Ferrovias, rodovias e porto: o que falta para destravar a logística no Ceará?

Estado ainda enfrenta gargalos estruturais.

Escrito por
Lucas Monteiro lucas.morais@svm.com.br
Imagem mostra trem nos trilhos.
Legenda: O conceito baseia-se em aproveitar a vocação de cada modal.
Foto: Digulvação / Ministério dos Transportes.

A intermodalidade é apontada por especialistas como uma estratégia fundamental para reduzir custos, ampliar a competitividade e tornar o transporte de cargas mais sustentável.

No Ceará, contudo, a consolidação desse modelo ainda esbarra em gargalos estruturais, como o avanço lento da Ferrovia Transnordestina e a falta de obras viárias estratégicas, a exemplo do Anel Viário e do Arco Metropolitano, chaves para o escoamento de mercadorias.

O conceito de intermodalidade baseia-se em aproveitar a vocação de cada modal: rodovias para trechos curtos e ágeis, ferrovias para grandes volumes a longas distâncias, hidrovias para cargas de baixo custo e portos como hubs estratégicos de distribuição.

Parte de uma ferrovia.
Legenda: No começo do ano, o Governo Federal apresentou um Plano Nacional de Ferrovias, com investimentos de mais de R$ 100 bilhões.
Foto: Beth Santos / Secretaria Geral da Presidência.

Mas o País, como um todo, ainda patina para ampliar esse modelo. A ausência de investimentos consistentes nas infraestruturas de integração mantém o sistema dependente quase exclusivamente das rodovias, encarecendo produtos e limitando o potencial produtivo de diversas regiões.

Conforme especialistas, para avançar na intermodalidade, o Ceará precisa acelerar a integração entre ferrovia, rodovias e portos, com investimentos coordenados em infraestrutura viária e terminais logísticos, reduzindo a dependência do transporte rodoviário.

Nesse contexto, o Porto do Pecém é estratégico para a logística regional, cujo potencial depende dessa integração para garantir escoamento rápido e custos menores. 

O que falta para o Ceará avançar?

O diretor Comercial e de Terminais da Transnordestina Logística (TSLA), Alex Trevisan, afirma que o modal ferroviário só se torna plenamente eficiente quando conectado às rodovias.

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“Uma ferrovia não existe sozinha, ela precisa do modal rodoviário”, aponta. Segundo a Confederação Nacional do Transporte (CNT), 65% de toda a carga transportada no país depende das estradas, o que reforça a centralidade desse modal para viabilizar a intermodalidade.

Com base nesse cenário, a TSLA tem investido na criação de terminais ao longo da ferrovia para assegurar o fluxo integrado das cargas. Entre eles está o Terminal Intermodal do Piauí, às margens da BR-020, voltado principalmente ao manejo de minérios. 

Trevisan ressalta ainda o papel estratégico da ferrovia na dinamização econômica do Porto do Pecém, no Ceará.

Para Fernanda Rezende, diretora de Relações Institucionais da CNT, a intermodalidade só crescerá quando cada modal puder cumprir a função para a qual é mais competitivo. 

“O caminhão deve fazer aquilo que ele é vocacionado a fazer”, afirma. A diretora ressalta que não basta o Brasil ter protagonismo no agronegócio se esse volume de produção depende quase exclusivamente das rodovias.

No entanto, as rodovias, base essencial para alimentar outros modos, seguem como o principal gargalo. “Isso acarreta mais custos e produtos mais caros”, afirma Fernanda.

Marcelo Maranhão, presidente do Setcarce, acrescenta que o "produtor tem feito verdadeiros milagres e que não adianta investir nos portos sem o mesmo nível de investimento para levar a produção até eles", o que, segundo ele, impacta diretamente o agronegócio e a indústria do Ceará.

Rodovia pavimentada.
Legenda: Apenas 12% da malha viária brasileira — de um total superior a 1,7 milhão de quilômetros — é pavimentada.
Foto: Beth Santos / Secretaria Geral da Presidência.

Intermodalidade também reduz emissões

Além de benefícios operacionais, a intermodalidade é vista como peça-chave para reduzir emissões de gases de efeito estufa no transporte.

O modal rodoviário responde hoje por 98% das emissões do setor, segundo a Confederação Nacional do Transporte (CNT). “A intermodalidade é essencial para reduzir a emissão de carbono. Eficiência operacional é parte da mudança”, afirma Fernanda.

Trevisan reforça que a ferrovia se destaca pela menor emissão. “Uma ferrovia emite menos gás carbônico que qualquer outro modal e evita desperdícios, com economia de combustível”, diz.

A discussão também inclui medidas para modernizar o transporte rodoviário. Lilian Campos, da Infra SA, cita programas federais que bonificam empresas que renovam suas frotas pesadas e os avanços recentes em investimentos rodoviários. 

Entre eles está o Programa Melhorar, lançado neste ano, com foco na redução de emissões e no estímulo à eficiência energética.

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