará ainda parece estar longe de uma definição. Dentre os quatro pré-candidatos do PDT ao Governo do Estado, dois têm dividido mais enfaticamente, nos bastidores e publicamente, o apoio de aliados: a governadora Izolda Cela e o ex-prefeito de Fortaleza Roberto Cláudio.
A pedetista, primeira mulher a assumir o Executivo Estadual com a renúncia do ex-governador Camilo Santana (PT), vem sendo mais clara, nos últimos dias, quanto à disposição para a disputa interna. Se quando assumiu o Governo, em abril, ela buscou se afastar dos holofotes eleitorais, afirmando em aparições públicas que o momento era de foco na gestão estadual, na última quinta-feira (7), a governadora foi direta ao sustentar a pré-candidatura nas redes sociais.
"O propósito de colocar meu nome para continuar governando o Estado firma-se na responsabilidade e compromisso com nosso povo do Ceará. Coloco meu nome para unir. Sigo defendendo o respeito e o diálogo porque não se faz nada sozinho. E fortalecendo em mim a honra e o compromisso de seguir na missão".
Nome preferido por um conjunto de partidos que compõem a base aliada, Izolda tem na simpatia de lideranças de outras legendas um dos principais trunfos para se manter no páreo. Em outros momentos da pré-campanha, inclusive em meio ao acirramento entre pré-candidatos do PDT, ela fez sinalizações em defesa da manutenção da aliança em torno do projeto político que hoje representa, colocando-se como uma figura aglutinadora em um grupo que reúne interesses nem sempre comuns - além de contradições.
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No cálculo até a definição da candidatura, porém, há outras variáveis a serem levadas em consideração. No momento em que são postas à prova a trajetória e as características de cada pré-candidato - há na lista, ainda, o presidente da Assembleia Legislativa, Evandro Leitão, e o deputado federal Mauro Filho -, quais diferenciais estarão na balança? Abaixo, o Diário do Nordeste lista alguns deles:
Cálculo para ser candidata:
Apoio de aliados
Ainda na quinta, data da última declaração de Izolda sobre a sucessão estadual, cinco siglas divulgaram um manifesto em prol da escolha da governadora como candidata: PT, MDB, PP, PV e PCdoB.
O texto, que defende que "a construção de uma candidatura deve ser o resultado da unidade e do diálogo entre todos os partidos", teve o aval de Camilo, além de líderes das demais legendas, caso de Eunício Oliveira (MDB), Zezinho Albuquerque (PP), Marcelo Silva (PV) e André Ramos (PCdoB).
Nesta sexta (8), o próprio ex-governador se manifestou. Disse que "defender que seja dado à governadora Izolda Cela, do PDT, o direito a buscar a reeleição, por sua seriedade e competência, é questão de justiça".
Na vida pública sempre busquei ser justo e leal. Meus irmãos e irmãs cearenses são testemunhas da minha história. Defender que seja dado à governadora Izolda Cela, do PDT, o direito a buscar a reeleição, por sua seriedade e competência, é questão de justiça. (Cont.)
— Camilo Santana (@CamiloSantanaCE) July 8, 2022
Com a declaração, Camilo bateu de frente com parte da cúpula governista, que inclui o ex-governador Ciro Gomes (PDT), mas afirmou que não irá "contra os meus princípios". O posicionamento do ex-governador tem um peso diferenciado, dado o capital político que conquistou ao longo do Governo, a influência dele sobre prefeitos e líderes regionais.
Ela também já recebeu demonstrações de apoio de pedetistas, dentre eles Evandro Leitão, outro pré-candidato. A pressão de aliados, dentro e fora do próprio partido, pode contar a favor da governadora.
Reeleição
Se escolhida candidata, Izolda disputaria apenas mais um mandato, este de quatro anos, uma vez que, caso vencesse nas urnas, já estaria sendo reeleita. Não havendo espaço para pretensões de emendar uma outra postulação, tal fato tende a ser colocado na mesa de negociação ainda em 2022.
Assim, a costura de um acordo que apaziguasse os ânimos no PDT para o pleito vindouro não consideraria apenas as eleições de outubro, mas também o que estaria em jogo a partir do resultado.
Menos desgaste público
Embora nunca tenha sido "cabeça de chapa", a pedetista teria, para eventual campanha, serviço a mostrar. O avanço nos indicadores da Educação desde que foi secretária em Sobral - e, posteriormente, no Governo Cid Gomes - é constantemente citado por apoiadores em palanques ao longo da pré-campanha.
O perfil discreto de Izolda, que a afasta de polêmicas, também poderia tirar munição da oposição. É Roberto Cláudio o nome que aparece em situação mais confortável entre os pedetistas na pesquisa interna divulgada pelo partido nesta semana, mas aliados de Izolda comemoraram a taxa de rejeição - menor - atribuída a ela.
Cálculo para não ser candidata:
Menos conhecida
Os fatores que pesam para que a governadora tenha menos desgaste público têm, por outro lado, relação com um argumento que é colocado, inclusive, por correligionários: o de que Izolda é menos conhecida.
Foi o que pontuou o próprio presidente nacional do PDT, Carlos Lupi, ao defender publicamente a pré-candidatura do ex-prefeito de Fortaleza, que comandou a Capital por oito anos, fez um sucessor em 2020 e vem se dedicando, nos últimos meses, a ganhar força no interior do Estado. Em entrevista ao jornal O Globo, o dirigente reagiu ao veto de petistas ao nome de Roberto Cláudio.
"A minha amiga Izolda, que é uma mulher muito preparada, não é muito conhecida. Será que ela consegue em três meses ter esse conhecimento antes da convenção para se tornar favorita? Não sei. Acho pouco provável".
Desgaste interno no PDT
A indefinição da candidatura governista e as fissuras já evidentes no bloco certamente terão impactos antes, durante e após as eleições. Diante do desgaste interno no PDT, a governadora não é o único nome a buscar se cacifar como instrumento de unidade - outros são apontados por aliados como nomes também capazes disso.
Roberto Cláudio, que durante as duas gestões municipais também teve de conciliar demandas de uma ampla base governista, é reconhecido como bom articulador e pode citar cenários em que foi testado quanto a isso e correspondeu. Evandro Leitão e Mauro Filho, ligados ao Legislativo e à própria gestão estadual, também têm bom trânsito entre aliados. É um critério que coloca os concorrentes em uma régua semelhante.
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Inexperiente na disputa
Com trajetória ligada ao Executivo, Izolda não tem a mesma experiência que Roberto Cláudio, por exemplo, na linha de frente de uma campanha eleitoral.
Na construção de uma candidatura, além do plano de Governo - que, aliás, não parece ser a principal preocupação no grupo governista no momento -, estão envolvidos outros fatores, do carisma identificado pelo eleitorado à desenvoltura nos debates.
Dentre os quatro pré-candidatos do PDT, apenas o ex-prefeito de Fortaleza pode dizer que tem no currículo a experiência de duas eleições majoritárias numa Capital. Esta é, entre defensores do nome de Roberto Cláudio, uma vantagem expressiva diante de possíveis cenários que consideram também a oposição.