O que a mexicana Oxxo tem em comum com nova bandeira de loja de conveniência cearense?
Empresa do Estado vai investir em esquema de unidades menores, focadas em produtos perecíveis
O modelo de lojas de conveniência como as da mexicana Oxxo, com mais de 500 unidades no Brasil (todas em São Paulo), deve se tornar mais comum em Fortaleza. Marcas cearenses como o Super do Povo e o Grupo São Luiz já têm as próprias unidades nesse modelo. O primeiro tem a Do Povo Mini Market, que deve abrir a segunda unidade ainda em 2024 no bairro Aldeota, enquanto o segundo tem o Mini Mercadinhos São Luiz, na Praia de Iracema, que funciona em caráter experimental.
Agora, como parte do plano de expansão com a abertura de 40 lojas no Ceará até 2029, o Cometa Supermercados vai inaugurar uma nova bandeira de loja de conveniência: a Cometa Express. O assunto foi tratado por Roberto Rocha, vice-presidente do Cometa Supermercados, em entrevista exclusiva para o Diário do Nordeste. Será a primeira vez que a empresa vai atuar em uma bandeira diferente da tradicional e parte para o mercado de estabelecimentos de conveniência.
Vão ser lojas em estilo de conveniência. A gente se inspirou na rede mexicana Oxxo no tamanho de loja, mas a gente vai ser um pouco mais. Vamos ter hortifrúti, açougue e padaria mantendo a qualidade do Cometa. Vai ser uma loja mais voltada para a parte de perecíveis do que para a parte de mercearia seca. É uma loja nossa que vai ter tudo, mas que vai ter mix e estacionamento mais enxuto. Vamos voltar para as origens de mercadinho.
Ainda conforme Roberto Rocha, o Cometa Express vai operar inicialmente em "modelo embrionário" com duas unidades no bairro Montese, em Fortaleza: uma na rua Barão de Sobral e outra na avenida Professor Gomes de Matos. A previsão é de que ambas já estejam em funcionamento no início de 2025, mas existe a expectativa de que pelo menos uma delas seja inaugurada neste ano.
"Vão ser duas lojas que a gente vai abrir no Montese, região que a gente acredita não ter grandes terrenos para fazer supermercados maiores. A gente vai começar com essas duas lojas, mas dando certo esse tipo de modelo, aí sim, a gente iria expandir para vários outros bairros", defende.
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Tipo de loja já existe no Ceará
A nova bandeira do Cometa não é novidade no mercado cearense. Concorrentes como o Super do Povo e o Grupo São Luiz já têm as próprias lojas de conveniência. O primeiro tem a Do Povo Mini Market, que deve abrir a segunda unidade ainda em 2024 no bairro Aldeota, enquanto o segundo tem o Mini Mercadinhos São Luiz, na Praia de Iracema, que funciona em caráter experimental.
"Essa conta de loja Express a gente vê muito forte em outros estados. É uma questão de investimento, de o cliente procurar a conveniência como um dos principais fatores de influência de compras, de a loja estar próxima da casa deles. É um teste, a gente queria muito chegar no Montese, apareceu a oportunidade dessas duas lojas. Fizemos essa modificação porque não quero que meu cliente que é um Cometa normal porque não vamos ter o mix normal", afirma Roberto Rocha.
Grandes empresas do varejo alimentício nacional também têm as próprias bandeiras de conveniência. O Grupo Carrefour Brasil, por exemplo, tem o Carrefour Express; o Grupo Mateus, o Armazzém Mateus; a Cencosud Brasil, dona do hipermercado G Barbosa, tem o Spid, enquanto o Grupo Pão de Açúcar tem o Minuto Pão de Açúcar.
De acordo com o ranking da Cielo com a Sociedade Brasileira de Varejo e Consumo (SBVC) de 2024 referente a 2023, o Cometa faturou, no ano passado, R$ 1,41 bilhão. A rede é seguida de perto por outras concorrentes, como os grupos donos do Mercadinhos São Luiz e do Frangolândia, que também tiveram faturamentos bilionários.
Personalização da cesta de compras do consumidor
O Oxxo faz parte da joint venture Grupo Nós, empresa criada entre a brasileira Raízen, distribuidora de combustíveis para a marca Shell, e a mexicana Femsa, dona do minimercado e maior engarrafadora de produtos Coca-Cola no mundo. A parceria administra ainda as lojas de conveniência Shell Select no País.
A lógica no território brasileiro dos minimercados da Oxxo vai ao encontro das mudanças na jornada de compras no varejo alimentício. Conforme o consultor de empresas e professor da Faculdade CDL, Christian Avesque, os cearenses em especial estão habituados a três caminhos no momento de fazerem as compras do dia a dia:
- Primeiro caminho: compras "no grosso". Abastecimento de itens de mercearia seca e limpeza, como arroz, feijão, farinha, óleo, sabão. Atacarejos são mais especializados pelo melhor custo-benefício entre preço e quantidade;
- Segundo caminho: abastecimento de itens de especialidade. Compra de produtos perecíveis, como carnes, frios, hortifrúti e pães, principalmente realizada aos fins de semana. Supermercados de proximidade/vizinhança são os destaques nessa modalidade;
- Terceiro caminho: conveniência. Abastecimento de itens de rápida reposição, como feitas em compras emergenciais ou fora do horário de trabalho, incluindo produtos como cigarros e bebidas geladas, geralmente atreladas no caminho do consumidor no trajeto casa-trabalho-casa. As lojas de conveniência e os mercadinhos de bairro são os que se sobressaem nesse segmento.
