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Escala 6x1, PL Antifacção e CPIs: Congresso empurra decisões cruciais para o ano eleitoral de 2026

Segurança pública, STF, CPIs, educação e pautas sociais ficam no centro do debate do próximo semestre.

Escrito por
Beatriz Matos, de Brasília producaodiario@svm.com.br
Presidente do Congresso, Davi Alcolumbre, preside a sessão. A Mesa Diretora está composta por deputados e senadores. O plenário está cheio de legisladores em pé.
Legenda: Congresso tem uma série de pautas importantes para o ano de 2026.
Foto: Kayo Magalhães/Câmara dos Deputados

Com a entrada em vigor do recesso parlamentar, o Congresso Nacional inicia 2026 com uma lista de pendências relevantes que ficaram fora da pauta de encerramento do ano legislativo. Projetos ligados à segurança pública, indicações ao Supremo Tribunal Federal (STF), comissões de investigação e a agenda educacional devem concentrar as atenções no primeiro semestre, em um cenário já atravessado pelo calendário eleitoral.

Uma das principais propostas que ficaram pendentes para conclusão é o PL Antifacção, enviado pelo Poder Executivo com o objetivo de endurecer o combate ao crime organizado. O texto foi aprovado pelo Senado no dia 10 de dezembro, sob relatoria do senador Alessandro Vieira (MDB-SE), mas, após alterações, retornou à Câmara dos Deputados para nova análise.

A proposta amplia a tipificação penal das facções criminosas, eleva penas para lideranças e para crimes cometidos “a serviço” dessas organizações, além de prever maior integração e compartilhamento de dados entre órgãos de segurança. O texto também discute novas fontes de financiamento para o setor, como a criação de um tributo sobre apostas esportivas, a chamada “Cide-Bet”.

Para o professor de segurança pública do Ibmec Brasília, Fagner Dias, o adiamento do projeto não é casual. Segundo ele, o PL Antifacção envolve “temas complexos, sensíveis e com alto custo político”, especialmente em um Congresso polarizado. “Segurança pública, sistema penal e pacto federativo nunca são assuntos fáceis de enfrentar, ainda mais no fim do ano legislativo, quando o esforço costuma se concentrar em matérias com maior consenso ou impacto mais imediato”, avalia.

Dias também aponta que o projeto enfrenta resistências jurídicas e políticas. “Há dúvidas sobre o risco de ampliar a seletividade penal ou agravar problemas já existentes no sistema prisional. Diante disso, adiar acaba sendo a opção politicamente mais confortável”, afirma.

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Queda de braço na PEC da Segurança

Outra pauta que vai ficar para 2026 é a PEC da Segurança Pública, defendida pelo presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB). Apresentada pelo governo federal, a proposta busca reforçar a coordenação nacional da política de segurança, sem retirar formalmente competências de estados e municípios. O texto prevê integração entre polícias federal, civil, militar e penal, além de compartilhamento de bancos de dados, padronização mínima de procedimentos e fortalecimento de políticas de prevenção.

Apesar do discurso de cooperação, a proposta tem sido vista como um ponto de tensão entre o governo federal e os governadores. Para Fagner Dias, existe uma desconfiança clara por parte dos estados. “Os governadores enxergam com receio qualquer tentativa de ampliar o papel da União em uma área que, na prática, sempre foi responsabilidade estadual. Existe a percepção de perda de autonomia administrativa e política”, explica.

Do outro lado, o especialista observa que o governo federal argumenta que o crime organizado já ultrapassou fronteiras estaduais e exige uma coordenação mais robusta. “O problema é que essas visões ainda não se encontraram. Em ano eleitoral, com governadores também focados em seus próprios projetos políticos, esse impasse tende a se aprofundar, o que dificulta avanços concretos da PEC em 2026”, avalia.

Ano eleitoral pesa no ritmo do Congresso

O calendário eleitoral aparece como um dos principais fatores de pressão sobre a tramitação dessas propostas. Segundo Fagner Dias, o impacto de 2026 tende a ser significativo. 

“Em anos eleitorais, os parlamentares evitam pautas que possam gerar desgaste ou interpretações negativas junto ao eleitorado. Segurança pública rende discurso, mas também cobra coerência e resultados, o que nem sempre é simples de entregar”, afirma.

Na avaliação do professor, o cenário deve ser marcado por discursos mais duros e menos concessões. “Podemos até ver movimentações simbólicas para demonstrar atuação, mas a construção de consensos profundos fica muito mais difícil quando o tema exige acordos entre campos ideológicos e interesses regionais distintos”, completa.

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STF e investigações ficam para 2026

Além das pautas de segurança, o Senado ainda precisa sabatinar o advogado-geral da União, Jorge Messias, indicado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva para o STF. A sabatina, que estava prevista para 10 de dezembro, foi cancelada pelo presidente da Casa, Davi Alcolumbre (União-AP), e ainda não tem nova data definida. Caso seja aprovado na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), Messias precisará de pelo menos 41 votos no plenário.

Também ficaram para 2026 diversas comissões parlamentares de inquérito. A CPI do Banco Master, proposta pelo senador Eduardo Girão (Novo-CE), já reúne assinaturas suficientes, mas ainda aguarda a leitura do requerimento em plenário. Sem essa etapa, a comissão não pode ser instalada.

Já a CPMI do INSS, que investiga fraudes em descontos indevidos e operações de crédito consignado envolvendo aposentados, encerrou os trabalhos de 2025 após uma série de reuniões e a aprovação de dezenas de quebras de sigilo. O colegiado entra em recesso e deve retomar as atividades no próximo ano, com a previsão de apresentação de um relatório preliminar em fevereiro e articulações para prorrogação dos trabalhos por mais 60 dias.

Educação também fica no radar

Na área da educação, o novo Plano Nacional de Educação (PNE) avançou na Câmara, mas a conclusão da tramitação deve ocorrer apenas em 2026. A comissão especial aprovou o parecer do relator Moses Rodrigues (União-CE) ao PL 2.614/2024, que define as diretrizes da política educacional para os próximos dez anos.

O texto tramita em caráter conclusivo e pode seguir diretamente para o Senado, caso não haja recurso para votação em plenário. Ainda assim, para virar lei, precisará do aval das duas Casas.

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Pautas sociais entram no cálculo político

Entre as propostas de maior apelo social que devem voltar ao centro do debate em 2026 está a discussão sobre o fim da escala de trabalho 6x1. O tema é tratado em diferentes propostas em tramitação no Congresso Nacional, que buscam reduzir a jornada semanal de trabalho, hoje fixada em até 44 horas, com ampliação dos períodos de descanso.

A pauta tem mobilizado sindicatos e ganhou força no debate público ao longo de 2025, mas enfrenta resistência de setores empresariais e de parte do Congresso, o que tem dificultado avanços mais rápidos.

Para o professor de segurança pública do Ibmec Brasília, Fagner Dias, esse tipo de proposta tem peso estratégico no cenário pré-eleitoral, mas não necessariamente se traduz em tramitação acelerada no Legislativo. “Essas pautas dialogam diretamente com a opinião pública, mas geram forte reação de setores empresariais e de parte da base parlamentar”, afirma.

Segundo ele, a tendência é que o governo priorize iniciativas de alto valor simbólico e menor complexidade. “Isso pode gerar tensão na relação com o Congresso, mas também funciona como moeda de negociação política em um cenário pré-eleitoral”, conclui.

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