Fusões, IA e expansões: quais os planos do varejo alimentar cearense até 2030?
Planejamento para os próximos anos inclui agressividade "capitalista" no mercado e uso mais intenso de ferramentas tecnológicas

Para o varejo alimentar, o futuro é ontem. É preciso correr para se antecipar a um consumidor com demandas cada vez mais imediatas por consumo. Essa é a análise feita por especialistas ouvidos pelo Diário do Nordeste que prospectam os próximos anos do segmento varejista, frequentemente líder dos mais diversos rankings especializados.
As avaliações foram feitas durante o evento Cenários do Varejo 2025, realizado nesta sexta-feira (16), no Shopping RioMar Fortaleza. Em pauta, o varejo alimentar, representando por gigantes nacionais e multinacionais como Atacadão, Assaí e Mateus, mas também por empresas como São Luiz e CenterBox.
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Outra análise importante diz respeito ao uso de ferramentas de inteligência artificial (IA), cada vez mais presentes no nosso dia a dia, até mesmo em situações que podem passar despercebidas, como as conversas automáticas de aplicativos de mensagens nos celulares.
A tendência é de que, até 2030, o cenário do varejo alimentar do Estado, na totalidade, esteja ainda mais robusto, consolidando marcas presentes no cotidiano das pessoas e se colocando com agressividade frente aos players nacionais. O desafio, no entanto, fica na conta do desenvolvimento mais intensivo das plataformas de IA.
São Luiz: aumento do faturamento e atenção aos concorrentes
O Grupo São Luiz passou neste ano a figurar como a maior empresa do setor de varejo alimentar cearense, conforme dados de 2024, do ranking da Associação Brasileira de Supermercados (Abras).
O faturamento, no ano passado, foi de R$ 1,62 bilhão, alta de mais de 20% na relação com 2023. Esse crescimento expressivo é celebrado por Severino Ramalho Neto, sócio-conselheiro do Grupo São Luiz, que reflete que o grupo superou as expectativas nos últimos anos.
"(O plano) era duplicar o faturamento em três anos. Estamos quase triplicando o faturamento em cinco (anos). A bandeira Mercadão tem um papel fundamental nesse processo, apesar da bandeira Mercadinho continuar no processo de expansão. Em um ritmo, porém, mais lento do que do Mercadão, que tem mais praças a ser atingidas", avalia.
A companhia é dona das bandeiras Mercadão, Mercadinhos e Mini, e continua em franco processo de expansão, sobretudo com a Mercadão, como frisado por Ramalho Neto. Esse é o foco de inaugurações da empresa para este ano. A entrada no segmento de descontos, como um híbrido entre atacarejo e supermercado, é reflexo da análise constante do grupo, segundo o sócio-conselheiro.
"O Ceará sempre teve uma particularidade com seus varejistas locais e com seus clientes. Houve sempre um bom entrosamento, talvez por conhecimento desse próprio cliente, e sempre foi uma referência nacional nesse sentido. Supermercados do Ceará são conhecidos nacionalmente. Ainda tem players nacionais fortes como Mateus, Assaí, e Atacadão. Eles são muito fortes, mas estamos dentro do mercado, competindo. Tem muita gente boa, tanto regional quanto nacional", considera.
Ramalho Neto avalia fusões e espera ser "o comprador" da concorrência
O setor de supermercados, na visão do sócio-conselheiro do Grupo São Luiz, é "altamente disputado e muito volátil", e essa última característica é a única constante que deve continuar permeando o dia a dia de futuros investimentos.
Para Ramalho Neto, "isso acende a luz amarela o tempo todo, para olhar para o seu negócio, fazer o dever de casa". Nos próximos cinco anos, ele enxerga o setor como "muito capitalista".
Isso inclui fusões e aquisições de antigos concorrentes. Casos notórios, como a compra do Hiper Bompreço pelo BIG e, posteriormente, pelo Grupo Carrefour Brasil. Mais recentemente, foi a vez do maranhense Grupo Mateus adquirir 51% de participação no pernambucano Novo Atacarejo.
A ideia até 2030 é de que o País consiga baixar a taxa básica de juros, a Selic, atualmente fixada em expressivos 14,75%, para que os varejistas cearenses e nacionais mexam no tabuleiro em busca de voos ainda mais altos. Ramalho Neto pretende estar presente nessa fatia, e não descarta movimentos como esses.
(Esperamos) sair desse patamar de juros absurdo em que estamos vivendo, vir mais para uma realidade de mercado, acho que é um processo natural. (As fusões devem acontecer) de uma maneira geral, nacional. Agora, quem compra e quem vende é outra história. Espero ser o comprador.
Inteligência artificial já é realidade no varejo alimentar
Bot do WhatsApp, ChatGPT, imagens, áudios e vídeos criados sem interferência humana. Essas ferramentas de IA já estão mais do que presentes no nosso cotidiano e viraram parte do trabalho de grandes varejistas nacionais.
Essa é a consideração feita por Assis Júnior, diretor comercial das Óticas Visão e professor de MBA da Faculdade CDL. A argumentação do especialista é de que "a IA veio agilizar o tempo", e por isso que os mecanismos criados já se tornaram indispensável na comunicação com os clientes e na rotina profissional e organizacional das empresas.
"Os bots para atendimento ao cliente, através do WhatsApp e das mídias sociais. Eles estão muito em pauta para isso. O ChatGPT nos ajuda a criar script de vendas. As IAs que projetam vídeos, áudios e imagens estão nos ajudando muito".
Flávio Fiorito, diretor nacional de vendas da Hoya Vision Care, expõe que não é preciso começar grande para entrar no mundo da inteligência artificial. Para se comunicar com um cliente sobre uma promoção de carnes, por exemplo, pode ser interessante comunicá-lo por meio de uma mensagem direto no WhatsApp.
A gente muitas vezes imagina que precisa começar grande para entrar nesse mundo de IA. Muitas vezes, não. Tem ferramentas extremamente simples com que se consegue atender demandas e mostrar para o consumidor os diferenciais, principalmente para a experiência do consumidor. Aquelas mensagens automáticas já se pode considerar um começo de IA.
A palavra do momento para o varejo alimentar é o omnichannel, que pode ser traduzido como uma plataforma multicanais. É estar com o cliente para além do carrinho ou da cesta de compras do supermercado, como explana Assis Júnior.
"A nossa operação, por estar em vários canais, faz com o cliente fique muito desejoso de ser atendido o mais rápido possível, de ter suas necessidades atendidas em um período curto de tempo. A IA consegue otimizar nosso tempo, nos capacitar e ofertar produtos mais assertivos para os clientes. Se tiver histórico de consumo e o mínimo de conhecimento do consumidor, conseguimos fazer por IA", destaca.
Flávio Fiorito acredita que é preciso "oferecer cada vez mais soluções para esse nosso consumidor extremamente exigente", enquanto Assis Júnior acredita que o desafio está nas mãos da necessidade de investimento das empresas para não deixar minguar o desenvolvimento de ferramentas mais avançadas de IA para o varejo.
"(Até 2030) a gente não vai estar tão desenvolvido como imaginávamos. Os investimentos da grande maioria dos empresários ainda são muito baixos. São usadas operações gratuitas e de teste para isso. Se tivesse a condição do empresariado fazer investimentos mais pesados, seria ideal", dispara.
"Precisamos trabalhar a cultura da IA. Temos que ter essa virada na cabeça do empresariado de que não se trata mais só sobre vender, mas sim fazer a experiência de compra na vida do cliente ser positiva com a utilização da tecnologia. Teremos um avanço com isso", arremata Assis Júnior.