Ceará tem apenas 28 mil domésticas com carteira assinada; rendimento caiu em 12 anos

Variação dos rendimentos contraria movimento nacional de crescimento.

Escrito por
Redação producaodiario@svm.com.br
Imagem de trabalhadora doméstica em Fortaleza.
Legenda: Trabalho doméstico no Ceará teve queda na remuneração, aponta levantamento do IBGE.
Foto: Fabiane de Paula.

As trabalhadoras domésticas do Ceará estão ganhando menos pelo seu trabalho, contrariando a tendência nacional de valorização dos rendimentos. A situação é exposta em dados da Síntese de Indicadores Sociais do IBGE.

O rendimento dos trabalhadores domésticos com carteira assinada do Ceará caiu 1,8% de 2012 a 2024. O valor passou de R$ 1.463 para R$ 1.437.

No mesmo período, os ganhos de quem trabalha sem carteira assinada caíram 2,4%. O rendimento foi de R$ 695 para R$ 678. 

Ou seja, o salário contabilizado das trabalhadoras informais, chamadas de diaristas, é menos da metade do que o de carteira assinada. Segundo o IBGE, no caso do trabalhador sem carteira assinada é considerado o ganho de apenas um endereço.

O valor de R$ 678, então, é referente a uma casa onde é realizada a diária. Na prática, o ganho mensal é maior, já que as trabalhadoras atuam em mais de uma residência. 

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DEFASAGEM DO CEARÁ EM RELAÇÃO AO BRASIL AUMENTOU

Os rendimentos dos trabalhadores domésticos com e sem carteira assinada aumentaram cerca de 18% no mesmo período de doze anos no Brasil.

A média brasileira para o salário das domésticas celetistas é de R$ 1.776. Já as domésticas informais recebem em média R$ 1.065. Com isso, a disparidade entre o rendimento cearense e o nacional aumentou

Considerando os empregos de carteira assinada, a defasagem do Ceará em relação ao Brasil passou de 2,79% para 19%. Já nos cargos informais, sem carteira, a diferença aumentou de 22% para 36%.

Margarida Domingos do Nascimento, de 41 anos, trabalha como doméstica há mais de 20 anos em Fortaleza e sente no orçamento os impactos da baixa remuneração.

“O pagamento não é razoável, com certeza. E isso com certeza prejudica o meu dia a dia”, lamenta. 

Margarida trabalha como diarista, recebendo cerca de R$ 180 por faxina, e passou a aceitar novas diárias para complementar a renda. Além disso, é folguista de uma babá aos fins de semana.

“O valor de trabalhar como doméstica, trabalhando de carteira assinada, não vale a pena. A pessoa só assina com um salário mínimo. Nunca vi uma doméstica ganhar mais do que um salário. Então, com a diária, eu saio ganhando mais”, afirma. 

ALTO NÍVEL DE INFORMALIDADE

As diaristas representam mais de 88% das trabalhadoras domésticas do Ceará. O Estado tem 211 mil domésticas informais e apenas 28 mil domésticas com carteira assinada. 

Eliane da Silva Matos, de 38 anos, trabalhou como doméstica por cinco anos e migrou para a atuação como diarista em 2021. A decisão foi tomada pelo desejo de aumentar seus rendimentos.

“Eu acho muito melhor do que com carteira assinada. Faço muito mais. É mais cansativo, mas o ganho é melhor, eu ganho mais do que antes”, explica.

A diarista trabalha de segunda a sexta-feira e admite sentir falta de alguns direitos garantidos para os celetistas. “Eu pago o INSS. Só sinto falta das férias, mas se organizando direitinho dá para tirar uns dias”, conta. 

O aumento expressivo da informalidade no mercado de trabalho doméstico ocorreu após a PEC das Domésticas, que ampliou os direitos e encargos para a classe, aponta Vitor Hugo Miro, professor da Universidade Federal do Ceará (UFC). 

“A saída encontrada em mercados de trabalho menos dinâmicos como o cearense foi a substituição de trabalhadores mensalistas por diaristas, em situação de informalidade, e redução de horas contratadas, como forma de não incorrer em aumentos de salários”, explica.

O especialista ressalta que o mercado de trabalho cearense tem os menores salários médios de todos os segmentos, afetando especialmente os cargos de baixa qualificação, como os trabalhadores domésticos. 

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