Dividido, o Brasil tem agora a corrupção de direita e a de esquerda

Incentivados pela impunidade, políticos e pessoas influentes nos três poderes escandalizam os brasileiros, que são culpados pelo que se passa

Escrito por
Egídio Serpa egidio.serpa@svm.com.br
(Atualizado às 05:54)
Legenda: Agentes da Polícia Federal cumprem mandado de busca e apreensão. Cena que se tornou comum na vida brasileira
Foto: PF / Divulgação
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Com todo o respeito que merece quem pensa diferentemente, mas grande parte da culpa pelo que acontece no Brasil de hoje é de nós mesmos, eleitores. E o que se passa? Faz muito tempo que passa no país um filme horroroso, de enredo imoral, de roteiro pornográfico e de final decepcionante e vergonhoso: o mocinho do filme é o bandido, que sai impune de todas as cenas da lamentável película, apesar de todos os esforços dos agentes da Lei, que ao fim se veem ultrajados e ridicularizados por quem deveria praticar a Justiça neste país de tantas tragédias morais.  

O que temos visto ao vivo e em cores é, primeiro, a perpetuação da corrupção; depois, a eternização da impunidade, pois os corruptos ganham a liberdade. Que futuro pode ter uma nação assim, cuja sociedade perdeu a disposição de sair às ruas para protestar contra o status quo? 

Nos últimos meses, o filme da corrupção brasileira – acreditem – foi, também, incrivelmente dividido em duas partes: uma que registra a ação dos corruptos da direita – e ontem eles apareceram de novo em cenas filmadas pela Polícia Federal – e outra que se dedica aos corruptos da esquerda, que continuam encrencados, agora mais gravemente, no escândalo do INSS.  

Por partes: os policiais federais cumpriram ontem, sexta-feira, 19, dois mandados de busca e apreensão em endereços de dois deputados da direita, flagrados desviando dinheiro da cota parlamentar (para alimentação, aluguel de carro e compra de passagens aéreas). Na casa de um deles, os federais encontraram, guardados em uma sacola de plástico, R$ 400 mil em espécie, em notas de R$ 50 e R$ 100.  

No mundo digital de hoje, quem é honesto guarda seu dinheiro em banco, numa conta corrente, na caderneta de poupança ou em aplicações em fundos de investimento. E controla tudo pelo clique de um telefone celular. O desonesto faz o que fez o deputado federal líder da bancada do seu partido (de direita) na Câmara dos Deputados: junta e armazena sob seu teto doméstico o dinheiro da corrupção.  

Procurada pela mídia, a dupla de parlamentares (de direita) negou qualquer irregularidade. Mesmo com as provas expostas pela Polícia Federal. Nenhum dos dois foi preso, ainda. Quem determina a prisão ou a liberdade de um cidadão, seja ele mandatário ou não, é a Justiça.  

Entremos, agora, no caso da corrupção de esquerda. Quinta-feira, 17, a Polícia Federal fez busca e apreensão em endereços do vice-líder do governo no Senado e do secretário Executivo do Ministério da Previdência. Ambos estão implicados no tenebroso caso do INSS. Acompanhem: 

De 2016 a 2024, uma quadrilha da qual fazia parte a cúpula do INSS apropriou-se, de maneira fraudulenta, como apurou e provou a Polícia Federal, de mais de R$ 6,5 bilhões, dinheiro subtraído das contas dos velhinhos e velhinhas aposentados e pensionistas do Instituto Nacional de Seguridade Social.  

Em abril deste ano, o escândalo foi revelado, com a informação de que a fraude era praticada por altos executivos do INSS em conluio com presidentes de Sindicatos e Associações Beneficentes com estreita ligação com partidos de esquerda. E mais: pessoas influentes, de alto prestígio no Palácio do Planalto, estavam envolvidas, razão pela qual foi criada e instalada no Congresso Nacional uma CPI mista que tentou, sem êxito, convocar para depor aquelas pessoas de prestígio. A tropa de choque do governo no Parlamento impediu a convocação. 

Há 48 horas, porém, surgiu a informação de que novas pessoas, ainda mais influentes do que as primeiras, têm ligação direta e indireta com a fraude do INSS.  

O Palácio do Planalto, pela voz do próprio presidente da República, disse por meio de uma cadeia de tevê, que, seja quem for, terá de prestar contas com a justiça. Se isto acontecer mesmo, será uma novidade.  

Os personagens envolvidos e condenados nos escândalos do Mensalão e do Petrolão, que desviaram da Petrobras e da Transpetro para bolsos particulares várias vezes mais do que o desviado do INSS, estão livres, descondenados, soltos, lépidos, fagueiros e sorridentes. 

Como sempre existe uma réstea de esperança, o brasileiro confia, mas não muito, em que a Justiça, pelo menos nestes casos atuais, fará jus ao seu nome, julgando de olhos fechados e somente de acordo com os autos e as Leis, sem importar-se com a identidade política e familiar dos acusados, e decidindo republicanamente. Afinal, o Judiciário é um dos poderes desta República.  

Sonhar faz bem. Então, sonhemos. Um dia dará certo. Um dia aprenderemos a escolher melhor nossos representantes, pois a maioria dos que estão aí nos decepciona e nos envergonha. Em menos de um ano haverá eleições, e aí tudo (ou nada) poderá ser mudado.  

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