Setor calçadista do Ceará controla investimentos, monitora riscos e renegocia preços no exterior
Entre janeiro e novembro, o setor cearense somou US$ 172,2 milhões em exportações.
O tarifaço imposto pelos Estados Unidos afetou o setor calçadista no Brasil, mas o Ceará ainda consegue manter certo equilíbrio. Um dos motivos é que o segmento cearense adotou medidas para reduzir os impactos, como controle de investimentos, monitoramento de riscos e renegociação de preços e prazos com importadores.
A informação é da presidente do Conselho de Relações Internacionais da Federação das Indústrias do Estado (Fiec), Karina Frota.
Segundo a Abicalçados, o setor brasileiro perdeu 1,65 mil postos de trabalho apenas em outubro. Diferentemente do cenário nacional, segundo ela, esse recuo ainda não chegou ao Ceará.
“A maioria das empresas está controlando investimentos, monitorando riscos e renegociando preços e prazos com importadores”, afirma.
Entre janeiro e novembro, o setor cearense somou US$ 172,2 milhões em exportações, uma queda de 4,9% em relação a 2024, quando registrou U$ 181 milhões.
No entando, o estado apresentou desempenho misto em mercados-chave, como Estados Unidos (US$ 31,5 mi) e Colômbia (US$ 17,3 mi), onde houve avanço de 0,64% e 1,76%, respectivamente.
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O economista João Mário de França, da FGV, explica que o Ceará conseguiu uma “compensação” em novembro. Para ele, o tarifaço deixa uma lição importante. "O setor precisa evitar depender de poucos mercados. O choque tarifário evidencia o risco dessa concentração", observa.
Cenário no Brasil
Para se ter ideia, o Rio Grande do Sul, maior exportador de calçados para os EUA, foi o estado mais atingido. Nos últimos três meses de vigência da tarifa, perdeu 1,83 mil postos de trabalho, encerrando outubro com 80,63 mil vagas, retração de 4,8% em 12 meses.
Para Priscila Linck, economista e coordenadora de Inteligência de Mercado da Abicalçados, a perspectiva é negativa. “Permanecendo o tarifaço, perderemos mais de 8 mil empregos diretos no setor ao longo de 2026”, projeta.
Ela afirma que as empresas brasileiras têm reduzido margens para manter parte das relações comerciais com os EUA, mas a estratégia é insustentável no médio prazo. “Os efeitos da tarifa adicional têm se intensificado”, diz.
Em novembro, as exportações brasileiras de calçados recuaram 17,7%, com queda próxima de 50% apenas para os Estados Unidos. O mês fechou com 6,92 milhões de pares exportados, gerando US$ 65,82 milhões, recuos de 17,7% em volume e 13,3% em receita.
De janeiro a novembro, houve crescimento de 5,1% em volume, mas queda de 2% em valor. A projeção para 2026, caso a tarifa continue, é pessimista – queda de 9,8% a 16,3% nas exportações — o menor nível desde 1997. Num cenário sem tarifa, o setor poderia crescer até 4,4%.