México copia EUA e castiga o Brasil com altas tarifas
Governo mexicano impôs tarifas de importação que variam de 20% a 50%, atingindo em cheio as exportações brasileiras
Brasil está em apuros! Primeiro foi a queda imposta por Donald Trump; agora é o coice do governo do México, que anunciou, também, o aumento de suas tarifas de importação, reacendendo o debate sobre competitividade e política comercial nas Américas. A medida, que eleva impostos de 20% a 50% para países sem acordo de livre-comércio com o México, atinge em cheio o Brasil e lança dúvidas sobre o futuro do comércio bilateral entre as duas maiores economias latino-americanas.
A justificativa do governo mexicano é proteger a indústria doméstica da concorrência de produtos mais baratos, especialmente os asiáticos. Mas, para analistas, há um componente geopolítico evidente: a reaproximação do México aos Estados Unidos em meio à disputa por controle das cadeias produtivas da América do Norte.
“O México está calibrando sua política comercial para se manter alinhado ao USMCA (acordo comercial EUA, México e Canadá) e preservar seu papel estratégico junto aos EUA”, avalia André Charone, professor universitário e mestre em negócios internacionais.
As novas tarifas atingem setores que sustentam parte importante das exportações industriais brasileiras ao México: automóveis, autopeças, máquinas, equipamentos e produtos químicos. Somados, esses segmentos representam bilhões de dólares em vendas anuais.
“É um impacto direto sobre a indústria brasileira, especialmente nos bens de maior valor agregado. O produto brasileiro chega mais caro e perde competitividade num mercado altamente disputado”, afirma Charone, mestre em Negócios Internacionais pela Must University , da Flórida (EUA). Segundo ele, além de pressionar margens e reduzir a atratividade do mercado mexicano, as tarifas podem provocar redirecionamento de rotas comerciais.
O movimento pega o Brasil no momento em que diversas empresas vinham utilizando o México como plataforma de integração produtiva. O México, com sua proximidade dos EUA, funciona como um dos principais hubs industriais do continente.
“Agora, esse arranjo pode tornar-se mais caro e menos previsível”, diz ele.
Para Charone, a mudança tende a desencadear revisões de contratos e até de investimentos, uma vez que “algumas companhias brasileiras que usavam o México como porta de entrada para o mercado norte-americano terão de recalcular custos. Em certos casos, pode tornar-se inviável continuar exportando sem repensar o modelo de operação”, explica.
Essa novidade expõe um ponto sensível da política comercial brasileira: a baixa integração em acordos internacionais. Enquanto o México é um dos países mais ativos do mundo em tratados de livre-comércio, o Brasil mantém uma presença limitada, dependente das negociações do Mercosul.
“Quando você não tem acordos preferenciais, fica vulnerável a movimentos unilaterais como esse. A tarifa vira, na prática, um custo adicional de isolamento”, diz Charone, na opinião de quem o caso mexicano deve servir de alerta estratégico:
“O mundo está se reorganizando em blocos e cadeias regionais. Estar fora desses arranjos significa perder competitividade”.
No curto prazo, o governo brasileiro pode buscar flexibilizações junto ao México para setores específicos. Consultas técnicas, apresentação de dados de impacto e pedidos de tratamento diferenciado são caminhos possíveis. Mas a solução estrutural vai além. Charone aconselha:
“O Brasil precisa acelerar sua agenda de integração comercial. O caso mexicano mostra que, sem acordos, a indústria brasileira corre o risco de competir em desvantagem sistemática”, afirma ele.
Charone diz mais, finalizando:
“O aumento tarifário mexicano não é um gesto isolado. Ele reflete tensões maiores, da reorganização da indústria norte-americana às disputas comerciais com a Ásia. Para o Brasil, é um teste de agilidade e de visão estratégica. O recado é claro: ou o Brasil participa ativamente da reconfiguração do comércio global, ou será empurrado para uma posição periférica”.
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