Empresária cearense vai de quase falência a crescimento do faturamento em 350% durante pandemia
Stephania Macedo, proprietária de uma clínica de estética, conseguiu expandir o negócio e abriu uma segunda unidade
A crise econômica desencadeada pela pandemia do novo coronavírus foi a gota d'água para pelo menos 25 mil negócios no Ceará que não resistiram e encerraram as atividades em 2020, segundo dados da Junta Comercial do Estado do Ceará (Jucec).
Mesmo fora da curva, uma pequena parcela de empreendedores conseguiu mudar o rumo e crescer em meio às adversidades, como é o caso de Stephania Macedo. Ela chegou a beirar a falência no início da pandemia, mas reverteu a situação e viu o faturamento da empresa crescer cerca de 350% a partir de outubro frente ao de antes do fechamento, patamar que ainda se mantém.
Proprietária de um complexo de estética, a empresária de 34 anos revela que nas duas semanas antes do Governo do Estado decretar suspensão das atividades não-essenciais em Fortaleza, no dia 20 de março, o fluxo de clientes já havia reduzido de forma considerável, iniciando uma preocupação que se agravou com o fechamento total do negócio.
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"Quando a gente fecha, aí bate o desespero maior. Porque para quem vive do comércio, que é o meu caso, ficar fechado era sinal de não se ter recebimento algum. Para quem vive do comércio, a gente vende para poder comer. A realidade é bem essa", aponta Stephania.
Ela revela que não tinha nenhuma reserva financeira para manter a família e os custos da clínica durante o período em que os atendimentos estavam suspensos. "Eu nunca tive reserva. A gente fechou e eu não tinha R$ 500. Foram duas semanas de choro, desespero e preocupação", destaca.
Renovação
Do negócio, a empresária garantia o sustento das duas filhas e dos pais, além dos cinco funcionários, na época. Ela aponta que ninguém do núcleo familiar conseguiu receber o auxílio emergencial, o que a obrigou a procurar alternativas de trabalho.
"Foi quando resolvi passar a fazer vendas de pacotes, tanto estéticos como de cabelo, com valores bem menores, sem margem alguma de lucro, para conseguir me manter e manter as pessoas que trabalhavam comigo. Demos descontos de quase 80%", conta Stephania.
Ela lembra que teve de procurar plataformas de pagamento online para possibilitar as vendas dos pacotes, que foram realizadas principalmente pelas redes sociais da clínica.
Com os abatimentos agressivos, os consumidores aproveitaram a oportunidade e alavancaram as vendas, mesmo sem saber ainda quando seriam atendidos. Enquadrada como serviço prioritário, a clínica pôde reabrir já no início do plano de retomada das atividades, em 1º de junho.
"Tudo foi recebido e rateado com as pessoas que trabalhavam. Foi assim que a gente conseguiu se manter, eu não precisei dispensar ninguém, que era uma das minhas preocupações. Foi pensar não só em mim, mas nas pessoas que trabalhavam comigo. A gente teve vários clientes que doaram cestas básicas para os meus profissionais", afirma a empresária.
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Retomada
Apesar das boas vendas durante o fechamento, a reabertura veio com novas preocupações: como atender todos os clientes que haviam comprado pacotes mantendo todos os protocolos. "O primeiro que fizemos foi mudar de local. A Biofirme funcionava em sala dentro da minha casa, e a primeira preocupação foi tirar de lá e mudar para um espaço e estrutura melhor, para poder atender com todo o cuidado".
Além de mudar o espaço da clínica, o aumento da demanda estimulou Stephania a abrir uma segunda unidade e gerou novos 35 empregos diretos e indiretos. "Saímos do atendimento de 25 clientes diárias para 192 pessoas por dia só na Aldeota. É algo surreal", ressalta.
"A gente para e pergunta: como foi que, enquanto muitas pessoas fecharam, a gente conseguiu esse crescimento? O que muito ajudou foi as pessoas pensarem que passaram três meses em casa, com autoestima baixa, só assistindo live e comendo", explica.
Com o novo lockdown decretado em Fortaleza, a empresária indica que a situação da empresa é completamente diferente daquela enfrentada no ano passado. Com o crescimento das vendas, a Biofirme tem reservas financeiras para manter os custos, incluindo a folha de pagamento dos funcionários, por 60 dias. "Se Deus quiser, não vamos precisar dispensar ninguém", afirma Stephania.
"O que a pandemia veio me ensinar, tanto como empreendedora como pessoa, é que preciso muitas vezes parar. E que a gente não é forte o suficiente que nada faça com que a gente pare. A gente precisa ter paciência para muita coisa, existem sim horas de parar, horas de você ter que planejar, pensar o que vai fazer", avalia.