Radicalismo da política cria sandálias de direita e de esquerda
Na campanha eleitoral de 2026, que começou fora do prazo, tudo parece permitido.
Este país está polarizado até no modo de calçar sandálias, uma coisa que, até agora, fazia parte do ritual mais simples da vida do mais simples brasileiro. Temos, agora, uma sandália de esquerda e uma sandália de direita. Igualzinho ao que acontece com a corrupção, que, nos tempos atuais, passou a ser, também, de direita e de esquerda, mas com o único objetivo: apropriar-se do dinheiro público, dinheiro que vem do imposto recolhido pelo contribuinte.
Pois bem. A atriz Fernanda Torres, que já era famosa e ficou ainda mais famosa ao concorrer ao último Oscar de melhor atriz, gravou um comercial para as sandálias Havaianas, fabricadas pela Alpargatas. Ela começa dizendo que o brasileiro não deve entrar no Ano Novo com o pé direito, mas com os dois pés na porta e onde ele quiser.
Em menos de 12 horas, a turma da direita pintou-se para a guerra, e declarou que o comercial de Fernanda Torres foi um tiro no pé, sugerindo uma campanha nacional de boicote às havaianas, sem indicar, porém, outra sandália como opção ideológica.
Esta coluna imaginou: por que não a Melissa, fabricada no Ceará pela Grendene, concorrente da Alpargatas, e exportada também para os EUA e Europa, como a Havaianas Aí surgiu a dúvida: seriam os irmãos Pedro e Alexandre Grendene, donos das sete unidades de produção de sua empresa em Sobral, empresários de direita? Não há resposta para esta pergunta, pois os Grendene sempre pareceram mais dedicados ao esporte de ganhar dinheiro do que o de provocar divergência de ordem política.
As eleições de 2026 aproximam-se e trazem com elas atos e fatos como este, inusitado, mas integrado ao novo cenário da política nacional. Este país deveria ser estudado pelos cientistas da Nasa.
Houve um tempo em que todos desejavam entrar no Ano Novo com o pé direito. Era uma coisa da superstição. Agora, pelo visto, não é mais. Talvez nem Freud explique.
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