Indústria de pescados do Ceará corre para exportar antes do tarifaço e teme perda de empregos
O setor emprega mais de 60 mil pessoas no Estado, considerando empregos diretos e indiretos
As indústrias de peixes costeiros e de lagosta do Ceará estão em uma corrida contra o tempo para embarcar seus pescados até o próximo domingo (20) para o porto de Nova Iorque, nos Estados Unidos (EUA), antes que o tarifaço de Trump entre em vigor.
Neste momento, diante da insegurança quanto à possível taxação de 50% imposta pelo governo estadunidense sobre os produtos brasileiros, esta é a última viagem antes do dia 1º de agosto, data em que a nova regra deve passar a valer, que ainda permite o envio desses produtos.
Isso porque, para chegar ao porto de Nova Iorque, são nove dias de viagem. Já para o porto de Miami, que também recebe esse tipo de carga cearense, o normal são 22 dias, o que ultrapassaria o período antes da implementação da nova taxa. Os produtos têm origem em toda a costa do Ceará.
Segundo o primeiro-secretário e responsável pelos assuntos de comércio do Sindicato das Indústrias de Frio e Pesca do Ceará (Sindfrio), Paulo Gonçalves, as empresas afetadas são de Fortaleza, Icapuí, Aracati, Acaraú e Camocim.
Ele relata que esses frigoríficos estão tentando agilizar o processo aduaneiro para poder enviar seus produtos nesta janela, antes do tarifaço.
"Então, quem conseguir colocar a carga nesse navio do dia 20 provavelmente conseguirá chegar em Nova Iorque a tempo. Mas, por exemplo, se você colocar no navio do dia 20 e a carga for para outro porto, como Miami, serão 22 dias de trânsito. Assim, essa carga já chegará taxada. Portanto, é melhor não embarcar no navio e evitar a despesa de frete, sabendo que a carga não chegará a tempo de não ser taxada", enfatiza.
Veja também
Gonçalves ainda comenta que, agora, mesmo estando no porto, não é possível afirmar quem conseguirá embarcar para Nova Iorque, pois são necessárias liberações da Receita Federal, do Ibama e do Ministério da Agricultura, entre outros órgãos.
"Tudo isso são processos. A gente não pode garantir que, ao colocar a carga no porto hoje, conseguirá embarcar neste navio de domingo. Todo mundo tentou chegar até hoje (17) ao porto. Mas ninguém sabe o que vai acontecer e se vão trabalhar na semana que vem", completa.
Setor emprega mais de 60 mil pessoas
Ao todo, no Ceará, são cerca de 2 mil embarcações utilizadas para a pesca desses produtos, não só para exportação, mas também para abastecer o mercado local, conforme o Sindfrio. A média, por barco, é de seis tripulantes.
Estes trabalhadores, que somariam cerca de 12 mil pessoas, estariam apreensivos, caso o volume de exportação caia por conta da medida anunciada por Trump.
"Estamos falando dos empregos diretos na pesca, mas, na indústria, o cálculo é que, para cada trabalhador do mar, tenhamos cinco em terra, no beneficiamento. Então, seriam mais 60 mil pessoas que dependem desse mercado e ninguém sabe o que está para acontecer na semana que vem", diz Gonçalves.
Mercadoria é exportada apenas para os EUA
Ainda conforme representante do setor, os peixes costeiros e as lagostas cearenses são exportadas apenas para os Estados Unidos, por conta de certificações sanitárias que não são aceitas pela União Europeia desde 2018.
Atualmente, por mês, o fluxo de exportação destes produtos é de cerca de 25 contêineres de peixes costeiros e oito de lagostas. Cada contêiner carrega, em média, 18 toneladas de produto congelado.
Gonçalves também comenta que o Brasil já exportou filé de peixe para o mercado americano, mas que o produto brasileiro foi substituído por filés vindos da Índia e da Indonésia. "É o mesmo peixe? Não, não é o mesmo peixe, mas é um peixe semelhante e aceito pelo mercado de lá".
São esses dois países, Índia e Indonésia, que, conforme o especialista, abastecem grande parte do mercado asiático. Com isso, seria muito mais difícil para o Brasil entrar com seus produtos que não iriam para os Estados Unidos em outras regiões do mundo.
Estado pode comprar mercadoria para estancar prejuízo
Em visita ao Diário do Nordeste, nessa quinta-feira (17), o secretário do Desenvolvimento Econômico (SDE) do Ceará, Domingos Filho, afirmou que o Governo do Estado está esperando dados concretos dos setores para tomar decisões. Uma delas seria a compra de parte de produções de perecíveis, como o pescado e a castanha de caju.
"O governador, para garantir a produção do Ceará, tomará uma decisão se isso (a taxação de 50%) persistir, para ajudar aquele que produz", afirmou.
Segundo o Sindfrio, o setor está fazendo um levantamento para saber o que de mercadoria está no Porto do Pecém. Dessa, será separado aquilo que vai conseguir ser carregado para os Estados Unidos e o que vai ficar aqui esperando a decisão do tarifaço. Há também o levantamento do produto que está em processo de beneficiamento, mas que ficará disponível após o dia 1º de agosto.
A medida foi tomada após o governador Elmano de Freitas sinalizar a possibilidade de comprar parte dessa mercadoria para conter o prejuízo, emergencialmente. "Estamos fazendo isso para poder passar ao governador, porque ele assumiu o compromisso de tentar nos auxiliar no que for possível", destaca.
Gonçalves explica que, a partir desta estimativa que está sendo feita, se terá um valor do produto para passar ao Governo do Estado. "Assim, vamos saber quanto o estado vai poder absorver", finaliza.