O que é a 'supercana', nova aposta de Eike Batista

Empresário aposta em uso mais nobre do produto para levantar o seu império X

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Redação producaodiario@svm.com.br
(Atualizado às 15:43)
Eike Batista aposta em supercana para produção de combustível de avião e plástico biodegradável
Legenda: Eike Batista aposta em supercana para produção de combustível de avião e plástico biodegradável
Foto: Reprodução/Instagram

Após anunciar a sua volta nas redes sociais, no fim de fevereiro, o empresário Eike Batista visa produzir o que está chamando de "supercana". O produto, que é fruto de uma parceria iniciada há anos com um agrônomo especialista em cana-de-açúcar, é uma variedade da planta que promete produzir até três vezes mais etanol e mais bagaço. 

Para a reportagem da BBC Brasil, Eike Batista diz que seu objetivo não é explorar a "supercana" como fonte de energia por meio da queima do bagaço, mas sim para usos "mais nobres", como matéria-prima para a fabricação de plástico biodegradável, a partir do bagaço, e de combustível sustentável de aviação (SAF, na sigla em inglês), a partir do etanol.

Segundo ele, o fundo árabe Abu Dhabi Investment Group (Adig) prometeu US$ 500 milhões em investimento para a produção de SAF de etanol, que  seria destinado aos aviões da companhia aérea Emirates.

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Porém, o processamento desta nova cana exigiria novas máquinas, maiores e mais reforçadas, o que também estaria contemplado no projeto de Eike.

"As pessoas levam de um jeito muito leve: 'Ah, as plantas não dão para processar essa cana'. Mas peraí, se eu tô produzindo três vezes mais, essa conta se paga numa velocidade absurda. Por isso, nosso negócio começa todo do zero", pontua.

Segundo o empresário, a "supercana" é hoje cultivada de forma experimental em uma usina de referência no interior de São Paulo, em Araras. O projeto-modelo deve ter início neste ano, com o plantio de 50 hectares no norte do Estado do Rio, em uma região próxima ao porto de Açu, onde também serão construídas três fábricas de processamento.

Estimativa de produção

As projeções são de que as embalagens plásticas produzidas a partir do bagaço, entrem para produção em 2026. Já o combustível de avião (SAF), seria apenas em 2028. Até 2031 a empresa estima ter cerca de 70 mil hectares de área plantada.

Eike diz ainda já ter sido procurado por cooperativas interessadas em fazer consórcios.

De onde vem a "supercana"

Parte da indústria canavieira olhou para o anúncio de Eike com ressalvas. O setor passou anos investindo em pesquisas de variedades de cana-de-açúcar semelhantes à do projeto, que produzissem mais bagaço, mas maioria das iniciativas foi abandonada por se mostrar economicamente inviáveis.

A parceria que está sendo retomada é de Eike com o agrônomo Sizuo Matsuoka, que há décadas se dedica ao melhoramento genético da cana-de-açúcar. Ele estuda a planta desde 1968 e se tornou peça-central dessa nova investida do empresário conhecido pelo seu império X.

No início dos anos 2000, a pesquisa do agrônomo se concentrou nessa última vertente, que acabou ficando conhecida no setor como "cana-energia". Nesse tipo de aplicação, a biomassa da cana (o bagaço) é, de forma simplificada, queimada para produzir energia.

Ainda segundo Eike para a BBC Brasil, Matsuoka insistiu na pesquisa nesses últimos anos, tendo importado germoplasmas (material genético) de cana-de-açúcar dos Estados Unidos, da França e da ilha de Barbados e promovido cruzamentos para desenvolver 17 novas variedades.

"Por isso que a gente chama esse o maior programa de melhoramento genético convencional do mundo", diz Eike.

O "convencional" se deve ao fato de que as variedades são desenvolvidas a partir do cruzamento de plantas, ao contrário, por exemplo, da engenharia genética feita em laboratório, que produz plantas geneticamente modificadas.

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O anúncio da volta

"I'm back", escreveu Eike Batista no X (antigo Twitter), em fevereiro, ao compartilhar uma notícia da plataforma de informações financeiras Bloomberg em que ele alegava ter garantido investimento de US$ 500 milhões (cerca de R$ 2,95 bilhões) para seu mais recente empreendimento, a supercana.

Também em inglês, o post seguinte marcava Elon Musk, o bilionário à frente do X e de empresas como Tesla e SpaceX: "Hey @elonmusk, remember Rio '08? Let's talk supercana and X!" ('"Hey Elon Musk, lembra do Rio em 2008? Vamos falar de supercana e X!")

Nos comentários, as opiniões se dividiram. Alguns o parabenizaram pelo retorno ao mundo dos negócios, expressaram admiração por sua trajetória, enquanto outros reagiram com ceticismo e com críticas ácidas, muitas respondidas pelo empresário.

"Nossa, como gosto de haters!!!", ele chegou a rebater, em letras maiúsculas.

Quem é Eike Batista

Eike Batista, 68 anos, chegou a ser o homem mais rico do Brasil, com uma fortuna que atingiu US$ 34,5 bilhões em 2012. Ele construiu o seu império na exploração de mineração, petróleo, gás, logística, energia, indústria naval e carvão mineral. É fundador e presidente do grupo EBX.

Foi preso em 2017 e detido em 2019 durante a Operação Lava Jato. Em 2020, assinou acordo de delação premiada com a Procuradoria-Geral da República e foi condenado pela Justiça Federal do Rio por crimes contra o mercado de capitais em 2021.

Ele é alvo de cinco ações penais em andamento e recorre em todas. Parte de seu patrimônio permanece bloqueada pela Justiça.

Um dos aspectos mais marcantes da derrocada do império X foram as promessas bilionárias que não se concretizaram, em especial as reservas de petróleo da OGX, que acabaram revisadas para uma fração do previsto inicialmente, dando início à crise que engoliu o grupo em 2013.

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