Ferrovias, rodovias e porto: o que falta para destravar a logística no Ceará?
Estado ainda enfrenta gargalos estruturais.
A intermodalidade é apontada por especialistas como uma estratégia fundamental para reduzir custos, ampliar a competitividade e tornar o transporte de cargas mais sustentável.
No Ceará, contudo, a consolidação desse modelo ainda esbarra em gargalos estruturais, como o avanço lento da Ferrovia Transnordestina e a falta de obras viárias estratégicas, a exemplo do Anel Viário e do Arco Metropolitano, chaves para o escoamento de mercadorias.
O conceito de intermodalidade baseia-se em aproveitar a vocação de cada modal: rodovias para trechos curtos e ágeis, ferrovias para grandes volumes a longas distâncias, hidrovias para cargas de baixo custo e portos como hubs estratégicos de distribuição.
Mas o País, como um todo, ainda patina para ampliar esse modelo. A ausência de investimentos consistentes nas infraestruturas de integração mantém o sistema dependente quase exclusivamente das rodovias, encarecendo produtos e limitando o potencial produtivo de diversas regiões.
Conforme especialistas, para avançar na intermodalidade, o Ceará precisa acelerar a integração entre ferrovia, rodovias e portos, com investimentos coordenados em infraestrutura viária e terminais logísticos, reduzindo a dependência do transporte rodoviário.
Nesse contexto, o Porto do Pecém é estratégico para a logística regional, cujo potencial depende dessa integração para garantir escoamento rápido e custos menores.
O que falta para o Ceará avançar?
O diretor Comercial e de Terminais da Transnordestina Logística (TSLA), Alex Trevisan, afirma que o modal ferroviário só se torna plenamente eficiente quando conectado às rodovias.
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“Uma ferrovia não existe sozinha, ela precisa do modal rodoviário”, aponta. Segundo a Confederação Nacional do Transporte (CNT), 65% de toda a carga transportada no país depende das estradas, o que reforça a centralidade desse modal para viabilizar a intermodalidade.
Com base nesse cenário, a TSLA tem investido na criação de terminais ao longo da ferrovia para assegurar o fluxo integrado das cargas. Entre eles está o Terminal Intermodal do Piauí, às margens da BR-020, voltado principalmente ao manejo de minérios.
Trevisan ressalta ainda o papel estratégico da ferrovia na dinamização econômica do Porto do Pecém, no Ceará.
Para Fernanda Rezende, diretora de Relações Institucionais da CNT, a intermodalidade só crescerá quando cada modal puder cumprir a função para a qual é mais competitivo.
“O caminhão deve fazer aquilo que ele é vocacionado a fazer”, afirma. A diretora ressalta que não basta o Brasil ter protagonismo no agronegócio se esse volume de produção depende quase exclusivamente das rodovias.
No entanto, as rodovias, base essencial para alimentar outros modos, seguem como o principal gargalo. “Isso acarreta mais custos e produtos mais caros”, afirma Fernanda.
Marcelo Maranhão, presidente do Setcarce, acrescenta que o "produtor tem feito verdadeiros milagres e que não adianta investir nos portos sem o mesmo nível de investimento para levar a produção até eles", o que, segundo ele, impacta diretamente o agronegócio e a indústria do Ceará.
Intermodalidade também reduz emissões
Além de benefícios operacionais, a intermodalidade é vista como peça-chave para reduzir emissões de gases de efeito estufa no transporte.
O modal rodoviário responde hoje por 98% das emissões do setor, segundo a Confederação Nacional do Transporte (CNT). “A intermodalidade é essencial para reduzir a emissão de carbono. Eficiência operacional é parte da mudança”, afirma Fernanda.
Trevisan reforça que a ferrovia se destaca pela menor emissão. “Uma ferrovia emite menos gás carbônico que qualquer outro modal e evita desperdícios, com economia de combustível”, diz.
A discussão também inclui medidas para modernizar o transporte rodoviário. Lilian Campos, da Infra SA, cita programas federais que bonificam empresas que renovam suas frotas pesadas e os avanços recentes em investimentos rodoviários.
Entre eles está o Programa Melhorar, lançado neste ano, com foco na redução de emissões e no estímulo à eficiência energética.