"Os médios e grandes grupos locais e nacionais estão trabalhando com o que a gente chama de verticalização do próprio negócio. (…) Esses minimercados estão se assemelhando a uma conveniência, contudo essa conveniência das bandeiras supermercadistas não vai focar somente nos itens tradicionais de posto. Vamos ter, por exemplo, uma padaria qualificada, self-service, pequeno mix de bebida qualificada por raio geográfico", aponta Avesque.
"Vamos ter também esses minimercados tendo possibilidade de consumo próprio em uma loja em anexo. Tem muito posto hoje que tem uma área com lounge, cafeteria mais qualificada, tudo isso em áreas aonde o mercado é um mercado urbano, industrializado, com alta densidade demográfica e um poder de renda um pouco ascendente, para que o consumidor aceite pagar esses níveis de preço", completa.
Ao contrário de supermercados tradicionais e atacarejos, mais distantes uns dos outros, o minimercado tem por característica a distância reduzida entre as lojas, de no máximo um raio "de 1,5 km, para que ele não tenha problemas de produtos parados e para que ele não tenha um problema de custo operacional um pouco mais alto".
"Outro detalhe fundamental é que tanto o supermercado de proximidade quanto os minimercados devem começar a seguir uma tendência norte-americana: de mais integração do online e do digital. As empresas supermercadistas têm que se ater agora à integração do online, da venda no aplicativo, com a entrega", acrescenta Avesque.
Atendendo o cliente mais perto com mais variedade
Para Antônio de Pádua, condutor de gestão e especialista em varejo, os minimercados cearenses estão de olho nos consumidores que "buscam mais conveniência nas compras cotidianas".
"Minimercados oferecem maior variedade de produtos, incluindo perecíveis, que atendem às necessidades diárias das famílias, permitindo que os consumidores façam compras rápidas e completas em um único lugar. Além disso, há uma busca por atender consumidores de bairro, que preferem proximidade e praticidade em relação aos grandes supermercados", avalia.
Em virtude disso, o investimento de grandes redes em mercadinhos no solo cearense se afasta das lojas de conveniência tradicionais associadas a postos de combustíveis. Segundo Antônio de Pádua, a prova disso é o investimento em produtos perecíveis, principalmente carnes e itens gelados.
"O público cearense valoriza perecíveis frescos e bebidas geladas, especialmente devido ao clima quente da região. O foco em perecíveis também ajuda a capturar consumidores que buscam conveniência para compras rápidas do dia a dia. Essa mudança reflete um desejo de agregar mais valor e expandir o tíquete médio por visita", diz.
É possível que o crescimento das lojas de conveniência caminhe ao lado da expansão dos atacarejos. Enquanto as conveniências atendem às necessidades imediatas e de pequenas compras, os atacarejos continuam oferecendo preços competitivos e produtos em grandes volumes. A consolidação dos atacarejos pode continuar em paralelo, atendendo a consumidores que buscam economia nas compras de grandes quantidades.
Geografia de Fortaleza é decisiva
Enquanto o Cometa decide começar com o formato de minimercado no Montese, bairro de classe média, Super do Povo e São Luiz inauguraram as lojas de conveniência essencialmente na área nobre da capital cearense.
Conforme analisa Christian Avesque, "esses minimercados vinculados a supermercados não devem ser tão explorados" em locais periféricos, que incluem bairros como Messejana, Mondubim e Barra do Ceará.
A tendência é consolidação do formato atacarejo, com abertura de lojas tanto de redes locais (Mega Atacadista e Atacadão Lag) quanto nacionais (Atacadão, Assaí e Mix Mateus).
Nos bairros de renda mais baixa, o que vai se espalhar são os atacarejos. Entendendo isso, eles pegaram carnes, frios, laticínios e bebidas e jogaram dentro da loja, para ser um grande centro de compras integrado. A ida a um atacarejo é quase como que ir a um shopping center. Já em bairros que têm nível de renda mais ascendente e o consumidor buscando conforto e conveniência.
"O grande sucesso dos grupos cearenses vai ser ter uma leitura correta do hábito de compra de cada área geográfica, identificar qual é a cesta de compra padrão, ter os compradores alinhados com o que está sendo vendido no ponto de venda para negociarem esse suprimento, tem um sistema de separação de mercadorias com rotas muito bem delimitadas para não haver ruptura e analisar se o tíquete médio desse comprador fica estável ao longo do ano", arremata.