O que levou a Hapvida ao maior tombo desde a estreia na Bolsa e à perda de R$ 7 bilhões?
Empresa busca recuperar prejuízos com recompra de ações; nova reação do mercado deve ser sentida nesta sexta (14).
A companhia cearense Hapvida (HAPV3) perdeu quase R$ 7 bilhões em valor de mercado nesta quinta-feira (13). O valor passou de R$ 16,18 bilhões para R$ 9,24 bilhões, totalizando uma redução total de R$ 6,94 bilhões.
A perda é a maior desde que o negócio estreou na bolsa, valendo R$ 19 bilhões, em abril de 2018.
A queda veio após o mercado se decepcionar com o balanço trimestral financeiro da empresa, apresentado na noite da última quarta-feira (12).
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Os papéis da companhia fecharam em queda de 42,21%, a R$ 18,89. No acumulado do ano, a desvalorização já supera 40%.
Por que as ações do Hapvida despencaram?
Segundo especialistas, mesmo com um lucro líquido ajustado de R$ 388 milhões no terceiro trimestre deste ano, o resultado geral da empresa foi bem abaixo do esperado.
O relatório indica que a dívida líquida da companhia fechou o trimestre em R$ 4,250 bilhões, quantia 3,7% maior do que o anunciado um ano antes.
O Ebitda (Lucro Antes de Juros, Impostos, Depreciação e Amortização) ajustado recorrente apresentou uma queda trimestral de 20%, alcançando R$ 613 milhões, apesar de analistas projetarem um valor de cerca de R$ 778,5 milhões.
Além disso, foi registrada uma queima de caixa de R$ 52 milhões. Já a sinistralidade caixa aumentou 1,3 ponto percentual comparado ao segundo trimestre, atingindo 75,2%.
A expectativa do mercado para a alta era de apenas 0,8 ponto.
Na visão do economista e professor da Universidade de Fortaleza (Unifor), Ricardo Coimbra, o mercado foi fortemente surpreendido pelos resultados negativos da Hapvida, principalmente em relação à expectativa a médio e longo prazo sobre a empresa.
“Essa foi a primeira reação do mercado, as principais agências de análise de risco estão dando sobre a perspectiva de valor da companhia muito abaixo daquilo que se projetava anteriormente”, alerta.
O especialista avalia que o segmento enfrenta alta competitividade, o que dificilmente permitirá que a Hapvida tenha crescimento de lucratividade nos próximos ciclos da forma anteriormente esperada.
Coimbra aponta, ainda, um crescimento limitado de beneficiários.
“Como consequência, você tem um impacto significativo não só na possibilidade de crescimento de lucratividade, mas, também, quando você analisa os números, a relação entre dívida e cálculo de geração de caixa da empresa, fica bastante comprometido para os próximos ciclos”
De acordo com o economista, a empresa terá que pensar num redirecionamento dos investimentos e criar mecanismos para mostrar ao mercado como irá reverter o cenário, de modo a impedir uma perda significativa na valoração.
Resumidamente, foram os seguintes fatores:
- EBITDA ajustado e demais indicadores vieram mais fracos que as projeções;
- Endividamento cresceu e preocupou investidores;
- Empresa gastou mais do que gerou no trimestre;
- Custos assistenciais subiram acima do previsto;
- Diante do cenário, analistas revisaram expectativas para baixo.
Hapvida fará recompra de ações
Como resposta ao tombo no valor das ações, a Hapvida anunciou, nesta quinta-feira (13), um novo programa de recompra de ações de emissão da companhia, em substituição ao programa de recompra aprovado em 14 de outubro de 2025.
Na prática, isso significa que a empresa irá recomprar ações para mantê-las em tesouraria, com o objetivo de revendê-las ao mercado durante um momento mais propício, conforme esclarece Ricardo Coimbra.
A finalidade da estratégia, segundo a empresa, é “maximizar a geração de valor para os acionistas por meio de uma administração eficiente da estrutura de capital”.
De acordo com as informações, poderão ser adquiridas até 70 milhões de ações pelo período de 18 meses, contados de 13 de novembro de 2025.
As aquisições serão realizadas na B3 S.A. – Brasil, Bolsa, Balcão (B3) a preços de mercado, por meio de instituições financeiras intermediárias, como: Bank of America Merrill Lynch Banco Múltiplo S.A., BTG Pactual Corretora de Valores S.A., Bradesco S.A. Corretora de Títulos e Valores Mobiliários, Itaú Corretora de Valores S.A. e XP Investimentos Corretora de Câmbio, Títulos e Valores Mobiliários S.A.
Para Coimbra, a medida tenta mitigar os prejuízos sofridos pela empresa devido a queda significativa nas ações, “mostrando que a companhia está atenta e vai buscar todos os esforços para tentar recuperar o cenário e reestruturar o negócio ao longo do tempo.
“Vamos observar como é que o mercado vai visualizar isso, principalmente no pregão de amanhã. Pode ser que você tenha algum tipo de recuperação dos preços das ações em função dessa movimentação”, sugere.
Mais informações sobre o Programa de Recompra estão disponível no site de relações com investidores da Companhia (ri.hapvida.com.br).
O que diz a Hapvida
Questionada sobre o resultado, a companhia apenas enviou o fato relavante sobre o novo programa de recompra de ações. Em publicação enviada à imprensa, a Hapvida disse que, "mesmo diante de um cenário de maior pressão de custos, a companhia manteve o equilíbrio dos investimentos em rede própria, visando ao aumento de capacidade da rede própria de atendimento, como parte da estratégia que busca ganhos estruturais de longo prazo, maior verticalização e melhor qualidade assistencial.
Jorge Pinheiro, presidente da Hapvida, disse que a companhia está "consolidando um ciclo de crescimento sustentável, com investimentos consistentes em rede própria, inovação e eficiência operacional. Nosso foco é fortalecer as bases com forte governança e qualidade, combinando disciplina financeira, inteligência de dados e ampliação do acesso em todas as regiões do país”.
“Mais do que expandir nossa estrutura, estamos transformando a forma de cuidar. A tecnologia, a pesquisa e a inteligência artificial estão nos permitindo antecipar necessidades e oferecer uma experiência de saúde mais integrada, humana e preditiva. Esse é o futuro que estamos construindo: uma Hapvida cada vez mais próxima das pessoas e preparada para os próximos anos da saúde”, acrescentou Pinheiro.
Fechamento da Bolsa nesta quinta-feira (13)
O Ibovespa encerrou a quinta-feira (13) em leve queda de 0,30%, aos 157.162 pontos.
Baixas
• Hapvida (HAPV3): -42,22%
• Raízen (RAIZ4): -6,45%
• Braskem (BRKM5): -4,89%
• Cosan (CSAN3): -4,84%
• Ultrapar (UGPA3): -4,77%
Altas
• MRV (MRVE3): +5,16%
• Allos (ALOS3): +4,58%
• Marfrig (MBRF3): +4,36%
• B3 (B3SA3): +2,48%
• Caixa Seguridade (CXSE3): +1,79%